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Roraima tem 22% dos focos de queimada de todo o país

São 2.295 pontos registrados no estado apenas este ano
Luciano Nascimento* - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 23/02/2024 - 13:58
São Luis
23/02/2024- A uma semana do final de fevereiro, o estado de Roraima já registrou 2.295 focos de queimadas, dos quais 1.691 ocorreram só neste mês. O fogo já chegou à Terra Indígena Yanomami, destruindo casas e roças. Foto Missão Catrimani/Divulgação
© Missão Catrimani/Divulgação

Com 2.295 focos de calor, o estado de Roraima ocupa o primeiro lugar no ranking de todo o país, respondendo sozinho por mais de 22% dos focos registrados no país. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de janeiro até a última quinta-feira (22), o país apresentou 7.957 focos de calor.

Somente em fevereiro, foram registrados pelos satélites do programa de queimadas do Inpe 1.691 focos ativos em Roraima. Desse total, mais de 1.000 foram registrados apenas esta semana. O fogo já atingiu a Terra Indígena Yanomami, destruindo casas e roças.

Os focos de calor são locais com altas temperaturas, passíveis de serem atingidos por incêndios. Atualmente, Roraima tem 8 dos 10 municípios do Brasil com o maior número de focos de calor, segundo o Inpe. A cidade de Mucajaí é a com o maior número de focos, 277; seguida por Caracaraí (264), Amajari (224), Rorainópolis (180), Iracema (114), Boa Vista (107), Alto Alegre (106) e Bonfim (97).

Nos últimos dias, diversos habitantes de Boa Vista relataram o incômodo com a fumaça produzida pelas queimadas. "Cheiro insuportável de fumaça em Boa Vista. Os olhos ardem, dor de cabeça, fica mais difícil respirar", escreveu o professor Amarildo Ferreira Júnior, do Instituto Federal de Roraima (IFRR) e da Universidade Federal de Roraima (UFRR), na rede social X (antigo Twitter). 

O município de Amajari, localizado a cerca de 150 quilômetros da capital e que faz limite com a Terra Indígena Yanomami, também tem sentido os efeitos das queimadas. Entre o território yanomami e a capital estão a Floresta Nacional de Roraima e a Estação Ecológica de Maracá.

O estado passa por um período de forte estiagem, agravado pela influência do fenômeno do El Niño. Três municípios já decretaram situação de emergência: Amajari, Uiramutã e Normandia.

Queimadas controladas

O Corpo de Bombeiros de Roraima aponta a prática local de atear fogo para “limpar” a terra como uma dos fatores que agravam a situação, uma vez que o fogo pode sair de controle. Na quarta-feira, o comandante-geral da corporação, Coronel Anderson Carvalho, visitou o município de Amajari, na região que abrange as localidades de Vila Nova e Vila do Trairão. O objetivo foi orientar os moradores sobre medidas de prevenção e segurança diante dos incêndios florestais na região.

“Hoje, nós temos seis equipes distribuídas em quatro pontos, combatendo os incêndios. Orientamos a população para que não façam queimadas, porque neste momento, com ventos fortes, vegetação seca e altas temperaturas é muito difícil controlar. Então, é melhor evitar”, disse o comandante em uma rede social.

Calamidade

23/02/2024- A uma semana do final de fevereiro, o estado de Roraima já registrou 2.295 focos de queimadas, dos quais 1.691 ocorreram só neste mês. O fogo já chegou à Terra Indígena Yanomami, destruindo casas e roças. Foto Missão Catrimani/Divulgação
Queimadas em Roraima batem recorde e atingem território yanomami, por Missão Catrimani/Divulgação

A situação fez com que a Assembleia Legislativa enviasse ao governo de Roraima uma indicação para ser decretado estado de calamidade pública e situação de emergência devido ao avanço das queimadas. Segundo o vice-presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Cabral (Cidadania), a iniciativa tem por objetivo buscar apoio das instituições estaduais para mitigar os danos causados pelos incêndios.

“Diante deste cenário alarmante, de seca extrema e estiagem duradoura, Roraima encontra-se em estado de emergência ambiental, sendo, portanto, nas atribuições que compete a este parlamentar, requisitar informações sobre possível plano de fortalecimento ao combate às queimadas e os dados de sua execução inicial, com referência a recursos humanos e materiais já em campo”, disse Cabral.

A reportagem da Agência Brasil entrou em contato com o governo de Roraima para saber quais medidas para combater os focos de calor estão sendo adotadas, mas até o momento não obteve retorno.

Procurados pela reportagem, o Ministério dos Povos Indígenas e a Funai afirmaram, em nota, que estão monitorando a situação das queimadas em Roraima e têm feito articulação com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e com outras instituições que atuam por meio do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), junto às brigadas e lideranças indígenas, para tentar conter a disseminação dos incêndios na região.

No dia 6 de fevereiro, o Ministério do Meio Ambiente declarou estado de emergência ambiental para riscos de incêndios florestais em Roraima entre os meses de setembro de 2024 a abril de 2025. O estado já está sob alerta do ministério para incêndios florestais até abril de 2024.

 

*Matéria ampliada às 18h25 para inclusão de informações sobre fogo na Terra Indígena Yanomami   //  Colaborou Letycia Bond