Seca na região do São Francisco deve continuar nos próximos meses
A porção alta da Bacia do Rio São Francisco, na Região Sudeste, enfrenta sua pior crise, segundo relatório divulgado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
O reservatório da Usina Hidrelétrica de Três Marias, em Minas Gerais, encontra-se com aproximadamente 45,4% do volume útil armazenado, e os cenários simulados sugerem que as vazões fiquem abaixo da média histórica para os próximos meses, mesmo que as chuvas atinjam a média esperada.
“Mesmo chovendo acima da média, [o volume de] a água que entrará no reservatório será menor que o da média histórica. Significa que, independentemente, da chuva nos próximos três, quatro meses, a situação do São Francisco continuará crítica”, afirma o coordenador-geral de Operações e Modelagens do Cemaden, o meteorologista Marcelo Seluchi.
A vazão natural média do Aproveitamento Hidrelétrico Três Marias em junho deste ano foi de 126 metros cúbicos por segundo (m³/s), o que representa uma redução de 61% em relação à vazão histórica média mensal, considerando o período de 1983-2017, de acordo com os dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
A estiagem no São Francisco tem se mantido desde 2013. No ano passado, sua bacia hidrográfica já tinha passado pela maior seca em quase 90 anos de medição oficial.
Para Seluchi, a situação no São Francisco só não é mais grave por causa da ação de um fórum de acompanhamento da crise hídrica na Bacia do São Francisco coordenado pela Agência Nacional das Águas (ANA), que se reúne semanalmente com atores da sociedade civil, governos da região e companhias hidrelétricas.
“A situação só não é muitíssimo mais grave porque realmente há uma ação das autoridades, dos organismos de regulação, distribuição, usuários, que decidem ações tendentes a conservar a água do Rio São Francisco”, disse o meteorologista.
O fórum foi proposto pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, órgão colegiado integrado por representantes do Poder Público, da sociedade civil e de empresas usuárias de água. Criado em 2001, o comitê tem atribuições normativas, deliberativas e consultivas, com o objetivo de tornar a gestão dos recursos hídricos da bacia descentralizada e participativa.
“Essa articulação [fórum] vem adotando, a cada ano, medias relativas ao controle de vazões de tal maneira que, no período úmido, se possa acumular água nos reservatórios para que se chegue até novembro com um nível que permita evitar a chegada ao volume morto”, disse o presidente do comitê, Anivaldo Miranda.
De acordo com o comitê, o Rio São Francisco é responsável por 70% da disponibilidade hídrica da Região Nordeste e do norte de Minas Gerais.
Sobradinho
O maior reservatório do Nordeste, o de Sobradinho, na Bahia, também está passando por um controle de vazão para garantir o nível acima do volume morto em novembro.
“Em Sobradinho, a vazão está em 600m³/s, que é muito menor que a vazão mínima tradicional, que é de 1.300, mas isso permite que se tenha um certo horizonte de atendimento com o mínimo de segurança, seja para abastecimento humano, irrigação, agricultura e geração de energia hidrelétrica”, acrescentou Miranda. Ele estimou que o principal reservatório do Nordeste deve estar agora com cerca de 32% do voluma útil e deve chegar a novembro com 15%.
Cantareira
Segundo o Cemaden, os reservatórios do Sistema Cantareira, responsáveis pelo abastecimento de cerca de 7,5 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo, encontram-se com aproximadamente 42,5% da sua reserva hídrica.
Em junho deste ano, a vazão média afluente a esses reservatórios foi de 11,9m³/s, o que representa 34% da média histórica para o mês. e a projeção é de que as vazões fiquem abaixo da média histórica para os próximos meses, mesmo com chuvas dentro da média para o período.
Para Seluchi, a situação do Cantareira é um pouco pior do que a de 2013, antes da crise de abastecimento que resultou no uso do volume morto do sistema. Ele ressaltou, porém, que o impacto da seca deste ano não deve atingir as mesmas proporções da de 2015.
“Não podemos classificar de crítica, mas é uma situação delicada, vai precisar de um manejo conservador dos recursos hídricos. Isso já está sendo feito e devemos contar com uma estação chuvosa que não seja tão ruim como foi em 2014. É bastante provável que isso não se repita em 2018 e 2019”, afirmou.