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Polícia ouve mulheres que podem ter sido estupradas por anestesista

Médico Giovanni Quintella Bezerra está preso no Rio
Cristina Índio do Brasil - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 14/07/2022 - 14:51
Rio de Janeiro

A delegada Bárbara Lomba, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de São João de Meriti, no estado do Rio de Janeiro, vai ouvir hoje (14) duas mulheres que também fizeram partos no domingo passado (10), com a presença do anestesista Giovanni Quintella Bezerra, de 31 anos, indiciado por estupro de vulnerável.

Ele foi preso em flagrante na madrugada de segunda-feira (11), após a polícia ter acesso a um vídeo feito por profissionais da equipe que atuou na cirurgia de uma grávida, no domingo. As imagens mostram que o anestesista estuprou a mulher durante a cesariana no Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti.

As duas mulheres que serão ouvidas nesta quinta-feira estão entre as cinco que identificaram o médico como o profissional que realizou a anestesia durante as cirurgias. Outras três já prestaram depoimento. A polícia suspeita que as duas mulheres também possam ter sido estupradas pelo anestesista.

“Hoje nós aguardamos aqui duas possíveis vítimas. Há muitos indícios de que elas tenham sido vítimas realmente, porque foram operadas no dia 10 de julho, antes daquela vítima que está nas imagens. Já temos informações de que elas foram sedadas, possivelmente desnecessariamente”, revelou.

Mulher abalada

Segundo a delegada, a mulher identificada como vítima já recebeu a informação do que ocorreu enquanto estava sedada e está muito abalada. Bárbara Lomba contou que foi muito delicada a conversa que teve por telefone com a mulher.

“Eu, na verdade, quis falar com ela mais para prestar solidariedade e dizer que se sinta protegida, não será exposta, que o agressor está preso e nós faremos tudo que estiver ao nosso alcance para terminar a investigação e comprovar esse crime. Então, a tranquilizei neste sentido. Perguntei como ela estava e como estava o filho. Ela chorou, se emocionou, disse que está muito abalada psicologicamente, mas se colocou à disposição”, informou.

A policial acrescentou que há possibilidade de a vítima prestar depoimento em outro lugar, que não seja na delegacia. O marido só vai depor no mesmo dia em que a mulher for ouvida. “Estou aguardando a advogada entrar em contato. Vamos perguntar [se] ele [o médico] estava presente em uma parte do procedimento e a própria vítima, o que eles viram antes e depois do fato. Ele narra que foi pedido para que saísse da sala assim que o bebê nasceu, que era justamente quando o criminoso executava o crime”, concluiu.

A delegada Bárbara Lomba disse, ainda, que a vítima que sofreu o estupro mostrado no vídeo tomou um coquetel anti-HIV, conforme o protocolo para pessoas que sofrem violência sexual. Ela acha possível que as outras duas mulheres também tenham tomado o coquetel no próprio hospital. Bárbara analisa a possibilidade de pedir teste de HIV do médico, que, no entanto, não está obrigado a fazer o exame.

A investigação procura, ainda, saber se cerca de 30 mulheres que também fizeram partos com a presença do médico sofreram abuso, desde que ele concluiu a formação profissional em abril.

“Vamos continuar identificando. Não são relatos ainda. Nós precisamos investigar. Primeiro fazer uma triagem, saber qual foi o tipo de procedimento e aí vamos aprofundando. São mais de 30, não sei exatamente quantas, mas já identificadas como possíveis, foram pacientes”, disse.

Anestesista

Para a delegada, a repetição do crime praticado pelo anestesista é porque ele tinha a sensação de que não seria punido.

“Ele não achou que houvesse uma audácia e uma coragem muito [grande] da equipe de enfermagem de fazer essa gravação, jamais contou com isso e há toda uma circunstância de posição dentro de um hospital. Ele contava que não fosse ser pego, tanto que se surpreendeu quando foi dito a ele que havia uma imagem, na hora ele não disse nada e depois se calou e não quis mais falar”, afirmou.

O médico Giovanni Quintella Bezerra está preso desde terça-feira (12) na Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, Bangu 8, no Complexo de Gericinó, na zona oeste do Rio, para onde são levados os custodiados com nível superior. Por medida de segurança, ele está isolado em uma cela da galeria F da unidade e ontem, ao chegar, foi hostilizado por outros presos que reagiram batendo nas grades das celas e xingando.

“Toda essa ação criminosa é repugnante. Algo que não imaginávamos que pudesse acontecer, porque foi um abuso, inclusive de poder, de uma posição do agressor que estava com toda a legitimidade e utilizava dessa posição de que a priori não seria suspeito. Mais abominante ainda é a vítima estar totalmente indefesa na mão de uma pessoa que é um profissional de saúde, no qual se deposita confiança extrema. Uma das maiores confianças que podemos depositar é na mão de um médico, ainda mais em uma cirurgia”, completou a delegada.