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Polícia investiga morte de torcedor após jogo entre Vasco e Flamengo

Akemi Nitahara - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 09/07/2017 - 17:18
Rio de Janeiro

A Delegacia de Homicídio (DH) foi acionada na noite de ontem (8) para investigar a morte de uma pessoa e mais três que sofreram ferimentos à bala que deram entrada no Hospital Souza Aguiar após confronto entre torcedores do Vasco e a Polícia Militar no entorno do Estádio do Vasco da Gama, conhecido como São Januário, em São Cristóvão, na zona norte do Rio de Janeiro. A confusão começou após o time perder para o Flamengo por 1 a 0 pela Série A do Campeonato Brasileiro.

Segundo a Polícia Civil, a delegacia foi acionada pelo policial do plantão do hospital e, imediatamente, uma equipe foi enviada ao local para fazer o levantamento das vítimas atingidas e iniciar as investigações. A Polícia Civil não confirmou a identidade das vítimas e informa também que “ainda será necessário saber de onde partiram os disparos, após ouvir os envolvidos como policiais, testemunhas e as vítimas sobreviventes”.

Não foi confirmado se os disparos foram feitos por policiais militares. “Neste momento, equipes da DH tentam obter imagens de câmeras da região para auxiliar na investigação”, diz a nota da Polícia Civil.

Segurança para jogo

A Polícia Militar informou que as ações da corporação no jogo começaram às 9h, em conjunto com a Secretaria Estadual de Ordem Pública (Seop), “para a repressão do comércio irregular na parte externa ao estádio”. Ao todo, foram designados 220 policiais na parte interna de São Januário e 200 na parte externa, além do apoio enviado ao final da partida.

Segundo a PM, o Vasco cumpriu com todas as obrigações previstas para a realização do jogo e também era o responsável pela revista de torcedores na entrada. A PM informa que “a torcida do Flamengo foi escoltada pelo Grupamento Especial de Policiamento em Estádios [Gepe] antes do início da partida e após o final do jogo”, sem a ocorrência de confrontos entre torcidas rivais dentro ou fora do estádio.

A PM afirma que a confusão começou ao final da partida, entre as torcidas organizadas do Vasco, e que isso é “recorrente” no local. “Assim que terminou o jogo e começaram os conflitos internos, o Batalhão de Polícia de Choque [BPChq] foi acionado para São Januário”, diz a PM, acrescentando que “a maior preocupação da Corporação era retirada das pessoas do estádio e o controle do tumulto provocado pelos torcedores”.

Garrafas e pedras

De acordo com a nota, policiais que estavam fora do estádio foram atacados com garrafas e pedras por torcedores do Vasco, “onde foi necessário a intervenção do BPChq, da Cavalaria e do 4ºBPM”. Após “tumulto generalizado” na Rua do Bonfim, que deixou um torcedor morto e três feridos, “a Corporação aguarda perícia e apuração por parte da Polícia Civil” e “o Comando da Corporação, por meio do 4ºBPM instaurou procedimento para apurar as condutas dos policiais”.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) confirmou que na noite de ontem chegou uma pessoa morta, com perfuração de projétil e sem identificação ao Hospital Municipal Souza Aguiar. A SMS informa também que mais três feridos por bala chegaram ao hospital, sendo que dois foram liberados e um permanece internado, atingido na coxa esquerda. Porém, a secretaria não confirma a relação dos feridos e do morto à ocorrência em São Januário.

Clubes

Em pronunciamento feito na noite de ontem, divulgado pelo site do clube às 23h, o presidente do Vasco, Eurico Miranda, pediu desculpas aos torcedores em nome do clube. “O que aconteceu aqui não é Vasco. Faço o pedido de desculpas em nome do Vasco, o que aconteceu aqui não tem nenhuma justificativa. Eu preciso deixar uma coisa bem clara, nós, como fazemos sempre, tomamos todas as providências para que o jogo pudesse transcorrer sem nenhum incidente”.

Miranda disse que São Januário tem todas as condições de segurança para receber grandes partidas de futebol e que a confusão foi premeditada por pessoas mal-intencionadas. “É algo que eu tenho certeza que já estava preparado, já vinha sendo feito para que, na primeira derrota que nós tivéssemos aqui em São Januário, isso viesse a acontecer, já houve uma tentativa no jogo do Corinthians. Uma série de fatores contribuíram para que no final a gente tivesse essa cena”.

Sem explicar o que seriam esses fatores, Miranda disse que durante a semana muito foi falado sobre rivalidade e oposição, no lugar de se exaltar a importância de um jogo clássico para o futebol do clube. “Estamos prontos para enfrentar qualquer problema que venha a surgir em função disso. Venha o que vier, o futebol vai e o Vasco vai seguindo os seus objetivos, sem dúvida”.

Em nota divulgada às 22h de ontem, o Clube de Regatas do Flamengo lamentou “a situação a que foram expostos” os profissionais, torcedores e a imprensa após a partida contra o Vasco. Segundo divulgado pela imprensa, os torcedores do Flamengo teriam sido mantidos dentro do estádio durante a confusão na área externa de São Januário. O clube também repudiou “todo e qualquer ato de violência dentro e fora dos estádios”.

“O Flamengo entrou em campo e venceu na bola. Agora, espera que todas as providências sejam tomadas para que um episódio desastroso como o de hoje [ontem] não se repita e que os marginais responsáveis sejam punidos. O futebol tem sido vítima constante da impunidade e da falta de sensibilidade de alguns dirigentes, que estimulam o ódio”.

Moradores

O estádio de São Januário recebeu na manhã de hoje (9) o jogo Vasco e Botafogo pela semifinal do Campeonato Carioca Sub-20, quando nada na área externa lembrava o ocorrido horas antes.

Morador da Comunidade Barreira do Vasco, Antônio Augustinho diz que o clima pela manhã estava tranquilo na região. “Hoje está a maior tranquilidade, flamenguista, vascaíno, fluminense, todo mundo junto e misturado. Era tão bonito se ontem tivesse sido assim, né? Era maravilhoso. Mas se tiver outro jogo assim, Vasco e Flamengo, ou Vasco e Botafogo, é a mesma coisa que vai acontecer, um jogo desse nunca deveria acontecer aqui. O prejuízo é para todo mundo. Teve muitas famílias que foram para casa de parente em outra região, porque todo mundo já sabia o que ia acontecer, por causa do tamanho do jogo. É coisa já previsa e programada”.

Nascido e criado no entorno de São Januário, Ronaldo Pereira diz que o local não tem estrutura para receber um jogo do porte de Flamengo e Vasco. “[Ontem teve] muita confusão e muita briga, bombas, o pessoal da comunidade estava apavorado com isso. O culpado disso tudo é o senhor Eurico Miranda, ele não tinha que botar um jogo desse aqui, o estádio de São Januário não tem estrutura para isso. Nosso bairro não merece isso, o morador não merece isso. As pessoas que fizeram isso são torcedores que não moram aqui. Os moradores não tem nada a ver com isso. Hoje cedo tinha lixo, pedra, pau, vestígio de quebra-quebra, bomba, mas estava tranquilo. Ontem foi um vandalismo total”.


*Colaborou Raquel Júnia, repórter do Radiojornalismo EBC