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Moradores da Cidade de Deus pedem mais diálogo com UPP

Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 21/11/2016 - 21:46
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro - Tropas da PM circulam na Cidade de Deus, após operação no fim de semana, com queda de helicóptero e pelo menos 11 mortes  (Fernando Frazão/Agência Brasil)
© Fernando Frazão/Agência Brasil
Rio de Janeiro - Tropas da PM circulam na Cidade de Deus, após operação no fim de semana, com queda de helicóptero e pelo menos 11 mortes (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Tropas da PM circulam na Cidade de Deus, após operação no fim de semana, com queda de helicóptero e pelo menos sete mortes Fernando Frazão/Agência Brasil

As últimas cenas de violência na Cidade de Deus são decorrentes de um desgaste do projeto da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), implantado na comunidade em 2009, sendo a segunda inaugurada no Rio. A queda de um helicóptero da PM, que causou a morte de quatro policiais, e a morte de sete pessoas suspeitas de tráfico durante confrontos, no último sábado (19), tornaram visível uma situação que vinha piorando há anos na comunidade.

A avaliação é de moradores e de lideranças comunitárias locais, que nesta segunda-feira (21), ainda estavam assustados com os confrontos dos últimos dias entre traficantes, PM e milicianos da vizinha Gardênia Azul.

“A UPP funcionou só até a página 3. Dentro do que está no papel, é uma coisa. A prática foi outra. O grande erro do Estado foi não querer dialogar com as bases cultural e social da comunidade. Acharam que o bom era o que vinha de fora. O projeto não é ruim. Ruim foi a execução do projeto. Precisa agora desenvolver uma ação social com aqueles que têm a vivência da comunidade, para podermos trabalhar o cidadão de amanhã”, disse Sérgio Leal, conhecido como DJ TR, que desenvolve um projeto de boxe e de hip-hop.

Para o produtor cultural Bruno Rafael, a UPP não trouxe o diálogo. “A realidade hoje é difícil. Essa guerra que não é nossa atinge pessoas comuns. É muito triste ver isso acontecendo. A gente fica no meio. Eles acham que vão pacificar, mas na verdade não está pacificando nada. Não procurou outras lideranças para dialogar e ver de que forma eles poderiam se inserir na cultura local. Estavam proibindo festas nas praças. Tem que refazer o projeto. A ideia foi boa, mas para melhorar tem que ter diálogo e saber qual o tipo de projeto que se insere aqui. Cidade de Deus tem um modelo, Complexo [do Alemão] tem outro, Babilônia tem outro e Rocinha tem outro”, disse.

O medo está fazendo com que alguns moradores queiram deixar a Cidade de Deus. “Eu moro há três anos na comunidade e pretendo sair daqui. Fiquei traumatizada com o que aconteceu neste final de semana, estou há três dias sem dormir, com medo. Para mim, a Cidade de Deus vai de mal a pior. Não acredito em UPP e nada que eles dizem que vão fazer em benefício da comunidade. Não deu certo, não dão assistência a ninguém nem respeito aos moradores”, disse uma moradora do Karatê, que pediu para não ser identificada. Ela trabalha como auxiliar de serviços gerais, mas atualmente está desempregada.

Procurado pela reportagem, o comando da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Cidade de Deus informou que está à disposição de todos os moradores que queiram auxiliar o trabalho dos policiais na comunidade. A coordenação das UPPs também disponibiliza o serviço de Ouvidoria Paz com Voz, principal canal de comunicação entre moradores e UPPs. O serviço recebe demandas pelo telefone 2334-7599 ou por meio do site ouvidoriaupp.com.br ou na Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), na Avenida Itaoca, nº 1.618, em Bonsucesso. Segundo a PM, o anonimato é garantido.