Pinacoteca de São Paulo apresenta panorama da artista Fernanda Gomes
Invalid Scald ID.
Quadros pintados de branco sobre paredes brancas. Objetos precários apresentados diretamente sobre o chão ou nos cantos das salas, aparentemente de forma improvisada ou difusa, mas ressaltando ângulos ou seus formatos e disposição geométrica. Objetos pintados de branco ou preservando seu tom cru e marcados pelo uso.
Estas são características das obras que estão na exposição da artista carioca Fernanda Gomes, que acabou de realizar uma grande mostra no Secession, em Viena, na Áustria, e que agora ganha uma retrospectiva na Pinacoteca de São Paulo, na capital paulista. A exposição começou hoje (30) e segue até 24 de fevereiro.
“Esta é uma exposição que, em primeiro lugar, pensa o que é uma exposição”, disse a artista, em entrevista à Agência Brasil, enquanto terminava de montar o local para a abertura.
Para suas obras, Fernanda Gomes utiliza muitos materiais ordinários – como gesso, madeira e vidro, recolhidos na vida doméstica da artista e em suas andanças por ruas, galerias e instituições. “Há dos materiais mais tradicionais aos mais simples. Há nozes frescas, louças, acrílico”, cita ela.
Esses objetos são amarrados, juntados, posicionados ou espalhados pelo espaço, produzindo novos significados. Aliás, as obras e a exposição não têm nome e nem data, reforçando que o significado vai sendo construído especificamente pelo olhar do observador sobre suas obras. “Acho que a exposição vai criar significados diferentes para cada pessoa. E é isso que eu espero também: que cada um se sinta livre para pensar com sua própria cabeça, para usar seus sentidos, para realmente estar ali sem tentar compreender, sem tentar amarrar as coisas. Simplesmente fluindo”, disse a artista.
A retrospectiva reúne 50 de suas obras, desde os anos 80 até hoje. A mostra é apresentada na forma de uma grande instalação composta de fragmentos, que se desdobra por sete galerias. Entre elas estão alguns de seus trabalhos mais conhecidos, como as esferas de cravos e linha, uma extensão de papéis de cigarro fumados e justapostos e as pinturas feitas com tinta e papel. Há também obras inéditas concebidas para a exposição. Para a montagem, a artista passou três semanas na Pinacoteca.
“A ideia de expor a Fernanda Gomes aqui na Pinacoteca veio de um desejo da curadoria de, inclusive, repensar os seus procedimentos. Dada a natureza do trabalho da Fernanda (Gomes), desse grau de experimentalismo, desse sentido de abertura e de usar muito os materiais da expografia, tudo isso era uma motivação para a Pinacoteca repensar seus fazeres e procedimentos”, disse o curador José Augusto Ribeiro, em entrevista à Agência Brasil.
Segundo o curador, quem for à exposição “terá uma experiência muito singular com a arte”. “Ele [espectador] vai reconhecer objetos que estão muito presentes na vida prática, no seu cotidiano, mas que são peças ou objetos que são reorganizados em outros contextos”.
Uma das obras, por exemplo, pode passar despercebida por um visitante menos atento: um quadro branco pintado diretamente sobre a parede branca, sem molduras ou indicações. “Muitos trabalhos [da artista] são quase escondidos na exposição. A exposição nos convida a ter um olhar muito atento. Um dos trabalhos é esse, que está praticamente camuflado”, falou o curador.
Esse intenso uso do branco nas obras é justificado pela artista por ele ser uma cor “mais completa porque ao mesmo tempo ele é vazio e cheio”. “E tem a questão da luz. O branco é pura luz. Só uso tinta branca”, disse ela.