Interventor do Sesc/Senac Rio faz balanço e critica gestão do antecessor
Nomeado em dezembro do ano passado como interventor do Serviço Social do Comércio (Sesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) do Rio de Janeiro, Luiz Gastão Bittencourt apresentou hoje (5) um balanço das condições encontradas nas duas instituições. Segundo ele, houve um esvaziamento das atividades-fim e a situação das finanças traz preocupações. Bittencourt é presidente do Sesc e do Senac no Ceará, cargo do qual se afastou para assumir a gestão no Rio de Janeiro.
Em outubro do ano passado, profissionais demitidos do Sesc e do Senac chegaram a organizar diversos protestos na frente das instituições, acusando um desmonte. Como resultado das demissões, o atendimento teria sido reduzido. Entre os prejuízos apontados pelo interventor está o encerramento de atividades de educação infantil e ensino fundamental, o fechamento de metade das clínicas odontológicas, a paralisação de serviços voltados para a saúde da mulher, a desativação de um teatro de arena em Copacabana e a não utilização de equipamentos adquiridos por R$ 2,5 milhões em 2015 para a montagem de novas academias.
O interventor assumiu a função por meio de resolução assinada por Antônio Oliveira Santos, presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e dos conselhos nacionais do Sesc e do Senac. O documento foi publicado após o então presidente do Sesc e Senac do Rio de Janeiro, Orlando Santos Diniz, ser afastado do cargo por decisão do ministro Napoleão Nunes Maia Filho, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O magistrado atendeu pedido da CNC e considerou que indícios de irregularidades administrativas justificavam o receio de lesão grave às instituições, além do fato de que as duas instituições no Rio estavam sob investigação da Operação Calicute, da Polícia Federal, um dos desdobramento da Operação Lava Jato. A gestão de Orlando Diniz está sendo investigada por supostas vantagens indevidas ao ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) e por pagamentos ilegais ao escritório de advocacia da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo.
O Sesc foi criado com o objetivo de oferecer aos comerciários atividades nas áreas de cultura, saúde, turismo social, educação, esporte e assistência. Já o Senac investe na qualificação de mão de obra e na oferta de cursos profissionalizantes. Ambas instituições integram no Rio de Janeiro um sistema em conjunto com a Federação do Comércio do Estado (Fecomércio-RJ), entidade que segue presidida por Orlando Diniz. Assim como nos demais estados, Sesc e Senac devem repassar 3% de sua arrecadação para a Fecomércio.
Irregularidades
No entanto, o interventor Luiz Gastão afirma que os repasses foram superiores ao previsto na legislação sem que os motivos fossem esclarecidos. “Vultosos valores foram transferidos entre Senac e Fecomércio-RJ sem a devida prestação de conta e sem a finalização do objetivo para o qual foi transferido”, disse. Segundo o interventor, foram utilizados recursos da reserva da entidade para cobrir déficits nos últimos três anos: R$ 65 milhões em 2015, R$ 66 milhões em 2016 e R$ 84 milhões em 2017. “As reservas chegaram no fim de 2017 com um saldo de R$ 102 milhões. No passo que iria, com mais um ano, as reservas do Senac estariam completamente dizimadas”.
Em relação ao Sesc, Luiz Gastão disse haver irregularidades contábeis em diversos balancetes desde maio de 2016. Além disso, os contratos de segurança teriam sido reduzidos em 40%. Uma vistoria realizada pela gestão interventora apontou que 90% das unidades do Sesc apresentavam problemas que comprometeriam a integridade física e a segurança dos funcionários e da clientela. Muitos deles foram considerados espaços insalubres, em completo abandono.
Ainda de acordo com Luiz Gastão, o conselho fiscal do Sesc/Senac, composto por quatro representantes do governo federal, dois membros escolhidos por empresários e um indicado pelos trabalhadores, vinha tendo seus trabalhos cerceados. Ele também disse que havia um clima interno de perseguição nas instituições e que já determinou a desistência de processos por danos morais que a gestão anterior movia contra ex-funcionários. Está prevista ainda uma mudança no código de ética para dar mais liberdade aos empregados.
Programas mantidos
O apoio ao programa Segurança Presente, que garante a presença de policiamento nas ruas em alguns bairros do Rio de Janeiro, será mantido. A iniciativa, gerida pelo governo estadual, conta com recursos do Sesc, do Senac e da Fecomércio. “Nossa ideia é dar continuidade, fazendo talvez alguns ajustes que sejam necessários conforme a nossa filosofia. Mas o valor hoje investido no programa [R$44 milhões nos últimos dois anos] não traz nenhum problema para a sustentabilidade das instituições”.
O interventor também garantiu a continuidade do patrocínio aos times de vôlei masculino e feminino, comandados respectivamente por Giovane e Bernardinho. Ele, no entanto, quer repensar a parceria, levando os atletas a ministrarem palestras, oferecendo aulas e proporcionando momentos de convivência com alunos do Sesc. “Nossa missão não é um esporte de performance. É um esporte de inclusão social”.
Disputas
Ao nomear Luiz Gastão como interventor, o presidente da CNC, Antônio Oliveira Santos, acirrou disputas internas do sistema Sesc/Senac. Ele já havia entrado em atrito em 2012 com Orlando Diniz, o presidente destituído, quando uma outra liminar afastou o presidente da Fecomércio-RJ. A decisão foi revertida meses depois. Em mais de uma ocasião, Orlando Diniz alegou sofrer perseguição política de Antônio Oliveira, a quem também critica por dirigir com mãos de ferro a CNC por 38 anos.
Em 2013, foi a vez de Antônio Oliveira amargar uma decisão judicial desfavorável. Em ação movida pela Fecomércio-RJ, ele foi afastado da presidência dos Conselhos Nacionais do Sesc e do Senac sob a justificativa de que o Tribunal de Contas da União (TCU) rejeitou as contas de suas gestões em 2004. Uma nova decisão lhe devolveu o mandato uma semana depois.
Luiz Gastão, por sua vez, também tem pendências judiciais. Em 2015, suas contas foram consideradas irregulares pelo TCU. Ele apresentou recurso, que ainda não foi apreciado. A Umanizzare, empresa criada por Luiz Gastão que atua na gestão de presídios, já foi alvo de ações dos ministérios públicos do Tocantins e do Amazonas por irregularidades em contratos e na prestação de serviço.
A Agência Brasil entrou em contato com a Fecomércio-RJ e com o escritório de advogados responsável pela defesa de Orlando Diniz, mas não houve retorno.