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Portugal: cooperativa distribui alimentos que não atendem a padrões do mercado

Até cinco toneladas são entregues por semana a moradores de Lisboa e
Marieta Cazarré – Correspondente da Agência Brasil
Publicado em 17/05/2016 - 06:15
Portugal
Planaltina/DF - Estrangeiros conhecem experiência brasileira de distribuição de alimentos, desenvolvidas pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)  (Antonio Cruz/Agência Brasil)
© Antonio Cruz/Agência Brasil

Uma cooperativa em Portugal vem distribuindo frutas, legumes e verduras fora do padrão exigido pelo mercado e hoje já faz a entrega de até cinco toneladas por semana a moradores de Lisboa e do Porto. O objetivo é evitar o desperdício. Outra iniciativa é a Zero Desperdício - Portugal não pode se dar ao lixo, que aproveita alimentos que seriam jogados fora e que até agora já serviu quase 3 milhões de refeições.

A União Europeia (UE) registra anualmente perda de 89 milhões de toneladas de alimentos, o que equivale a 179 quilos de comida por habitante perdidos a cada ano, segundo relatório do governo português sobre o desperdício alimentar. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), estima-se que, na Europa, sejam desperdiçados entre 30% e 50% dos produtos ao longo de toda a cadeia alimentar até chegar ao consumidor.

Em Portugal, o desperdício representa 17% da produção alimentar anual, um valor aproximado de cerca de 1 milhão de toneladas. No entanto, há iniciativas no país para reduzir esse número, como é o caso da Cooperativa Fruta Feia, que tem como objetivo canalizar parte da produção de frutas e hortaliças, que seriam desperdiçadas por estar fora dos padrões exigidos pelos supermercados, para os consumidores que não julgam a qualidade pela aparência. Os mercados não costumam aceitar produtos que não têm o aspecto perfeito em termos de cor, formato e tamanho.

De acordo com Isabel Soares, uma das mentoras da Cooperativa Fruta Feia, a ideia surgiu no fim de 2012, depois de ver alguns documentários e ler artigos sobre o tema. “Percebi que havia um enorme desperdício alimentar devido à aparência - cerca de 30% do que é produzido pelos agricultores na Europa. A ideia da Fruta Feia surgiu assim, naturalmente, como um meio de resposta ao problema, uma necessidade, uma maneira de canalizar os produtos hortifrutícolas rejeitados por meras razões estéticas”, afirmou. O lema da cooperativa é "Gente bonita come fruta feia".

Isabel conta que à época vivia em Barcelona e estava ocorrendo em Portugal o concurso FAZ – Ideias de Origem Portuguesa, dirigido a portugueses que vivem no estrangeiro e têm ideias de projetos para o país. “Essa foi a motivação necessária para começar a transformar a ideia da Fruta Feia num projeto que efetivamente funcionasse. Em junho de 2013, ganhei o segundo prêmio desse concurso que, juntamente com uma campanha de crowdfunding  [financiamento coletivo], permitiu o lançamento do projeto em novembro de 2013”.

Segundo Isabel, a distribuição das frutas e hortaliças é feita semanalmente, a partir da visita a produtores locais, que separam nas suas hortas e pomares os produtos pequenos, grandes ou disformes que não conseguem escoar. São feitas cestas com os produtos da estação para que os 1.000 associados (800 em Lisboa e 200 no Porto) recolham em diferentes pontos da cidade. As cestas pequenas custam 3,5 euros, pesam entre 3 e 4 quilos e vêm com 7 variedades de produtos. As cestas grandes custam 7 euros, pesam entre 6 e 8 quilos, e vêm com 8 variedades de frutas e hortaliças.

Já são 96 agricultores envolvidos no projeto que distribui, entre outros produtos, ameixa, amora, laranja, limão, maça, mirtilo, kiwi, romã, alho, coentro, cebolas, batatas, feijão, pepino e tomate. A cooperativa evita que cerca de 5 toneladas de produtos sejam jogadas fora a cada semana.

De acordo com estudo da FAO feito em 2011, em Portugal 360 mil pessoas passam fome, 10% das emissões de gases de efeito estufa provêm da produção de alimentos que nunca irão ser consumidos, 50 mil refeições acabam diariamente no lixo dos restaurantes de todo o país e 20% dos resíduos (lixo) são consumidos.

A iniciativa Zero Desperdício – Portugal não se pode dar ao lixo, de combate ao desperdício alimentar,  recolhe em restaurantes, supermercados e hotéis refeições que não foram vendidas, cujo prazo de validade está perto de vencer ou que não foram expostas a clientes, e distribuir para pessoas que necessitem.

Ao aderir ao selo Zero Desperdício, os restaurantes separam o que iria para o lixo, embalam e encaminham para entidades participantes, que irão redistribuir às famílias necessitadas. De acordo com Diogo Lorena, gestor do projeto, já foram distribuídas quase 3 milhões de refeições por meio desse projeto.

Segundo a Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome, apenas em 2015 mais de 420 mil pessoas foram beneficiadas por campanhas de distribuição de alimentos, por meio de mais de 2.500 instituições cadastradas nos bancos alimentares em atividade.

A FAO projeta que, em 2050, a população mundial estará próxima de 9 bilhões de habitantes. Essa previsão de crescimento demográfico e a necessidade de mais alimentos exigirão um aumento da produção de 70%, até 2050. Dessa forma, a redução do desperdício alimentar é fundamental em um mundo onde cerca de um sexto da população passa fome e 870 milhões de pessoas se encontram em estado de subnutrição, segundo dados da FAO.