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Com oferta de bolsas de estudo, faculdades privadas concentram medalhas no JUBs

Vinícius Lisboa - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 07/11/2016 - 21:54
Cuiabá
Judô feminino da UNIP-SP conquista cinco medalhas nos Jogos Universitários Brasileiros, em Cuiabá (MT)

Judô feminino da UNIP-SP conquista cinco medalhas nos Jogos Universitários Brasileiros, em Cuiabá (MT) Thiago Parmalat/Fotojump/CBDU

A primeira fase dos Jogos Universitários Brasileiros terminou ontem (6) e um balanço das mais de 200 medalhas distribuídas. Os números mostram a concentração dos pódios em poucos estados como São Paulo, que leva para casa 76.  Enquanto isso, 16 estados ainda não atingiram cinco medalhas.

A quantidade de pódios obtida pelos estados com melhor resultado também reflete um outro tipo de "concentração" de medalhas, dessa vez entre as instituições privadas. A Universidade Paulista (Unip) conseguiu cerca de 80% das vitórias paulistas. Algumas modalidades, como a natação, da qual vieram mais de 25 ouros da Unip, concentram ainda mais essa estatística.

"A Unip é uma faculdade muito forte. Eles têm um trabalho no esporte já há sete, oito anos, e isso vem se refletindo cada vez mais no JUBs", explica um dos coordenadores da delegação de São Paulo, Elder Gravalos. "O resultado não supreendeu. É um resultado que vem de um investimento das faculdades do estado de São Paulo e que é esperado".

Bolsas e incentivo

Na segunda fase do JUBs, em que competem os atletas dos esportes coletivos, a Unip vai representar o estado paulista em sete dos oito torneios femininos e masculinos de futsal, handebol, basquetebol e voleibol. Assim como outras instituições privadas, a universidade vem crescendo no quadro de medalhas por meio de bolsas oferecidas a atletas de alto rendimento, que são convidados a tornarem-se estudantes da universidade e precisam manter os treinos e resultados em dia para preservar os descontos na mensalidade.

"As faculdades não fazem a formação do atleta de alto rendimento. É muito difícil um cara que nunca jogou nada antes chegar na universidade e se tornar um grande jogador", explica Elder. 

Um dos estados com mais medalhas, Pernambuco tem outro exemplo de universidade privada que cresceu com a oferta de bolsas a atletas. A Universidade Maurício de Nassau (Uninassau) conquistou 20 das 21 medalhas do estado e dispõe de cerca de 300 atletas bolsistas em seu quadro de alunos.

Chefe de delegação da Federação Acadêmica Pernambucana de Esportes, Roberto de Melo Filho elogia a iniciativa: "O atleta vem da escola e teria um hiato, porque os clubes não fornecem essa continuidade [nos estudos]. Então, o desporto universitário preenche essa lacuna".

Outros estados têm uma distribuição diferente de suas medalhas. Waalmison Orlandi chefia a segunda delegação mais vitoriosa da primeira fase do JUBs 2016, a catarinense. Apesar do predomínio da Unisul, o resultado de Santa Catarina é mais distribuído entre outras instituições, que conseguem somar cerca de 40% das medalhas do estado.

"Esse resultado [da Unisul] é mais pela natação e judô. Nas coletivas, não teremos nenhum time da Unisul. Nosso estado é mais homogêneo em relação às regiões e não é tão concentrado na capital".

Orlandi, conhecido como Tita, explica que a concessão de bolsas também é uma realidade em Santa Catarina, mas muitas vezes são parcerias entre as universidades e as prefeituras que levam os atletas para o nível superior. "As prefeituras têm clubes e associações dentro dos municípios e buscam recursos e parcerias", diz ele, que explica que equipes de base são montadas nas cidades, e os atletas seguem para as universidades.

Sem medalhas

Acre, Roraima e Rondônia foram as únicas federações desportivas universitárias a não conquistar nenhuma medalha na primeira fase. Tocantins, Sergipe, Espírito Santo e Maranhão subiram ao pódio apenas uma vez.

A chefe de delegação de Rondônia, Silmara Gouveia, trouxe dois atletas para a primeira fase do JUBs e conta que eles competiram pela primeira vez no torneio deste ano. Desde que se agravou a crise econômica, ela viu instituições de ensino privadas cortarem bolsas para atletas em seu estado. Segundo ela, não falta estrutura, mas incentivo.

"A maioria dos que praticam esporte no meu estado são pessoas humildes", descreve a chefe de delegação, que aponta as dificuldades enfrentadas por sua delegação: "Eles trabalham o dia inteiro, estudam à noite e treinam de 23h a 1h, que é o horário que têm disponível", diz ela, que considera o JUBs um bom aprendizado  e uma oportunidade para instituições conhecerem boas práticas adotadas em outros estados.

Na Federação de Roraima, a chefe de delegação, Elaine Morelato, avalia a participação no JUBs como positiva, apesar de não ter obtido medalhas. Ela destaca que a federação conseguiu trazer 46 atletas para a primeira fase e mais 94 chegam para a segunda, somando a oitava maior delegação dos jogos."Considero extremamente positiva pela seriedade que os atletas tiveram aqui. Estamos disputando com atletas de alto nível no JUBs".   

Elaine explica que um problema de saúde afetou o desempenho de um de seus nadadores que tinha grande chance de medalha. Além disso, a ausência de algumas modalidades do atletismo fez com que boas apostas não viessem, e um lutador competitivo no judô acabou desclassificado na primeira fase. "A gente sempre vem para brigar por medalha".

*O repórter viajou a convite da organização dos Jogos Universitários Brasileiros