Moradores protestam contra remoções em terreno da Aeronáutica no Rio
Moradores da localidade Rádio Sonda fizeram um protesto na manhã de hoje (8) contra remoções que começaram na semana passada, após a Justiça determinar a reintegração de posse do terreno, pertencente à Aeronáutica. A área faz parte da Vila Militar do Galeão, na Ilha do Governador, e é habitada por cerca de 100 famílias há décadas.
Na quinta-feira passada, duas famílias foram removidas e uma casa chegou a ser demolida, três horas após a chegada do oficial de Justiça com a ordem de despejo. Eliana de Castro, de 43 anos, viveu toda a vida na residência, onde morava com a filha e o irmão, que sofre de esquizofrenia. Quando a família dela se mudou, era uma quitinete, que foi sendo ampliada ao longo dos anos por meio de obras em que a própria Eliana trabalhou ajudando a carregar material.
"Em vez de tirarmos os moradores de rua [das ruas], estamos colocando mais pessoas na rua? Que sociedade é essa?", questionou Eliana, que está morando de favor na casa de uma vizinha, onde também estão seus móveis. "Tirei o máximo que eu pude tirar. Não consegui tirar o tanque, nem a pia inox nem a louça do banheiro. Não deu".
O terreno ao lado do de Eliana, onde há uma residência geminada em que vivem três famílias, tinha a reintegração de posse marcada para hoje. Enquanto ocorria o protesto, a família de Ana Lúcia Fernandes retirava os últimos móveis para levar para a casa de um vizinho.
"Nossas coisas não foram arrumadas como em uma mudança. Nossas roupas foram em sacos de lixo", disse Ana Lúcia, cuja mãe tem 76 anos, é hipertensa e morava na casa ao lado. "Minha mãe tem bisnetos aqui. Os filhos tiveram filhos, e os netos tiveram filhos."
O presidente da associação de moradores, Silvio Roza, também foi expulso de casa na semana passada. Depois que sua família deixou a casa em que morava há 30 anos, a Aeronáutica pintou o muro de branco e azul, com o aviso "área militar".
"Deveriam ter chegado na minha casa, notificado e dado um prazo. Foi uma coisa vergonhosa", criticou Silvio, que afirmou ter recebido a casa da própria Aeronáutica, por ela ser considerada inviável para reformas. Segundo ele, outros moradores tinham autorização para morar no local e chegaram a pagar contas como a do consumo de água. Moradores antigos afirmam que chegaram à área antes da construção da Vila Militar e não foram impedidos de fazer obras no local.
O prefeito de Aeronáutica do Galeão, coronel Fernando de Oliveira, explicou que os processos foram iniciados em 1998 e que a decisão que permite a reintegração é do ano passado. Ele disse que a prefeitura desconhece qualquer autorização para que a área fosse habitada. "O terreno é da União, independentemente da Vila Militar. Não há dúvida quanto a isso. E o que é da União não pode ser ocupado por particulares", disse o militar. "A decisão é da Justiça, não posso discutir a decisão. Só posso cumprir."
Segundo o coronel, as casas avaliadas como em condições poderão ser transformadas em moradias funcionais para os militares. A área é considerada estratégica pela força. Apesar disso, não foi especificado se há projeto para o uso do terreno.