Ato em São Paulo lembra 11 anos do massacre de moradores de rua na Praça da Sé

Publicado em 19/08/2015 - 18:29 Por Flávia Albuquerque - Repórter da Agência Brasil - São Paulo

O Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua foi marcado hoje (19) por um ato para lembrar os 11 anos da chacina de moradores de rua na Praça da Sé, região central da capital paulista, quando dez pessoas foram atacadas enquanto dormiam.

Das pessoas atacadas, duas morreram na hora, quatro no hospital e quatro sobreviveram. Em 22 de agosto, houve novo ataque, quando cinco desabrigados foram agredidos da mesma maneira que os anteriores e um morreu na hora.

Segundo as investigações, os crimes ocorreram para silenciar os moradores de rua que sabiam do envolvimento de policiais nos esquemas de tráfico de drogas da região. Na época, um segurança particular e seis policiais militares foram denunciados. Três soldados foram presos, mas soltos no mesmo ano por falta de provas.

Os episódios ficaram conhecidos como Massacre da Sé e, segundo o representante do Movimento Nacional da População de Rua, Sebastião Nicomedes de Oliveira, mesmo tanto tempo depois ainda não houve punição para os responsáveis. “O problema continua, a violência continua. Então, estamos mostrando que não esquecemos, porque essas pessoas não podem ter morrido em vão. Os moradores de rua continuam sofrendo perseguições, morrendo sem atendimento. O massacre não acabou.”

Dados do Disque Direitos Humanos (100), serviço de utilidade pública da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República mostram que, entre 2012 e 2013, houve um aumento de mais de 40% no número de denúncias de violência contra os moradores de rua. O tipo de violação mais recorrente é a negligência, seguida da violência psicológica e física.

Para assegurar o acesso da população em situação de rua aos serviços públicos nas áreas da saúde, assistência social, trabalho e segurança pública, foi instituída a Política Nacional para a População em Situação de Rua. Ela define os princípios, diretrizes e objetivos no atendimento a essa população, sempre com finalidade de fortalecer a proteção aos direitos humanos.

Ainda para marcar a data, o secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Eduardo Suplicy, participou do anúncio do vencedor de um concurso para a criação do Marco em Respeito à População em Situação de Rua, que será instalado na Praça da Sé. A obra será aplicada em uma placa de pedra granito.

“Este é um ato de memória, homenagem e reflexão sobre a condição dos moradores de rua para que possamos tomar as medidas necessárias para garantir dignidade, respeito, melhores oportunidades para conseguirem moradia atendimento de saúde e encaminhamentos possíveis ao trabalho. Precisamos tomar medidas urgentes para garantir isso”, disse Suplicy.

O autor da obra escolhida é um ex-morador de rua de 20 anos, Deverson Max das Dores, que foi estimulado a participar do concurso pela assistente social da casa de acolhimento onde está. “Eu quis representar as pessoas que foram mortas no massacre e mostrá-las parados na Sé em um dia normal deles”, explicou Deverson.

O rapaz contou que viveu nas ruas durante duas semanas, no final de 2014, após sair de casa por causa de repetidas brigas com a mãe. O período foi suficiente para que ele sentisse as dificuldades e o preconceito e decidisse mudar de vida. “Eu aprendi a ser mais humilde e a querer o bem das outras pessoas”, diz ele. Agora, Deverson está matriculado na escola para concluir o ensino médio, deve começar a trabalhar em breve e planeja estudar para ser roteirista de televisão. 


Fonte: qu

Edição: Jorge Wamburg

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