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Sem-terra denunciam ataque a acampamento no Ceará

É o segundo ataque a acampamentos em quatro dias
Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 31/10/2018 - 15:04
Brasília

O acampamento com 33 famílias de sem-terra, montado próximo à área urbana de Tamboril (CE), teve dois pontos incendiados na noite desta terça-feira (30). As famílias afirmam ter sido intencional e criminoso. É o segundo ataque a acampamentos ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em apenas quatro dias.

Segundo coordenadores do acampamento Comuna Irmã Dorothy - nome dado em homenagem à missionária católica norte-americana Dorothy Stang, assassinada em fevereiro de 2005 -, homens não identificados foram vistos deixando o local em ao menos duas motos, gritando palavras de ordens contra os sem-terra.

De acordo com Mariana da Silva Santana, uma das coordenadoras do acampamento e presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, de Tamboril, os acampados identificaram um primeiro foco de incêndio por volta das 18h30 e rapidamente o apagaram. Cerca de uma hora depois, constataram um novo foco de incêndio, desta vez mais próximo aos barracos onde vivem.

“Um fogaréu muito grande surgiu bem rápido, desta vez mais próximo das barracas. Como a água aqui é escassa e fica distante, não dava para levá-la até as chamas. Um grupo de acampados correu para tentar apagar o fogo com pás e abafadores improvisados e, quando chegaram perto, viram ao menos dois homens partindo em uma moto, gritando coisas como ‘agora vocês vão dormir!’”, disse Mariana à Agência Brasil.

Segundo a coordenadora, os sem-terra não conseguiram identificar os homens ou anotar as placas das motos, pois a iluminação no local é precária. “Já registramos um boletim de ocorrência e pedimos ao Ministério Pública que acompanhe a investigação do caso. Policiais militares estiveram na área e acionaram o Corpo de Bombeiros, mas o fogo foi controlado pelos próprios sem-terra no início da madrugada”.

Chamas

O trabalho para apagar as chamas que o vento ameaçava espalhar pela vegetação seca avançou noite adentro e só terminou no início da madrugada de hoje (31). Em um vídeo divulgado na internet, um sem-terra diz que “quem veio tocar fogo para nos amedrontar deixou as motos escondidas. Quando saímos para apagar o fogo, escutamos a zoada das motos e eles nos mandando ir dormir".

A descrição dos fatos narrados pelos sem-terra se assemelha aos testemunhos de um ataque ocorrido no último sábado (27), no Acampamento Sebastião Billar, em Dois Irmãos do Buriti (MS), onde barracos foram incendiados por um homem não identificado, que fugiu em um carro. Nos dois casos, ninguém ficou ferido.

Ainda segundo a coordenadora do acampamento de Tamboril, além das 33 famílias que já vivem na área de cerca de 92 hectares, da Fazenda Cacimbinha, há outras 120 famílias que participam do movimento e esperam receber um lote no local.

Entre as 96 pessoas que vivem em barracos improvisados com tábuas, papelão e toda a sorte de material altamente inflamável, 43 são crianças, informou Mariana. “As famílias que estão aqui não têm para onde ir. Tem gente desempregada vivendo do Bolsa-Família. Outros que sequer isso conseguiram. Há quatro anos decidimos ocupar esta área devido às necessidades dessas famílias, já que os preços de imóveis são muitos caros, seja para alugar, seja para compra”, acrescentou Mariana, assegurando que, no passado, o governo estadual chegou a endossar a proposta de adquirir a área da família proprietária e destiná-la a programas de reforma agrária e reassentamento.

A Secretaria do Trabalho e Assistência Social de Tamboril confirmou que parte dos sem-terra do acampamento Comuna Irmã Dorothy é beneficiária de ações sociais desenvolvidas nos equipamentos públicos mantidos pela pasta. A secretaria colocou os agentes do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) à disposição da comunidade.

A reportagem não conseguiu contato com as polícias Civil e Militar.