Festival Multiplicidade 2022 será aberto dia 16 no Rio de Janeiro

Ações presenciais e virtuais serão no Centro Cultural do Oi Futuro

Publicado em 12/02/2021 - 19:35 Por Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Depois de dois anos somente com ações virtuais, o Impossível Festival Multiplicidade 2022 abre sua 17ª edição no próximo dia 16, com ações presenciais e virtuais, que acontecerão no Centro Cultural do Oi Futuro, no Flamengo, zona sul da cidade do Rio de Janeiro, até o dia 3 de abril. A entrada é gratuita, com retirada de ingressos pela plataforma Sympla. No dia da abertura, o horário de visitação será dividido em três turnos, de 11h às 13h, de 13h15 às 15h15 e de 15h45 às 17h45.

O adjetivo impossível foi dado ao festival porque nos 16 anos de existência os organizadores percorreram todos os campos possíveis da arte. “A gente jamais imaginou que o planeta ia fazer uma pausa [com a pandemia do novo coronavírus]. Que a gente ia interromper um ciclo ascendente da própria história do festival”, disse à Agência Brasil o idealizador e co-curador do evento, Batman Zavareze. 

O Multiplicidade foi sendo construído ao longo dos anos com os conceitos de inquieto, inusitado, desobediente. “Ao longo das coisas que foram objeto de pesquisa, a gente viu que era a definição do impossível. E é o momento atual que a gente está vivendo. Então, é impossível no sentido de sonhador, utópico, imaginário, do cenário que vamos deixar para trás e olhando para a frente com mais afeto e luz, mais humanidade, diversão, de afetar e ser afetado”, explicou Batman Zavareze.

O festival terá instalações, residências artísticas, debates, videomapping (projeção de vídeo em objetos ou superfícies irregulares) e performances de artistas nacionais e internacionais, e seguirá todos os protocolos sanitários exigidos para controle da pandemia da covid-19.

Arte digital

A principal atração desta edição do festival é o artista francês Maotik (Mathieu Le Sourd), considerado um dos nomes mais importantes da atualidade em instalações de arte digital, que vai apresentar sua obra interativa Bloom, ocupando a galeria do quarto andar do Oi Futuro. “Ele constrói durante anos esse conteúdo interativo com alguns propósitos de discussão, desde o sentido da natureza, da vida, de como as coisas são. E o resultado é muito impressionante. Uma reação impactante, bonita”, disse Zavareze.

A obra interativa reage ao movimento e aos gestos do público, criando imagens plasticamente impactantes. A instalação chega ao Brasil pela primeira vez, depois de rodar diversos países do mundo, como França, Suíça, Itália e Egito. O co-curador lembrou que em outras edições, antes da pandemia, o festival chegou a trazer para o Rio cerca de 70 a 80 artistas por ano.

Da segunda quinzena de março até o encerramento, em 3 de abril, o Festival Multiplicidade 2022 vai abrigar o projeto Amplify DAI (Digital Arts Initiative), iniciativa do British Council e Oi Futuro, visando trocas culturais, através de residências entre artistas identificadas como mulheres de várias nacionalidades, em parceria com o Festival de Arte Digital Mutek (Canadá), Arte Lab (Argentina) e SomersetHouse (Reino Unido), e com os festivais brasileiros Novas Frequências e Amazônia Mapping, selecionados junto ao Multiplicidade.

O projeto chega ao Brasil pela primeira vez e vai ter o Multiplicidade como um dos parceiros, promovendo as residências artísticas entre duas duplas escolhidas pelo festival: a artista visual Heather Lander (Reino Unido); a artista sonora Erika Alves (BR); a artista sonora Robin Buckley ou rkss (Reino Unido); e a artista visual VJ Grazzi (BR).

A obra audiovisual inédita resultante desses encontros vai ser exibida virtualmente e replicada no Oi Futuro, junto à apresentação dos resultados das outras parcerias do projeto Amplify DAI. O momento final terá debate sobre o papel feminino na (re)criação artística em um mundo pós pandêmico, com diversas convidadas, entre artistas, produtoras, técnicas e curadoras. O evento será sonorizado pela DJ e produtora Marta Supernova.

