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São Paulo: covid-19 está 2,5 vezes mais presente em bairros pobres

Infecção tem afetado mais pessoas pretas e com menos escolaridade
Bruno Bocchini - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 01/07/2020 - 21:12
São Paulo
Um mendigo caminha com seu cachorro em uma rua vazia com lojas populares fechadas, no primeiro dia de um bloqueio imposto pelo governo do estado por causa do surto de doença por coronavírus (COVID-19)
© REUTERS/Amanda Perobelli

Pesquisa financiada pelo Instituto Semeia, Grupo Fleury, Ibope Inteligência e Todos pela Saúde mostra que o número de pessoas infectadas pelo novo coronavírus no município de São Paulo é duas vezes e meia maior nos bairros mais pobres da cidade em comparação com os mais ricos. 

O estudo fez testes sorológicos em 1.183 pessoas adultas, em todas as regiões do município, de 15 e 24 de junho, 16 semanas após o primeiro caso registrado na cidade.

Os resultados, divulgados hoje (1º), mostraram que 16% dos moradores dos bairros pobres apresentaram anticorpos para novo coronavírus, ou seja, já foram infectados pelo SARS-CoV-2, nome científico do novo coronavírus. Já nos bairros ricos, 6,5% das pessoas apresentaram os anticorpos, ou duas vezes e meia menos do que nos bairros pobres. Na média, no município, segundo o estudo, 11,4% das pessoas possuem os anticorpos para o SARS-CoV-2.

A pesquisa destaca que a diferença na proporção de pessoas já contaminadas pelo novo coronavírus refletem a desigualdade social do município de São Paulo. “A epidemia de SARS-CoV-2 no município de São Paulo pode ser entendida como sendo duas epidemias com dinâmicas de propagação distintas [uma nos bairros ricos e outra, nos pobres], refletindo a desigualdade social presente no município”, diz a conclusão do estudo.

Diferenças

Segundo a pesquisa, o número de pessoas já infectadas diminui com o aumento do nível educacional: 22,9% das pessoas que não completaram o ensino fundamental apresentaram o anticorpo contra o novo coronavírus, ou seja, já foram infectados pelo SARS-CoV-2. Já apenas 5,1% dos que terminaram o ensino superior tinham o anticorpo, uma diferença de 4,5 vezes menos.

O estudo também mostra que a presença de anticorpos atingiu duas vezes e meia mais os participantes que se identificaram como pretos do que os brancos (19,7% dos pretos tinham o anticorpo versus 7,9% dos brancos); e alcançou duas vezes mais as pessoas que vivem em habitações com cinco ou mais indivíduos do que aqueles que habitam com um ou dois indivíduos (15,8% versus 8,1%).

Segundo a pesquisa. aproximadamente 958 mil pessoas com 18 anos ou mais já foram infectados pelo SARS-CoV-2 no município de São Paulo. Considerando somente os óbitos confirmados, o estudo estima que a taxa de letalidade da infecção na população com 18 anos ou mais é de 0,7%.