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Israel deu "passo em falso" ao indicar embaixador, diz assessor da presidência

Luciano Nascimento - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 19/01/2016 - 21:54
Brasília

O assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse hoje (19) que Israel deu um “passo em falso” ao indicar o diplomata Dani Dayan para o cargo de embaixador no Brasil. A indicação causou polêmica pelo fato de Dayan ser morador da Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel desde 1967, e ser contrário à criação de um Estado Palestino.

O Brasil é formalmente contra as ocupações judaicas em territórios palestinos. Segundo Garcia, Israel não respeitou a convenção diplomática de mandar as credenciais do candidato a embaixador para que o país anfitrião analise antes de conceder o agrément, autorização para que um nome proposto por um país possa chefiar a missão diplomática em outro. É praxe na diplomacia que, antes de um país solicitar o agrément, o currículo da pessoa indicada seja analisado para evitar constrangimentos futuros.

Brasília - Entrevista com o ministro chefe da Assessoria Especial da Presidência,Marco Aurélio Garcia (Wilson Dias/Agência Brasil)

Em entrevista ao programa Espaço Público, da TV Brasil, Marco Aurélio Garcia comentou a situação de Israel e instabilidades na América LatinaArquivo/Wilson Dias/Agência Brasil

“Eu acho que foi um passo em falso dado pelo governo de Israel. Em primeiro lugar, ao romper uma regra diplomática que não é uma frivolidade, é um procedimento que corresponde à gravidade que as relações internacionais têm: isto é, antes de pedir o agrément ao embaixador, noticiar publicamente”, disse Garcia em entrevista ao programa Espaço Público, da TV Brasil.

Para Garcia, a política externa israelense está sendo influenciada por componentes ideológicos que estão dificultando a formulação de relações internacionais mais respeitosas. “O caso era que ele [Dayan] tem condições muito marcadas em dois temas caríssimos para a politica externa brasileira e para a política internacional, que são os assentamentos [judeus em territórios palestinos], condenados pela imensa maioria dos países das Nações Unidas e inclusive por nós, e o fato de que ele se opõe a formação de um Estado Palestino”, completou.

Erro diplomático
Segundo o assessor da Presidência, a indicação de Dayan veio na esteira das ações do Exército Israelense nos territórios ocupados da Palestina e do episódio em que, após o Brasil protestar contra presença das forças israelenses na Cisjordânia, um funcionário da diplomacia de Israel ter chamado o país de “anão diplomático”.

“Naquela ocasião houve uma reação desproporcionada e grosseira de um funcionário de terceira ou quarta categoria que disse que o Brasil era um país irrelevante, um anão diplomático. A ação foi tão desastrosa que o presidente de Israel teve que ligar depois para a presidenta Dilma [Rousseff] para se desculpar”, lembrou.

Um dos formuladores da política externa brasileira desde o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando assumiu a chefia da Assessoria Especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Garcia negou que o episódio tenha desencadeado uma “queda de braço” com Israel.

“Não há uma queda de braço com um país amigo como Israel, com o qual a politica externa brasileira tem grandes vínculos antes mesmo do surgimento do Estado de Israel”.

Desde o final dezembro, quando o então embaixador israelense Reda Mansour deixou Brasília, o país está sem chefe da diplomacia no Brasil. Na semana passada, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reafirmou que Dayan é o indicado para o cargo.

A indicação de Dayan também foi criticada pelo corpo diplomático brasileiro. No início do mês, um manifesto assinado por 40 embaixadores criticou a forma como Netanyahu conduziu a indicação do novo embaixador no Brasil. Para os diplomatas, foi “inaceitável” que o nome dele tenha sido anunciado publicamente antes de ser submetido ao governo brasileiro.

Crise e América Latina
Durante o programa, Garcia também comentou a situação da América Latina que, segundo ele, tem sofrido com a crise econômica mundial desde 2008, o que tem afetado a estabilidade política da região. Depois de 2010, segundo ele, a “marolinha” - expressão usada por Lula para definir a crise –  ganhou volume e se transformou em uma onda mais forte.

“Se até 20120, 2011, os países emergentes, entre eles os da América do Sul, eram motores do crescimento mundial, porque os países desenvolvidos passaram a perder seu peso, a partir desse efeito retardado da crise mundial aqui, nós passamos a ter efetivamente uma diminuição do impacto das nossas economias”, avaliou.

Ao tratar da crise política na Venezuela, Garcia disse que o Brasil tem tido uma postura ativa na defesa de uma saída democrática para o impasse no país vizinho, aprofundado pelas dificuldades econômicas. “Hoje, o problema da democracia na Venezuela está nas mãos de dois atores: governo e oposição. Os dois têm que se entender no sentido de saber preservar as instituições para que esta crise possa ter uma boa solução”.

Garcia disse que o Brasil vai seguir defendendo a manutenção da institucionalidade no caso venezuelano. “Se houver uma solução fora da Constituição será uma tragédia, inicialmente para o povo venezuelano, e, em segundo lugar, para o Brasil, que tem fronteira e interesses econômicos na Venezuela, em terceiro lugar será algo desastroso para o Mercosul e Unasul [União de Nações Sul-Americanas]”, disse.