Brasil registra mais de 300 espécies da flora por ano
O Brasil tem, atualmente, 46.097 espécies de plantas, fungos e algas conhecidos. De acordo com a atualização da Lista de Espécies da Flora do Brasil, publicada em dezembro do ano passado pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o país registra, em média, 334 novas espécies da flora a cada ano.
“A atualização é constante, diária porque, como é online, os cientistas entram e atualizam os dados e, automaticamente, disponibilizam para o público”, disse a botânica e pesquisadora Rafaela Campostrini Forzza, coordenadora da Lista de Espécies da Flora do Brasil. São quase 600 cientistas brasileiros e estrangeiros trabalhando em rede para atualizar os dados com novas descobertas de espécies ou mudança de nomes de plantas.
As orquídeas são a família de plantas com maior número de espécies, distribuídas por quatro dos seis biomas brasileiros. “Dependendo do bioma, uma família ganha da outra devido às características de cada família de planta”, explicou a coordenadora.
Lista virtual
A primeira edição online da Lista de Espécies da Flora do Brasil foi publicada em 2010, como meta da Convenção da Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é signatário. Em 2015, a lista foi atualizada. A lista serve para consulta de pesquisadores, que analisam os dados e contribuem com artigo ou livro sobre o tema. Foram convidados especialistas em diferentes famílias de plantas para integrarem o grupo de cientistas responsável por atualizar a lista da flora brasileira, sob a coordenação do Jardim Botânico. “Na verdade, é um grande trabalho de equipe. Jamais uma instituição sozinha conseguiria fazer isso”, disse.
A lista é a base do projeto Flora do Brasil Online (FBO 2020) que integra o World Flora Online (WFO ou Flora do Mundo Online, em tradução livre), publicação virtual que reunirá informações sobre todas as plantas conhecidas do mundo até 2020. Segundo Rafaela Forzza, os pesquisadores esperam terminar em 2019 as contribuições à lista, e fazer os ajustes finais de editoração no ano seguinte. O trabalho será lançado simultaneamente em todos os jardins botânicos do mundo que participam da rede.
Até o momento, o Brasil aparece como o país com o maior número de espécies da flora. Em seguida, estão China, África do Sul e Estados Unidos. A Mata Atlântica é o bioma com maior diversidade no Brasil.
A presidenta do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Samyra Crespo, destacou que, em média, são registrados 1 milhão de acessos mensais na base de dados do projeto. "Pode estar em qualquer lugar do mundo. Sendo estudante ou pesquisador, basta se logar e se identificar e pode acessar”.
Outro projeto é o repatriamento de plantas brasileiras levadas por naturalistas nos séculos 18 e 19. “E elas vêm em forma virtual, em 3D, imagens de alta resolução, que podem ser consultadas por qualquer pesquisador, em qualquer lugar do mundo, inclusive no Brasil”. Até o final de 2015, o acervo tinha 1,250 milhão de exsicatas (amostra de planta seca e prensada numa estufa) digitalizadas de alta resolução.
Amazônia
Segundo Rafaela Forzza, conhecer a flora da Amazônia ainda é um grande desafio e necessita de "um projeto de nação". “A flora é muito mal conhecida, historicamente, e a gente não vence esse problema. Esse desbalanço de conhecimento em relação aos outros biomas é muito evidente. A gente tem que acreditar que a Amazônia ainda é um buraco de conhecimento. Ainda está no século 19 de conhecimento, enquanto o resto do país já avançou muito”, lembrando que a Amazônia Legal corresponde a 50% do território nacional.
O tamanho da floresta e a dificuldade de acesso reforçam a dificuldade. “Não é meia dúzia de cientistas que vai conseguir vencer isso. É preciso um projeto de governo, de país, para conseguir melhorar esse conhecimento”.
Crise econômica
Ao divulgar balanço de 2015, apesar da crise econômica, a presidenta do Jardim Botânico destaca a conclusão do projeto de identificação de novas plantas da Amazônia, a atualização da lista de espécies ameaçadas e lançamento dos planos territoriais de recuperação de espécies. “Mais de 300 espécies podem ser recuperadas. Em termos da ciência, não tivemos nenhum prejuízo”. No ano passado, também foram recuperadas esculturas do Mestre Valentim, considerado o Aleijadinho do Rio de Janeiro.
Segundo Samyra Crespo, para reduzir o impacto dos cortes, a instituição buscou parcerias privadas e otimizou custos, como a adoção do sistema de aspersão para regar os canteiros, o que significou em 30% de economia com água e adesão ao sistema de compras públicas. No entanto, a presidenta reconhece que alguns impactos da crise serão conhecidos somente no final deste ano ou em 2017.
O orçamento para 2016, que era de R$ 20 milhões, foi cortado no início do ano para R$ 18 milhões, mesmo patamar de 2013. “Temos menos para pagar mais”, disse a presidenta, em referência à repactuação de salários dos servidores.
Projetos
A presidenta aposta nos Jogos Olímpicos, que deverão aumentar o fluxo de visitantes, atualmente em 1 milhão por ano. Pensando no evento esportivo, o Jardim Botânico vai investir em acessibilidade para pessoas com deficiência, idosos, grávidas e pessoas com dificuldade de locomoção. Será revitalizado um dos canteiros mais antigos do jardim, que é o Canteiro Amazônico.
A ação será feita em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA) e tem conclusão prevista para junho, além do projeto de enterramento de fios elétricos dos postes, em conjunto com a distribuidora Light. A presidenta disse que o projeto faz parte do reconhecimento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) do Jardim Botânico como parte da paisagem cultural do Rio de Janeiro. “Esses são os dois carros-chefe em 2016”, disse Samyra Crespo.
Na área da ciência, os projetos são a conservação de formações coralíneas, com o monitoramento da região de Abrolhos (BA) e outros recifes de corais, com financiamento da empresa Brasoil; e o inventário florestal do estado do Rio de Janeiro, em parceria com o Serviço Florestal Brasileiro.
Em 2016, o jardim deve lançar o primeiro programa de geração de renda para mulheres de baixa renda, chamado Recicla Biju.