Ordem para invadir comunidade veio de presídio de fora do Rio, diz polícia
O comando da ação de traficantes para invadirem a comunidade da Cidade Alta, em Cordovil, zona norte do Rio, e para a queima de nove ônibus e dois caminhões veio de presídios federais localizados fora do estado. A informação foi divulgada nesta terça-feira (2) pelo chefe de Polícia, delegado Carlos Leba. Ele participou, ao lado do secretário estadual de Segurança, Roberto Sá, de coletiva de imprensa sobre o balanço da operação, que prendeu 46 pessoas e apreendeu 32 fuzis e seis pistolas.
“A invasão foi decidida de dentro da cadeia, com ordem para [presos] recém-saídos [executarem]. Quem determinou não é uma pessoa só. Faz parte de uma cúpula, e está preso, fora do estado. Consegue passar ordem para a ação de pessoas que saíram recentemente da cadeia”, revelou Leba.
O secretário Roberto Sá explicou que houve ordem para uma facção criminosa do Rio invadir e retomar a área da Cidade Alta, que já foi de seu controle no passado, perdida para integrantes do atual grupo criminoso rival. Segundo Roberto Sá, a operação policial foi exitosa, apesar de três policiais feridos, sem gravidade, e a morte de duas pessoas suspeitas de ligação com o tráfico.
“A Polícia Civil já identificou alguns mandantes do crimes. Eles serão indiciados, provavelmente denunciados e presos. Estão identificando pessoas que incendiaram os ônibus e fazendo o mapeamento das armas, uma a uma”, contou Sá.
Ele pediu uma legislação penal mais dura, classificando de “ridículas” as penas para quem porta fuzil ou queima ônibus. “A polícia precisa trabalhar sob a égide de uma legislação que imponha às pessoas noção da punição. É preciso que outros entes e poderes deem instrumentos para a polícia trabalhar. Eu falo de uma polícia que está sem receber o décimo-terceiro [salário], sem receber o sistema de metas e que vai completar um ano sem receber o RAS Olímpico [Regime Adicional de Serviço, hora-extra por trabalho na Olimpíada]”, disse Sá.
O secretário negou que criminosos de São Paulo estejam infiltrados territorialmente no Rio, mas admitiu que há interesse deles em vender armas para os grupos criminosos locais. Atualmente, segundo Sá, eles têm mais interesse em controlar a fronteira com o Paraguai, de onde vêm boa parte das drogas e das armas que entram no Brasil.
Forças Armadas
Sá admitiu também que poderá ser útil a ajuda federal, tanto por meio de apoio das Forças Armadas, como já ocorreu no passado, no controle de complexos de favelas, quanto no reforço da Polícia Rodoviária Federal (PRF), responsável pelo controle das rodovias que ligam o estado ao resto do país. Segundo ele, ainda é possível se resgatar o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), atualmente sob forte ataque de criminosos.
“A ideia é tentar salvar. Em benefício das pessoas de bem, que são grande maioria naquelas regiões. Admito que temos de rever [as UPPs]. Criamos um grupo de trabalho multidisciplinar, para fazer um diagnóstico de cada UPP. Para verificarmos os problemas e como podemos focar para resolver essas demandas. Em relação ao apoio das Forças Armadas, tivemos experiência no Complexo do Alemão e na Maré. [As Forças Armadas] ajudam, mas não resolvem”, disse Sá.
Sobre a operação de repressão da PM ao protesto de sexta-feira (28), durante a greve geral contra as reformas trabalhistas e da Previdência, o secretário reconheceu que algumas imagens geraram, por parte do comandante-geral, a instauração de procedimentos apuratórios imediato para avaliar a conduta dos agentes. “Nós trabalhamos sob o manto da legalidade, não admitimos excessos, mas também não vamos fazer vista grossa para eventuais crimes cometidos, inclusive pelos chamados black blocs”, disse Sá.