Julgamento de policial acusado de chacina encerra depoimentos de testemunhas
Três testemunhas foram ouvidas hoje (1) no júri popular que julga a participação do policial militar Victor Cristilder Silva dos Santos nas chacinas de Osasco e de Barueri, ocorridas no dia 13 de agosto de 2015 e que resultaram 17 mortes. Elas foram ouvidas presencialmente, no período da manhã. Depois dos depoimentos, foram exibidos vídeos de duas outras testemunhas do caso, que não puderam comparecer no júri.
Um dos depoimentos exibido foi o da testemunha apelidada de Beta, considerada a principal do caso, a única a reconhecer Cristilder em uma das chacinas. Ela foi chamada a depor, mas não foi encontrada. A defesa do acusado, então, solicitou que um vídeo do depoimento à polícia, com cerca de 40 minutos de duração, fosse passado aos jurados. Os jornalistas e o réu não puderam presenciar a exibição.
Neste momento ocorre o interrogatório do réu. Nesta sexta-feira (2) ocorre a fase de debates, com a argumentação da acusação e da defesa e só então os sete jurados, quatro homens e três mulheres, irão se reunir para decidir o destino do policial, se ele será condenado ou absolvido pelos crimes.
O policial é acusado de ter trocado mensagens no celular com um guarda municipal para avisar sobre o início e fim do horário da chacina. Além disso, ele teria dirigido um dos carros utilizados no crime e efetuado disparos com armas de fogo contra as vítimas. Ele é acusado tanto por homicídio quanto por tentativa de homicídio.
Depoimentos
Na parte da manhã, foram ouvidas três testemunhas, todas chamadas pela defesa do réu. Entre elas, o perito Onias Tavares Aguiar, contratado pela defesa para fazer uma análise das provas apreendidas durante a investigação da chacina.
Durante seu depoimento, Aguiar reclamou do laudo feito pela polícia, dizendo, por exemplo, que a análise feita sobre o material recuperado do celular do guarda municipal não dizia, por exemplo, se a imagem capturada era sobre uma mensagem que foi ou não apagada do celular. Ele também disse que não conhecia o equipamento utilizado pela polícia para recuperar as mensagens apagadas do celular. Mas ao ser questionado pelo promotor, reconheceu que se trata de um equipamento moderno.
O depoimento do perito foi, provavelmente, o mais tumultuado desse júri. Em certo momento, ao ser questionado pelo advogado sobre a análise de uma das provas obtidas pela polícia, o perito disse que o criminoso encapuzado que aparecia em uma imagem de câmera de segurança matando uma das pessoas era um “policial que atirou”. Depois ele se corrigiu, dizendo que não daria para afirmar que era um policial.
Primeiro julgamento
No primeiro julgamento do caso, os sete jurados condenaram os policiais militares Fabrício Emmanuel Eleutério e Thiago Barbosa Henklain, além do guarda civil Sérgio Manhanhã. O policial Fabrício Emmanuel Eleutério foi condenado a 255 anos, 7 meses e 10 dias de prisão, e Henklain recebeu sentença de 247 anos, 7 meses e 10 dias. Já o guarda-civil Sérgio Manhanhã foi condenado a 100 anos e 10 meses. As penas somam mais de 600 anos.
Os dois policiais foram acusados de terem disparado contra as vítimas e respondiam por todas as mortes e tentativas de assassinato. Já o guarda-civil, segundo a acusação, teria atuado para desviar viaturas dos locais onde os crimes ocorreriam e foi denunciado por 11 mortes. Eles responderam por homicídio qualificado, por motivo torpe, com emprego de recurso que dificulta as perdas das vítimas e praticado por grupo de extermínio, além de responderem pelo crime de formação de quadrilha.
As mortes, segundo a acusação feita pelo Ministério Público, teriam ocorrido como forma de vingança pela morte de um policial militar e de um guarda civil naquela mesma semana.