Cientistas

Está prevista outra experiência de realidade virtual com artistas alemães. O térreo do prédio do Oi Futuro vai receber Sensing knife, uma experiência de realidade aumentada e espacialização sonora, desenvolvida por artistas-cientistas da Universidade Humboldt, em Berlim. “Tem uma conexão do que o nosso cérebro está reagindo e do que a gente acaba interagindo em relação à imagem e som. É uma nova tecnologia que está sendo desenvolvida por essa universidade e traz a imersão de cientistas no campo artístico, com trabalhos de neurociência e neurolíngística. É bem interessante”, disse o idealizador do festival.

Ainda no térreo, está programada a apresentação do projeto Nine Earth, em parceria com o British Council, desenvolvido para a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26) para discutir a sustentabilidade dos consumos em diferentes territórios do mundo.

Em nova cooperação com o Instituto Cultural da Dinamarca, o festival traz a obra audiovisual inédita Unite, do músico dinamarquês Rumpistol. Acompanhado do seu quarteto e do artista visual Marius Nielsen, Rumpistol propõe um momento de pausa e reflexão sobre a condição humana. O próprio artista, que tem uma relação afetiva com o festival desde 2015, deixando sua marca nas participações que teve no Planetário da Gávea e no Parque Lage, passou por um esgotamento mental, que o forçou a ficar em casa em 2019. Quando finalmente se recuperou e preparava-se para lançar o álbum After the flood, Rumpistol encontrou o mundo em isolamento por conta da pandemia, disse Batman Zavareze.

A ocupação do centro cultural pelo Festival Multiplicidade 2022 vai se estender também ao teatro do prédio, no Flamengo, com uma série de instalações antigas, relembrando momentos marcantes da trajetória do evento, como o vinil Barulho; a performance Blind date, de Naná Vasconcelos, na qual ele anteviu o apagão do Brasil; a série Multiplicidade no Canal Brasil, que atingiu mais de um milhão de pessoas; os 11 livros editados ao longo desses 17 anos; e a performance Máquina – Parte I, de Gabriela Mureb, realizada em 2017.

Na Biblioteca Parque, no centro da cidade, serão promovidas palestras e debates sobre economia criativa, o futuro dos festivais e das artes pós-pandemia no Brasil. “Estamos com a esperança de ver essa pandemia se acalmando um pouco”, comentou Zavareze.

Pré-estreia

A abertura simbólica do Festival Multiplicidade 2022 ocorreu no dia 2 de fevereiro, Dia de Iemanjá, com Aruanda, celebração da cultura afro-brasileira conduzida por pais, mães e filhos de santo de Umbanda e Candomblé. Tambores e cantos da Casa de Candomblé Onixêgun, uma geração da Casa de Jongo da Serrinha e convidados, entre eles, Luiz Ângelo da Silva, o Ogan Bangbala, de 102 anos, mais antigo Ogan do Brasil, acompanharam o evento. 

“Foi uma abertura espiritual, quase um ritual de cura”, informou Zavareze. Os organizadores esperavam, no máximo, 60 pessoas, mas quando fizeram o cortejo do Oi Futuro até a praia, mais de mil pessoas aguardavam para seguir com eles.

Segundo Zavareze, isso justifica porque fazer ainda um festival no Brasil, no Rio de Janeiro, e por tanto tempo continuado. Para ele, a expectativa de público está ligada à confiança. “Quanto mais a gente mostrar que as coisas estão acontecendo, mais eu acredito que vai haver uma circulação bastante significativa”. 

Mesmo não havendo carnaval no período, o co-curador avalia que o Multiplicidade será uma opção para moradores e visitantes do Rio de Janeiro. Ele acredita que quem vier “vai ver uma coisa nova, vai ter uma experiência incomum”.

Edição: Fernando Fraga

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