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Com calor extremo, acesso à água é desafio para quem vive na rua

Prefeitura distribuiu garrafas de água, frutas e bonés
Eliane Gonçalves - Repórter da Rádio Nacional
Publicado em 28/09/2023 - 18:37
São Paulo
São Paulo (SP) 23/09/2023  Calor em São Paulo. Foto Paulo Pinto/ Agência Brasil.
© Paulo Pinto/ Agência Brasil

Pessoas em situação de rua sofrem com a dificuldade de acesso à água em dias de calor extremo em São Paulo, mas, além de ações emergenciais, é preciso pensar em adaptar as cidades para os eventos extremos do clima.

Esta semana, os termômetros ultrapassaram os 35ºC e a umidade relativa do ar ficou abaixo de 35% na capital paulista. Desde a quarta-feira (27), o tempo virou. Choveu forte em São Paulo e houve mudanças drásticas de temperatura. Nesta quinta-feira (28), a máxima não passou de 17ºC. 

Encontrar água para beber e sombra para se esconder do sol foi um desafio para as mais de 53 mil pessoas que vivem em situação de rua em São Paulo, de acordo com Levantamento do Observatório Polos de Cidadania, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Trata-se de uma população maior que a de quase 90% das cidades brasileiras, segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Desde a semana passada, a prefeitura de São Paulo organizou, pela primeira vez, a Operação Altas Temperaturas, com a distribuição de garrafinhas de água, frutas e bonés.

Mas, para quem atua nas ruas, como André Soler, fundador da SP Invisível, as medidas são insuficientes.

“Sempre que a gente tem uma variação muito grande de temperatura, a população de rua é refém dessa situação. A gente vai para rua o ano inteiro e a gente está sempre distribuindo água, e a população em situação de rua está sempre precisando de água", afirma. Ele destaca que os bebedouros públicos em São Paulo são insuficientes em relação ao tamanho da população. 

Eventos extremos

Para a professora Denise Duarte, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), o ato de distribuir garrafinhas de água é parte da resposta, mas os eventos extremos vão exigir mudanças mais complexas.

“Nós precisamos de ações mais estruturais, que, de fato, façam parte da vida das pessoas, do cotidiano das pessoas, e não só para adaptação às temperaturas extremas como também para todas as outras ocorrências, para todas as outras manifestações de mudanças climáticas", assegura.

Ela cita como exemplo a criação de estruturas que funcionem como espécies de oásis urbanos. "Uma rede - que tem que ser bem distribuída pela cidade - de espaços de resfriamento. Alguns edifícios âncora, de maior porte, para onde a população possa se dirigir nos momentos de calor extremo."

A pesquisadora também propõe aumentar a vegetação e a água nas áreas urbanizadas. "Este é o maior e melhor investimento para as nossas cidades", destaca. Para Denise, essas estruturas beneficiariam não apenas quem está morando nas ruas, mas todas as pessoas que trabalham ou que precisam se locomover pelas cidades.

Ela acrescenta que os esforços de adaptação precisam acontecer com urgência. "Os problemas estão ocorrendo agora para pessoas mais vulneráveis, tanto a população em situação de rua como as populações nas comunidades de assentamentos informais," opina.

Atendimento

Em nota, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (Smads) informou que mais de 98 mil atendimentos foram feitos em dez tendas montadas em locais estratégicos da cidade durante os primeiros sete dias de ações da Operação Altas Temperaturas.

Ainda segundo a pasta, do dia 20 às 16h dessa quarta-feira (27), por meio das tendas, foram distribuídos mais de 230 mil itens à população, sendo 88.588 garrafas de água de 500ml, 20.623 copos de chá gelado e 44.295 frutas, além de bonés e da oferta livre de água nos bebedouros da Sabesp, inclusive para animais, com estimativa de mais de 78 mil copos de 250ml utilizados.

"Os agentes dos Serviços Especializados de Abordagens Sociais (Seas) e do Ampara SP auxiliam diariamente nos atendimentos, realizando orientações socioeducativas e encaminhamentos para os serviços de acolhimento da rede socioassistencial", diz o texto.

Além disso, a secretaria aponta que as tendas oferecem estrutura para pessoas que queiram um abrigo com temperatura amena para descansar e se hidratar, com prioridade para pessoas em situação de vulnerabilidade.

*Matéria alterada às 21h35 para acréscimo de informações