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Exame aponta que cacique morto em julho não ingeriu drogas

No entanto, laudo não é conclusivo a respeito da ingestão de álcool
Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 07/10/2019 - 12:12
Brasília
Índios, waiãpi, amapá
© Divulgação Portal IPHAN
Índios, waiãpi, amapá
© Divulgação Portal IPHAN

Exame toxicológico realizado por peritos da Polícia Técnica do Amapá (Politec-AP) no corpo do cacique Emyra Waiãpi indica que o indígena falecido na segunda quinzena de julho não consumiu substâncias psicoativas como cocaína, maconha, anfetamina, dentre outras. No entanto, o laudo complementar toxicológico concluído há cerca de 15 dias não é conclusivo a respeito da eventual ingestão de álcool.

Segundo o diretor da Politec, Salatiel Guimarães, como o corpo foi exumado cerca de dez dias após ter sido enterrado pela comunidade indígena no interior da Terra Indígena Wajãpi, em uma região próxima à divisa entre o Amapá e o Pará, qualquer eventual resquício de álcool já havia dissipado, não sendo possível afirmar se Emyra consumiu ou não bebidas alcoólicas antes de morrer.

Guimarães reafirmou à Agência Brasil que tudo leva a crer que o cacique se afogou, conforme já apontara o resultado preliminar do exame necroscópico, divulgado em agosto.

“Tudo sugere que a causa da morte foi afogamento. Não há vestígios que apontem o contrário”, disse o diretor da Politec à Agência Brasil, hoje (7). “O corpo tinha algumas lesões. Uma próxima à orelha, outra na região da virilha, mas nenhum destes ferimentos era fatal. Eram todos superficiais e não há como precisar sua natureza, já que, além do afogamento, o corpo foi transportado e sepultado”, afirmou Guimarães, garantindo que os órgãos internos de Emyra Waiãpi estavam “íntegros” e que não procedem as informações de que o cacique teve os olhos perfurados e o órgão genital decepado. “Temos fotos que demonstram que, salvo alguns ferimentos superficiais, os órgãos estavam íntegros.”

Por um problema com os equipamentos da Politec, os exames toxicológico foram realizados no Departamento de Laboratórios Forenses da Polícia Técnico-Científica do Espírito Santo, em Vitória, com o acompanhamento de um funcionário deslocado de Macapá.

Segundo a Polícia Federal (PF), que investiga o caso, Emyra Waiãpi morreu entre os dias 21 e 23 de julho. No início de agosto, índios e entidades indigenistas denunciaram às autoridades públicas que homens armados tinham invadido a Terra Indígena Waiãpi, e que o cacique Emyra Waiãpi tinha sido morto de forma violenta. A denúncia motivou a Fundação Nacional do Índio (Funai) a deslocar uma equipe para o local, considerado de difícil acesso. Equipes da Polícia Federal (PF) e do Batalhão de Operações Especiais (Bope), da Polícia Militar do Amapá, também estiveram na região a fim de apurar o ocorrido, mas informaram não ter encontrado vestígios de confrontos. A Procuradoria do Ministério Público Federal (MPF) no Amapá instaurou uma investigação criminal para apurar a denúncia.

Em 15 de agosto, a PF tornou público o resultado preliminar do exame necroscópico realizado duas semanas antes, no corpo exumado do cacique. O laudo apontava a existência de uma lesão superficial na cabeça do índio waiãpi, mas  assegurou que esse ferimento não atingiu planos profundos que pudessem causar uma fratura craniana. Os peritos também afirmaram não terem encontrado lesões ou sulcos que pudessem evidenciar a hipótese de enforcamento ou esganadura, nem lesões penetrantes (cortes) na região do tórax. Para a PF, estas conclusões “desmentem as primeiras notícias que davam conta de que a liderança teria sido atacada a facadas”.

Dias depois, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), entidade que defende direitos dos índios no país, questionou a conclusão dos peritos, minimizando as chances de um índio conhecedor da região morrer afogado. “É com completa indignação que recebemos a notícia do laudo sobre a morte do cacique Emyrá Wajãpi, no qual o órgão [Politec-AP] nega os indícios de assassinato e afirma que o exame sugere fortemente a ocorrência de afogamento”, manifestou a Apib, em nota em que pede que "as investigações sejam realizadas de maneira séria e responsável para que uma guerra e mais derramamento de sangue seja evitado."

Para a Apib, as informações preliminares contradiziam o testemunho dos índios de que a região foi invadida por homens armados. A reportagem não conseguiu voltar a ouvir, hoje, aos representantes da entidade. Também não conseguimos contato com o Conselho das Aldeias Waiãpi-Apina.