Nove anos depois, Farra dos Guardanapos é tema de exposição no Rio
A análise das imagens de um jantar em 2009, em Paris, do qual participaram o então governador do Rio, Sérgio Cabral, secretários e empresários envolvidos em um esquema de propinas posteriormente desvendado no estado é a base da exposição Farra dos Guardanapos, que fica aberta na Galeria Aymoré, no bairro da Glória, até o dia 23 deste mês. As imagens são do artista plástico Gabriel Giucci.
O jantar, no qual estava presente inclusive o então secretário de Saúde, Sérgio Côrtes, que voltou a ser preso nesta sexta-feira (31), ficou conhecido como Farra dos Guardanapos porque todos apareceram cantando e dançando com guardanapos brancos na cabeça.
A partir de 2011, Giucci concentrou-se no estudo de expressões faciais humanas para realizar o seu trabalho. Isso porque, para ele, a sociedade vive um momento emotivo que enfatiza muito os rostos das pessoas, por meio de fotos nas redes sociais, ou mesmo nos emoticons. Em 2015, Giucci juntou a sua arte com os acontecimentos da Operação Lava Jato. “Aliei a questão da fisionomia humana e da expressividade à questão política e encontrei conexões que achava interessantes para explorar a cultura sóciopolítica com essa expressividade que as pessoas enfatizam tanto”, explicou o artista plástico.
Foi com o foco na Lava Jato que o artista chegou às imagens do jantar, que transformou nas pinturas que fazem parte da exposição inaugurada neste sábado (1º). “Depois da Lava Jato, achei que a Farra dos Guardanapos seria um bom trabalho para falar do Rio – a Lava Jato no âmbito nacional e a Farra dos Guardanapos, no regional. Seria interessante terminar esse projeto de representação com esse marco histórico, esse evento do Sérgio Cabral e da comitiva dele em Paris”, afirmou.
Para Giucci, o jantar é de uma magnitude muito grande, porque representa um ápice e também o momento da derrocada do grupo, que mostra uma euforia exacerbada e decadente em um local totalmente aristocrático, como era o do restaurante parisiense. “Tem um local muito nobre, pessoas embriagadas. Uma visão primitiva em uma coisa muito educada. Tem fatos interessantes. É o ápice do poder com a consequente decadência desse mesmo império.”
Embora admita prorrogar o período da exposição, caso o espaço permita, o artista não pretende levar a mostra para outros locais. “Percebo, claramente, que se encerra um ciclo de representação que começou com a Lava Jato. Tive uma visão muito cedo do ocorrido e fiquei trabalhando de 2015 a 2018.”
Giucci ressaltou que existem outros políticos com os quais poderia ser desenvolvido um trabalho semelhante, mas não quer focar em uma pessoa específica. “É um tema delicado e polêmico ,e já tratei da forma como eu queria”, completou.
A exposição tem mais de 100 pinturas que se baseiam em fotos do episódio amplamente divulgadas na internet. Giucci partiu de três fotos onde estão representados oito participantes da festa, cada um com uma expressão diferente. para realizar o projeto. “Eu concentrei a exposição somente na expressão facial de certos representantes e aí fiz telas pequenas e enfatizei as expressões com tinta a óleo. Excluí a narrativa do restaurante, as mãos, os trajes, os ternos, as gravatas e foquei em dois elementos: o guardanapo, que é icônico, e as expressões faciais, que são históricas também. São de um exagero inacreditável.”
Para a curadora da exposição, Gabriela Davies, que entrou no projeto em março, com a liberação do espaço da galeria, o relevante no trabalho é que os quadros não retratam o escândalo, mas a emotividade que aparece quando as pessoas ficam eufóricas em situação de poder. “Ele repetiu as imagens algumas vezes, como foram repetidas em muitas matérias [notícias], inclusive fora do Brasil. E a repetição acaba até confundindo quem é quem. Conseguimos apontar o Sérgio Cabral e o Sérgio Côrtes, por causa da volta deste à prisão. Os outros não ficam tão claros na nossa cabeça, mas todos se misturam em sorrisos e expressões tão fortes que acaba-se focando mais nas expressões do que no aspecto físico de cada um.”
Giucci nasceu em 1987 em Princeton, nos Estados Unidos, mas veio cedo para o Brasil. Estudou na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e completou os cursos na New School, em Nova York. Ele trabalhou nos estúdios dos artistas plásticos Raul Mourão e Henrique Oliveira e em 2015 foi indicado ao Prêmio Pipa, criado em 2010, em uma parceria entre o Instituto Pipa e o Museu de Arte Moderna do Rio (MAM) para estimular a produção nacional de arte contemporânea.