Moradores da Cidade de Deus pedem mais diálogo com UPP
As últimas cenas de violência na Cidade de Deus são decorrentes de um desgaste do projeto da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), implantado na comunidade em 2009, sendo a segunda inaugurada no Rio. A queda de um helicóptero da PM, que causou a morte de quatro policiais, e a morte de sete pessoas suspeitas de tráfico durante confrontos, no último sábado (19), tornaram visível uma situação que vinha piorando há anos na comunidade.
A avaliação é de moradores e de lideranças comunitárias locais, que nesta segunda-feira (21), ainda estavam assustados com os confrontos dos últimos dias entre traficantes, PM e milicianos da vizinha Gardênia Azul.
“A UPP funcionou só até a página 3. Dentro do que está no papel, é uma coisa. A prática foi outra. O grande erro do Estado foi não querer dialogar com as bases cultural e social da comunidade. Acharam que o bom era o que vinha de fora. O projeto não é ruim. Ruim foi a execução do projeto. Precisa agora desenvolver uma ação social com aqueles que têm a vivência da comunidade, para podermos trabalhar o cidadão de amanhã”, disse Sérgio Leal, conhecido como DJ TR, que desenvolve um projeto de boxe e de hip-hop.
Para o produtor cultural Bruno Rafael, a UPP não trouxe o diálogo. “A realidade hoje é difícil. Essa guerra que não é nossa atinge pessoas comuns. É muito triste ver isso acontecendo. A gente fica no meio. Eles acham que vão pacificar, mas na verdade não está pacificando nada. Não procurou outras lideranças para dialogar e ver de que forma eles poderiam se inserir na cultura local. Estavam proibindo festas nas praças. Tem que refazer o projeto. A ideia foi boa, mas para melhorar tem que ter diálogo e saber qual o tipo de projeto que se insere aqui. Cidade de Deus tem um modelo, Complexo [do Alemão] tem outro, Babilônia tem outro e Rocinha tem outro”, disse.
O medo está fazendo com que alguns moradores queiram deixar a Cidade de Deus. “Eu moro há três anos na comunidade e pretendo sair daqui. Fiquei traumatizada com o que aconteceu neste final de semana, estou há três dias sem dormir, com medo. Para mim, a Cidade de Deus vai de mal a pior. Não acredito em UPP e nada que eles dizem que vão fazer em benefício da comunidade. Não deu certo, não dão assistência a ninguém nem respeito aos moradores”, disse uma moradora do Karatê, que pediu para não ser identificada. Ela trabalha como auxiliar de serviços gerais, mas atualmente está desempregada.
Procurado pela reportagem, o comando da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Cidade de Deus informou que está à disposição de todos os moradores que queiram auxiliar o trabalho dos policiais na comunidade. A coordenação das UPPs também disponibiliza o serviço de Ouvidoria Paz com Voz, principal canal de comunicação entre moradores e UPPs. O serviço recebe demandas pelo telefone 2334-7599 ou por meio do site ouvidoriaupp.com.br ou na Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), na Avenida Itaoca, nº 1.618, em Bonsucesso. Segundo a PM, o anonimato é garantido.