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Ações de ESG precisam transformar empresas de forma estrutural

Análise é de especialista em iniciativas socioambientais
Daniel Mello* - Enviado especial
Publicado em 23/06/2022 - 18:04
Curitiba

As ações de ESG (práticas ambientais, sociais e de governança) precisam transformar as empresas de forma estrutural, afirma o fundador do Instituto Legado, James Marins.

“Se você quer ter um comportamento ESG, você tem dois momentos para ter esse comportamento: da porta para dentro e da porta para fora. Não adianta você querer vender ESG da porta para fora se você não pratica ESG da porta para dentro”, disse ao palestrar no Viasoft Connect, evento de inovação que acontece em Curitiba.

O Instituto Legado trabalha há dez anos apoiando o crescimento de iniciativas socioambientais em todo o Brasil.

A sigla ESG surgiu em 2004, nas discussões do Pacto Global, uma iniciativa lançada pelo ex-secretário geral das Nações Unidas Kofi Annan para alinhar empresas a princípios na área de direitos humanos, meio ambiente, anticorrupção e trabalho decente.

Marins destaca que as empresas devem ter atenção às aspirações das pessoas mais jovens, seja como clientes, trabalhadores ou investidores. “As novas gerações têm novas demandas. Portanto, o seu consumidor, o seu colaborador, o seu fornecedor, quando ele já vem de uma nova geração, ele tem novos interesses”, diz sobre a atenção voltada aos temas sociais e ambientais.

Por isso, Marins enfatiza a importância das empresas se estruturarem levando em consideração as demandas atuais. “Dentre os seus colaboradores, quantos deles são negros? Quantas pessoas do sexo feminino estão em cargos de gestão da empresa? Qual é acessibilidade da sua empresa? Quantos cadeirantes você emprega? Você emprega algum programador cego?”, provocou.

Greenwashing

Apesar de essas ideias serem cada vez mais difundidas, o especialista lembrou que, na mesma proporção, tem crescido o número de empresas que tentam disfarçar más práticas. Esse tipo de ação desonesta também são conhecidas por nomes em inglês, como greenwashing – falsas boas práticas no campo ambiental –, blackwashing – falsa política de inclusão racial –, pinkwashing – falsa preocupação com as pautas relacionadas à causa LGBTQIA+.

“Departamento de marketing não pode ter nada a ver com ESG. Departamento de marketing pode bater palmas para o que está sendo feito, mas não pode determinar o que vai acontecer. ESG não é marketing, embora possa ser usado como marketing”, acrescentou o consultor.

Empresas que recorrem a fraudes em ESG estão, segundo ele, cada vez mais sujeitas a sofrer penalizações de consumidores, investidores e até legais. “Grandes instituições perdendo dinheiro na bolsa por estarem divulgando balanços baseados em ESG, mas que, na verdade, estão escondendo a sua verdadeira prática”, disse

Marins lembrou do caso da Volkswagen que sofreu multas e processos em diversos países, em 2017 e 2018, por ter fraudado os testes de emissão de poluentes. Em 2015, a montadora admitiu ter manipulado os testes de veículos à diesel, fingindo que os carros respeitavam os padrões de emissão de poluentes. No Brasil, por exemplo, a montadora chegou a ser multada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). 


*O repórter viajou a convite da organização do Viasoft Connect