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Polícia admite que alteração da cena de crime por PMs abala imagem das UPPs

Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 30/09/2015 - 00:17
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro - O major da Polícia Militar Ivan Blaz fala sobre vídeo que policiais militares da UPP do Morro da Providência aparecem forjando um auto de resistência na morte de um menor (Fernando Frazão/Agência Brasil)
© Fernando Frazão/Agência Brasil
Rio de Janeiro - O major da Polícia Militar Ivan Blaz fala sobre vídeo que policiais militares da UPP do Morro da Providência aparecem forjando um auto de resistência na morte de um menor (Fernando Frazão/Agência Brasil)

O major da Polícia Militar Ivan Blaz fala sobre vídeo que policiais militares da UPP do Morro da Providência aparecem forjando um auto de resistência na morte de um menorFernando Frazão/Agência Brasil

O porta-voz das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) da Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro, major Ivan Blaz, disse nesta terça-feira (29) que a imagem desse projeto da segurança pública foi abalada pelas cenas gravadas em um celular e divulgadas nas redes sociais, em que quatro policiais militares, depois de balearem um rapaz de 17 anos, modificam a cena do crime para forjar um auto de resistência, no Morro da Providência, na região central do Rio.

O vídeo mostra os PMs colocando uma arma na mão de Eduardo Felipe Santos Victor, que morreu no local. De acordo com o major Blaz, “nossa obrigação maior é dar a devida resposta à sociedade. A desvio de conduta, não cabe explicação: cabe punição. Ela vai ser tomada imediatamente, para que possamos restabelecer a vida rotineira nessas comunidades e para que não percamos tudo aquilo que foi construído sob duras penas”.

Os quatro PMs foram ouvidos na 4ª Delegacia de Polícia, próxima do morro, e em seguida levados para a 8ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar. Segundo Blaz, em casos semelhantes, os policiais envolvidos acabaram expulsos da corporação.

Do lado de fora da delegacia, onde o porta-voz conversava com a imprensa, moradores da Providência protestavam contra a polícia e a UPP. “Nós estamos revoltados. O garoto tinha mãe e tinha pai. Foi execução o que os policiais fizeram. Eu quero justiça. Hoje só houve isso porque teve a gravação, caso contrário, eles ficariam impunes”, disse uma ajudante de cozinha, que mora há 34 anos na comunidade.

Alguns moradores confessaram que têm medo de denunciar abusos provocados por policiais, com receio de sofrerem algum tipo de represália. “Depois que vocês [imprensa] vão embora, quem sofre é a gente que fica aqui dentro. A gente desce o morro de madrugada para trabalhar. Como nós vamos ficar?”, desabafou uma dona de casa, moradora há 32 anos na comunidade."

O vídeo gravado com celular mostra quando um policial pega uma arma, coloca na mão de Eduardo e dá dois tiros para cima. Nas imagens, o jovem aparece caído no chão, ensanguentado, e aparentemente já morto.

Quando os policiais deixavam a delegacia, dentro de viaturas da PM, os moradores protestaram, o que levou a polícia a disparar bombas de gás contra o grupo, causando tumulto e correria no local.

O advogado Rodrigo Mondego, especializado na defesa dos direitos humanos e atuante nas manifestações de rua, esteve na delegacia e disse que a alteração na cena do crime é um fato que sempre ocorreu, mas que agora ficou comprovado: "Isso mostra algo que é corriqueiro, que todo mundo sempre soube, que sempre houve esse método. Hoje, sendo filmado, foi uma aula prática de como se faz uma auto de resistência e como se forja a morte de pessoas".

A Secretaria de Estado de Segurança (Seseg) se manifestou em nota sobre o assunto: "O secretário de Estado de Segurança, José Mariano Beltrame, repudia atos como esse. Ele determinou rigor nas investigações com punição exemplar dos responsáveis".

Matéria alterada às 7h55 do dia 30/09/2015 para acréscimo de informações