Peritos são investigados por caso de foragido da PF encontrado morto em motel
A Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE) instaurou procedimento administrativo disciplinar contra os três peritos papiloscopistas – responsáveis por colher impressões digitais em cenas de crime – que atuaram no caso de Paulo César de Barros Morato, investigado pela Operação Turbulência encontrado morto em um quarto de motel, em Olinda, no dia 22 de junho. O motivo foi o impasse na solicitação de uma perícia complementar no local onde o empresário foi encontrado.
Morato era apontado como testa de ferro em um esquema de lavagem de dinheiro investigado pela Polícia Federal (PF) que teria movimentado mais de R$ 600 milhões desde 2010. A suspeita é que a organização tenha atuado no financiamento de campanhas do ex-governador de Pernambuco e ex-candidato à Presidência da República Eduardo Campos (PSB), morto em um acidente de avião durante a corrida presidencial.
Após encontrarem o corpo do empresário no motel, os peritos recolheram objetos no local para analisar se Morato havia sido assassinado. No entanto, não houve coleta de impressões digitais em toda a cena do crime. Na ocasião, o perito que atendeu ao chamado disse que não era possível realizar o trabalho sozinho, pediu o isolamento do quarto e uma perícia complementar para o dia seguinte. Quando dois outros funcionários voltaram para fazer o serviço, receberam a ordem de voltar porque o complemento não seria necessário.
Os três papiloscopistas agora serão investigados no processo aberto nesta terça-feira, conforme portaria da Corregedoria Geral da SDS-PE. Lauro José Macena dos Santos, que atendeu a ocorrência inicial, é acusado de ter “trabalhado incorretamente quanto à solicitação de manter o local isolado; quanto à necessidade de perícia complementar e possível comunicação do servidor em comento com a equipe que esteve no local de ocorrência no dia seguinte”, diz o texto.
Já os peritos Ricardo Freitas de Oliveira e Cícero Rubens Bandeira Fernandes, que foram até o local da morte no dia seguinte, são acusados de terem ido à cena do crime “de forma autônoma, sem comunicação a chefia imediata ou qualquer outra autoridade” e de terem realizado perícia complementar a prestado declarações “com o nítido propósito de prejudicar as investigações e macular a imagem da Secretaria de Defesa Social”.
Disputa
O presidente da Associação dos Peritos Papiloscopistas de Pernambuco (Appape), Carlos Eduardo Maia, criticou a abertura do procedimento disciplinar e disse que a medida é resultado de uma disputa interna entre as categorias de perito criminal e papiloscopistas e de perseguição. “A gente tem toda a tranquilidade, temos tudo documentado, de que ele [Lauro José Macena dos Santos] avisou sobre a perícia complementar. Essa briga de categorias já está se tornando um prejuízo para a sociedade”, criticou.
Em entrevista à imprensa na época do caso para dar uma resposta sobre o impasse na perícia, as autoridades presentes informaram que houve um erro de comunicação entre os profissionais que atenderam a ocorrência.
Na ocasião, Santos disse que fez um relatório sobre a necessidade de perícia complementar e reafirmou que avisou a delegada e a perita criminal sobre a demanda. A versão oficial, no entanto, é que o documento não foi enviado a todas as partes responsáveis. Mesmo assim, as autoridades disseram que o procedimento não seria útil porque a cena estava comprometida pela quantidade de gente que entrou no quarto antes que o morto fosse identificado como o empresário foragido. O inquérito da PC concluiu pelo suicídio de Morato.
“Se houve o erro, por que toda a equipe não é investigada, por que só o papiloscopista? Quem determina isolamento do crime é o delegado de polícia, o perito só comunica a necessidade. E não cabe dizer que não era necessário, o perito papiloscopista é quem vai dizer, depois, se as provas estavam comprometidas”, disse o presidente da Appape.
A associação fará a defesa dos papiloscopistas no processo e pretende entrar com pedido de investigação na Corregedoria Geral da Polícia Civil contra a gerente-geral da Polícia Científica. A entidade também estuda entrar com uma ação assédio moral na Justiça.
A Agência Brasil procurou a assessoria de comunicação da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, mas não obteve retorno até a publicação.