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Maioria dos moradores de favelas é indiferente em relação a UPPs, diz pesquisa

Cerca de 49% das pessoas ouvidas declararam que a UPP local não vem
Flávia Villela - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 22/08/2017 - 13:04
Rio de Janeiro
UPP da Rocinha
© Tânia Rêgo/Agência Brasil

Parte da população do Rio não crê nos resultados das Unidades de Polícia Pacificadora, mas 60% não querem o fim do projeto   (Arquivo/Agência Brasil)

Em 2018, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro vão completar dez anos de implantação. Uma pesquisa divulgada hoje (22) pela Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), da Universidade Candido Mendes, aponta que a maioria dos moradores das comunidades está indiferente em relação ao projeto. 

Questionados sobre o que achavam do programa, mais da metade dos entrevistados, nos 37 territórios com UPP, respondeu "não faz diferença". Cerca de 49% das pessoas ouvidas declararam que a UPP local não vem melhorando nem piorando a vida desde a instalação, reiterando "a impressão de indiferença, desconhecimento ou baixa percepção dos impactos do programa numa parcela considerável dos moradores das favelas", diz o estudo.

Perguntado se a UPP é um projeto falido, 66,1% concordaram, 17,1% discordaram e 16,8% não opinaram. Entretanto, de acordo com uma das coordenadoras da pesquisa, Sílvia Ramos, surpreendeu o dado de que quase 60% dos moradores ouvidos não querem que o projeto acabe.

“Apesar da avaliação extremamente crítica por parte de muitos moradores sobre as UPPs, quando perguntamos se preferiam que as UPPs acabassem, quase 60% responderam que prefeririam que ficassem, mas que fossem modificadas”, disse.

Para 79% dos entrevistados, uma das medidas necessárias para melhorar o desempenho da iniciativa seria punir os maus policiais. Outras mudanças necessárias citadas foram: melhores condições de trabalho, projetos de capacitação para os jovens e os policiais e a tão prometida oferta de outros serviços públicos, além do policiamento.

Tiroteios

Mulheres são mais favoráveis à permanência da UPP do que os homens (66% contra 58%), e brancos mais do que negros (70% contra 61%). Metade dos moradores afirmou que os tiroteios ocorrem com mais frequência agora do que antes ou no início da UPP. O estudo revela ainda que os jovens são os mais críticos à atuação dos policiais nas favelas.

“Os que mais defendem o fim das UPPs são aqueles que foram mais abordados pela polícia e que tiveram suas casas revistadas. Esse tipo de experiência, muito mais frequente entre os jovens, é muito negativa para a avaliação de todo o resto. Os jovens são um grupo que merece atenção especial, pois já sofrem muito preconceito, sobretudo, o jovem negro”, disse.

Ao todo, 38% dos entrevistados relataram situações em que os policiais das UPPs xingaram ou humilharam moradores da comunidade.

A pesquisadora lembrou que estudo feito apenas com policiais que atuavam em UPPs, em 2014, apontou que as relações entre policiais e moradores estava se deteriorando de forma acelerada.

Outro ponto revelador do estudo, segundo a pesquisadora, foi que 95,8% dos entrevistados declararam não ter tido contato direto com os policiais da unidade em situações do cotidiano.

“Aquele projeto do policiamento de proximidade, do policial que criaria um enraizamento comunitário, que estaria presente na vida dos moradores, não se cumpriu”, opinou Sílvia.

A pesquisadora Leonarda Musumeci, que também coordenou o estudo, ressaltou que - nas áreas nobres do Rio - foi registrada maior percepção de impactos positivos do programa.

Cerca de 48% dos moradores das zonas sul e centro afirmaram que a UPP trouxe benefícios. Já os da zona oeste, área mais negligenciada pelo Poder Público, apenas 23% viram impactos positivos depois da UPP e 45% disseram que a UPP trouxe problemas, contra 18% dos moradores da zona sul e centro.

“Em outras palavras, os resultados da pesquisa parecem refletir a costumeira desigualdade de tratamento do Poder Público às regiões mais ricas e mais pobres do município”, afirmou.

“Na medida em que as UPPs foram se multiplicando, em uma velocidade impressionante, os cuidados que havia em relação às primeiras favelas atendidas, na zona sul, foram se perdendo. Nas últimas experiências mais para a zona oeste, essas favelas receberam um tipo de policiamento mais ostensivo, criando relações de hostilidade com os moradores”, explicou Sílvia.

Para 40% dos moradores, a falta de infraestrutura e de serviços urbanos é o principal problema enfrentado na favela, seguido de violência, insegurança, confrontos e tiroteios (32%).

Sobre a pesquisa

A pesquisa foi feita entre 8 de agosto e 25 de outubro de 2016, com questionário de 56 perguntas e uma amostra domiciliar aleatória de 2.479 pessoas com 16 anos ou mais de idade. Foi considerado um universo de 777.506 homens e mulheres, cerca de 15% da população carioca com 16 anos ou mais, segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A margem de erro é de 4%.

O Programa de Polícia Pacificadora (UPP) começou em dezembro de 2008, com a ocupação da favela Santa Marta, no bairro de Botafogo, zona sul. De 2009 a 2014, outros 36 territórios da cidade foram incorporados ao programa.

* Título e texto alterados às 13h47 para ajuste de informação