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Haitiano radicado no Brasil vende livro para financiar moradias em seu país

Jac-Ssone Alerte quer colocar o conhecimento adquirido no Brasil, onde
Leo Rodrigues - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 02/04/2018 - 07:07
Rio de Janeiro
Em Porto Príncipe, haitianos deixam suas casas, após a chegada do Furacão Matthew que provocou inundações e deslizamentos de terra
© Bahare Khodabande/EPA/Agência Lusa/direitos reservados

O engenheiro haitiano Jac-Ssone Alerte quer colocar o conhecimento adquirido no Brasil, onde vive desde 2008, a serviço do seu país. Formado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele desenvolve na instituição um projeto de extensão, com o objetivo de fomentar a construção de moradias populares no Haiti. Para impulsionar a iniciativa, foi lançada uma campanha de financiamento, em que os colaboradores adquirem um livro.

Intitulada (Re)construindo um sonho, a obra apresenta as ideias do engenheiro e também sua história de superação. "Cada exemplar vendido representa mais um tijolo", diz o haitiano. A obra será lançada oficialmente às 9h da próxima quinta-feira (5) durante o Encontro Nacional de Estudantes de Engenharia Civil (Enec), evento que acontece anualmente. A edição deste ano ocorre no Rio de Janeiro, no Centro de Convenções SulAmérica.

O projeto prevê a construção de casas na comunidade onde Jac-Ssone nasceu: o bairro de Don de L’amitié, da pequena cidade de Duchity, a oeste da capital Porto Príncipe. O local sofreu os impactos do terremoto de 2010 e, posteriormente, foi devastado pelo furacão Matthew que atingiu o país em 2016.

A ideia é aplicar, em regime de mutirão, a técnica solo-cimento, que vem sendo estudada há alguns anos na UFRJ como alternativa a métodos convencionais empregados pela indústria da construção civil. É uma proposta sustentável e de baixo custo.

Em janeiro, Jac-Ssone Alerte contou à Agência Brasil que já havia adquirido um terreno junto com o pai, onde será erguida a Vila Marie Celiane Alexis, uma homenagem à sua mãe, que já morreu. A iniciativa conta com o apoio de lideranças locais e já foi feita uma pré-seleção, com base em perfis socioeconômicos, dos 15 primeiros beneficiados. São famílias desabrigados em decorrência do furacão.

A iniciativa prevê construções seguras e resistentes a tremores e ventos fortes e também buscará chamar a atenção para a necessidade de aprimorar as políticas habitacionais no Haiti. Segundo ele, o impacto das tragédias ambientais é potencializado pela frágil estrutura das edificações. O terremoto de 2010 deixou um país abalado e cerca de 200 mil mortos. Já o furacão Matthew provocou mais de mil mortes.

As casas também levarão em conta as projeções do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (IPCC-ONU) para a região. Significa que elas serão preparadas para a incidência de dias quentes e ondas de calor, garantindo maior bem-estar aos moradores.