Seminário debate solução sustentável para a Baía de Guanabara
A Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, vai contar com um programa de segurança hídrica e de resiliência marítimo costeira com importância econômica, social e lazer para as populações locais. O OásisLab, um laboratório de inovação lançado, hoje (24), durante a nona edição do Seminário Ação Ambiental, que teve como tema Soluções Sustentáveis para a Baía de Guanabara, organizado pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), na sede da entidade, no Centro do Rio. O encontro tem como objetivo aumentar as redes de cooperação de atores públicos e privados para realizar projetos na baía cercada de 14 municípios e que engloba cerca de 30 rios no estado do Rio de Janeiro.
A iniciativa é uma parceria entre a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e o Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (Inea) e os integrantes já estão preparando a primeira reunião do laboratório que vai ocorrer nos dias 1º e 2 de agosto para apontar os protótipos dos projetos que podem ser contemplados.
“Ao final do segundo dia a gente espera ter, pelo menos, dez protótipos, que seriam iniciativas colaborativas e depois disso, a gente tem um segundo encontro um mês após para refinar cada um deles e fazer reuniões. No dia 2 de setembro, a gente tem mais um encontro de refinamento de um plano de ação para cada um dos protótipos e avaliar o que falta para que o projeto colaborativo saia do papel e ganhe escala, seja implementado”, informou à Agência Brasil, o analista sênior de Soluções baseadas na Natureza da Fundação Grupo Boticário, Thiago Valente.
Dependendo do tipo de projeto que surgir dos protótipos a gente tem até dezembro para gerar as oportunidades de conexão, de financiamento, de governança. Ao final a gente espera ter protótipos minimamente viáveis para ser executado ou mesmo ter um portfólio de projetos na Baía de Guanabara que possa ser alvo de investimentos tanto de recursos públicos e privados ou de filantropia.
“O legado é deixar uma rede de cooperação. Nesse processo, a gente já está tendo muita articulação, hoje foi o lançamento, mas ele já vem acontecendo dentro do governo e das indústrias e na própria Fundação com os seus parceiros, então, a gente espera em dezembro deixar um legado de uma aliança estratégica entre os setores privado e público e o terceiro setor para que isso tenham continuidade ao longo dos próximos anos”, explicou.
Os principais desafios identificados para a Baía de Guanabara para aplicação de Soluções baseadas na Natureza na área de segurança hídrica indicam a necessidade de conservar e recuperar os ecossistemas para ampliar a capacidade de armazenamento e produção de água na natureza. Isso, segundo a avaliação reduziria o transporte de sedimentos e os custos com o tratamento da água.
Para evitar o assoreamento a intenção é ampliar a cobertura de vegetação nativa na região, especialmente, nas margens de rios, fazendo, dessa forma o controle da quantidade de sedimentos que chegam à Baía. Para os casos de enchentes e inundações a recomendação é manter e ampliar áreas naturais nativas para minimizar os fluxos superficiais de água, aumentando o potencial de adaptação aos eventos extremos de chuva que historicamente impactam a região. Há propostas ainda para atacar a degradação dos ecossistemas costeiros. Neste caso devem ser realizadas ações de manejo sustentável e recuperação de recifes, que possam ser eficientes também na contenção do avanço do nível do mar e ao mesmo tempo desenvolver a economia local.
A expectativa é que cerca de 50 instituições, entre empresas, indústrias, Organizações não Governamentais (ONGs) e órgãos públicos, participem do OásisLab. Não está descartada a possibilidade de projetos executados em outras regiões do País servirem de base para o laboratório de inovação.
Políticas Públicas
A subsecretária de Recursos Hídricos e Sustentabilidade da Secretária de Estado de Ambiente do Rio, Renata Bley, sugeriu que o OásisLab faça um mapeamento dos projetos de empresas de responsabilidade socioambientais que já estão em andamento na Baía de Guanabara, para que o governo do estado tenha uma visão dos que estão sendo realizados e como podem se somar em uma integração com o governo estadual. A intenção, conforme a subsecretária, é aqueles que já registram sucesso, ganhem cada vez mais capilaridade e formem multiplicadores.
“Para que a gente possa ampliar a nossa atuação. Se a gente não conhece os atores que já estão operando fica difícil trabalhar em rede e criar o espaço colaborativo. Isso poderia orientar políticas públicas e, ao mesmo tempo, a política pública pode orientá-los também. O poder público precisa ver isso, dar diretrizes, criar integração entre os atores, avançar na política sócio ambiental e de educação ambiental e evitar redundância dos projetos, para otimizar os recursos e ter mais resultados efetivos”.
Água de reúso
No encontro, foi apresentado o estudo da Firjan de possibilidade da utilização de águas de reúso pelas indústrias do Rio, que mostra que é viável gerar a partir de estações de tratamento de esgoto uma fonte nova de recursos de água para fim industrial. “Quer dizer se pára de usar uma fonte de água natural para usar uma fonte de água de reúso. As vantagens é que para a sociedade estou economizando água potável, para as concessionárias de água se gera uma nova fonte de receita de esgoto que será tratado e que será vendido ao setor industrial, que terá oportunidade de ter uma água com nível até melhor da que vinha direto das distribuidoras. Essa água será tratada ao nível de excelência e exigência do setor produtivo”, analisou o gerente de Sustentabilidade e Infraestrutura da Firjan, William Figueiredo.
No projeto a concessionária vende o esgoto que será tratado pela indústria para a utilização na atividade. A vantagem, segundo Figueiredo, é que em momentos de falta de abastecimento, como ocorreu em 2014 e 2015 no sudeste e as concessionárias são obrigadas a atender com prioridade o consumo humano. “A atividade econômica fica em posição secundária, quando se cria a fonte alternativa através de esgoto, independente de chuva ou não, de ter estresse hídrico ou não, a atividade produtiva continua funcionando em plena capacidade, porque não vai depender mais da água que vem dos rios e da chuva”, disse.
A iniciativa já existe no estado de São Paulo e o estudo mostra os potenciais para se aplicar algo semelhante no Rio. “Tem hoje no Rio, complexos ambientais que demandam esta água”, completou, acrescentando, que o estudo apontou a região da Baixada Fluminense como uma área importante para o desenvolvimento do projeto, uma vez que é carente de abastecimento de água e de rede de tratamento de esgoto.