Estudantes da USP pedem cotas, creches e moradia e mantêm ocupação de prédio

Publicado em 17/06/2016 - 16:06 Por Bruno Bocchini – Repórter da Agência Brasil - São Paulo

Estudantes da Universidade de São Paulo (USP) mantêm ocupado, desde a noite de ontem (16), um galpão na Cidade Universitária usado como depósito pela instituição. Os alunos reivindicam que a USP adote cotas para negros e indígenas, aumente o número de moradias estudantis, e creches.

A ocupação do depósito teve início, na noite passada, após ação em que a Polícia Militar (PM) lançou bombas de gás lacrimogênio e de efeito moral nos prédios e corredores do Conjunto Residencial da USP (Crusp), onde moram centenas de alunos.

Em assembleia na noite de quinta-feira no Crusp, os estudantes decidiram pela ocupação dos prédios dos blocos K e L, atualmente usados pelo setor administrativo da reitoria, mas que, no passado, serviam de moradia para os alunos. Eles tentaram arrombar a porta do edifício que dá acesso aos blocos, mas não conseguiram. Em seguida, começaram a atirar pedras para quebrá-la.

A PM chegou ao local e dispersou os estudantes das proximidades do bloco K e L. Apesar de já ter coibido a ocupação dos prédios, a polícia continuou a atacar com bombas e gás os alunos que se refugiaram no Crusp. De acordo com os estudantes, os policiais entraram nos edifícios de moradia estudantil e jogaram bombas e gás inclusive nos corredores e janelas dos apartamentos. Segundo os alunos, os prédios dos blocos F, G, E e D foram atingidos.

“Nunca tinha presenciado nada igual aqui no Crusp. Já vi ação da PM aqui dentro, mas, nessa intensidade, não. A fumaça do gás chegou até os primeiros blocos, onde as alunas que são mães vivem com as crianças”, disse uma estudante do curso de Letras, que mora há dois anos no bloco F do Crusp. Os alunos não permitiram que seus nomes fossem publicados, temendo represália.

De acordo com a Polícia Militar, ao tentar ocupar o prédio administrativo, os alunos danificaram um carro da Guarda Universitária e lançaram pedras contra os policiais militares.

“Estudantes tentaram invadir, por volta das 22h de quinta-feira (16), a administração central da Universidade de São Paulo. Eles danificaram um veículo utilizado pela guarda universitária e lançaram pedras contra os policiais militares, que utilizaram bombas de efeito moral”, disse a Secretaria de Segurança Pública, em nota. Segundo a secretaria, quatro estudantes foram detidos para averiguação e levados até o 91º Distrito Policial, onde foi registrado um boletim de dano qualificado e esbulho possessório. Todos já foram liberados.

Movimento Negro

Na tarde de ontem, alunos da USP que fazem parte do movimento negro ocuparam parte do prédio da reitoria, onde ocorria uma reunião do Conselho de Graduação, que discutia propostas de inclusão social na instituição. Os estudantes reivindicavam que o conselho incluísse em sua pauta a adoção de cotas para negros e indígenas na universidade. A USP não adota cotas raciais em seu vestibular.

“Precisamos derrubar os portões que impedem negros, indígenas e estudantes de baixa renda de estudar na Universidade de São Paulo. Todas as universidades federais brasileiras já têm política de cotas. E, pelo menos 30 das outras 36 universidades estaduais, desde 2003, reservam vagas como parte de uma política de inclusão social”, diz manifesto divulgado pelo movimento.

Após a ocupação, a reunião do conselho foi suspensa, e os alunos se dirigiram ao estacionamento da reitoria onde fizeram assembleia para decidir se permaneceriam ocupando o local. Na votação, eles decidiram encerrar a ocupação. Entretanto, em outra assembleia, realizada no Crusp com menor número de estudantes, eles resolveram ocupar os blocos K e L do conjunto, ação que foi coibida pela PM.

Reitoria defende ação policial

Em nota, a reitoria da USP disse que os alunos atacaram agentes da Guarda Universitária que faziam a segurança do local e que, ao tentar entrar nos blocos K e L, danificaram a entrada do edifício e uma viatura da guarda.

“Diante do descontrole e do risco postos pela situação, a Polícia Militar – um contingente que não incluiu integrantes da Polícia Comunitária – foi obrigada a intervir, contando com a autorização da reitoria e o respaldo de decisão judicial, a fim de garantir a integridade física dos agentes da Guarda Universitária e a preservação do patrimônio público", acrescenta a nota.

Segundo a reitoria, os manifestantes reagiram e passaram lançar pedras e outros objetos em direção à PM, que "tomou as providências exigidas pelas circunstâncias”.

“Apesar das agressões dos que dizem defender a inclusão social, mas que, na prática, sabotam as medidas que vêm sendo adotadas com este fim, a reitoria reafirma que seguirá firme nessa direção, promovendo medidas que propiciem a inclusão social na USP”, conclui o texto.

O texto foi ampliado às 17h33

Edição: Nádia Franco

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