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Moradores protestam contra remoções em terreno da Aeronáutica no Rio

Vinicius Lisboa – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 08/07/2015 - 14:22
Rio de Janeiro
 Eliana de Castro, 43, que teve sua casa demolida no dia 02/07/15, protesta contra as remoções que estão sendo realizadas após ação movida pela Aeronáutica(Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Em vez de tirar pessoas das ruas, estão colocando mais gente nas ruas, reclama Eliana de Castro, que está na casa da vizinhaTânia Rêgo/Agência Brasil

Moradores da localidade Rádio Sonda fizeram um protesto na manhã de hoje (8) contra remoções que começaram na semana passada, após a Justiça determinar a reintegração de posse do terreno, pertencente à Aeronáutica. A área faz parte da Vila Militar do Galeão, na Ilha do Governador, e é habitada por cerca de 100 famílias há décadas.

Na quinta-feira passada, duas famílias foram removidas e uma casa chegou a ser demolida, três horas após a chegada do oficial de Justiça com a ordem de despejo. Eliana de Castro, de 43 anos,  viveu toda a vida na residência, onde morava com a filha e o irmão, que sofre de esquizofrenia. Quando a família dela se mudou, era uma quitinete, que foi sendo ampliada ao longo dos anos por meio de obras em que a própria Eliana trabalhou ajudando a carregar material.

"Em vez de tirarmos os moradores de rua [das ruas], estamos colocando mais pessoas na rua? Que sociedade é essa?", questionou Eliana, que está morando de favor na casa de uma vizinha, onde também estão seus móveis. "Tirei o máximo que eu pude tirar. Não consegui tirar o tanque, nem a pia inox nem a louça do banheiro. Não deu".

O terreno ao lado do de Eliana, onde há uma residência geminada em que vivem três famílias, tinha a reintegração de posse marcada para hoje. Enquanto ocorria o protesto, a família de Ana Lúcia Fernandes retirava os últimos móveis para levar para a casa de um vizinho.

"Nossas coisas não foram arrumadas como em uma mudança. Nossas roupas foram em sacos de lixo", disse Ana Lúcia, cuja mãe tem 76 anos, é hipertensa e morava na casa ao lado. "Minha mãe tem bisnetos aqui. Os filhos tiveram filhos, e os netos tiveram filhos."

O presidente da associação de moradores, Silvio Roza, também foi expulso de casa na semana passada. Depois que sua família deixou a casa em que morava há 30 anos, a Aeronáutica pintou o muro de branco e azul, com o aviso "área militar".

"Deveriam ter chegado na minha casa, notificado e dado um prazo. Foi uma coisa vergonhosa", criticou Silvio, que afirmou ter recebido a casa da própria Aeronáutica, por ela ser considerada inviável para reformas. Segundo ele, outros moradores tinham autorização para morar no local e chegaram a pagar contas como a do consumo de água. Moradores antigos afirmam que chegaram à área antes da construção da Vila Militar e não foram impedidos de fazer obras no local.  

O prefeito de Aeronáutica do Galeão, coronel Fernando de Oliveira, explicou que os processos foram iniciados em 1998 e que a decisão que permite a reintegração é do ano passado. Ele disse que a prefeitura desconhece qualquer autorização para que a área fosse habitada. "O terreno é da União, independentemente da Vila Militar. Não há dúvida quanto a isso. E o que é da União não pode ser ocupado por particulares", disse o militar. "A decisão é da Justiça, não posso discutir a decisão. Só posso cumprir."

Segundo o coronel, as casas avaliadas como em condições poderão ser transformadas em moradias funcionais para os militares. A área é considerada estratégica pela força. Apesar disso, não foi especificado se há projeto para o uso do terreno.