Oposição e governo da Venezuela demonstram disposição para negociar
Após dois dias reuniões na Venezuela, a comissão de chanceleres da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e o Núncio Apóstolico avaliaram que o governo do país e a Mesa da Unidade Democrática (MUD) - que congrega partidos opositores, têm disposição para continuar a dialogar. "Os chanceleres da Unasul e o Núncio Apostólico ressaltaram a vontade expressa pelo governo da Venezuela e representantes da Mesa da Unidade Democrática de seguir trabalhando na busca de soluções que beneficiem todos os venezuelanos", diz a nota divulgada hoje (19) pelo Itamaraty, resultado das reuniões da Comissão da Unasul.
A comissão é formada pelos chanceleres do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo; da Colômbia, María Angela Holguín e do Equador, Ricardo Patiño. De acordo com o comunicado, a MUD e o governo apresentaram ideias sobre os próximos passos a serem tomados no âmbito da mesa negociadora. O diálogo mediado pelos chanceleres da Unasul começou em abril e, desde então, a comissão participou de encontros em quatro oportunidades.
A visita dos chanceleres à Venezuela começou no último domingo (18) em clima mais tenso, porque a oposição havia decidido suspender o diálogo - que vinha acontecendo mesmo sem a presença da comissão - por causa da prisão de 243 estudantes há três semanas. Com a chegada dos chanceleres, os representantes da MUD retornaram à mesa de negociações.
De acordo com a imprensa venezuelana, a participação do Núncio Apostólico também foi "importante" para que o diálogo fosse retomado. "O Governo da República Bolivariana da Venezuela e os representantes da Mesa da Unidade Democrática (MUD) deverão agora refletir sobre os próximos avanços desse diálogo".
A nota diz que os chanceleres e o Núncio Apostólico esperam a determinação de uma nova data para a continuidade das reuniões o mais brevemente possível. O texto também manifesta "satisfação" dos chanceleres e da Igreja Católica pela "rejeição à violência" reiterada pelo governo e pela MUD, em todas as suas formas e manifestações.
Apesar das reuniões constantes, da mediação da Unasul e de discursos favoráveis ao diálogo, a polarização e o clima de protestos continuam. A imprensa local noticia que os protestos têm menos quantidade de pessoas, mas há atos mais violentos por parte de manifestantes, bem como forte repressão policial.
Ontem (19) à noite uma sucursal do Banco do Tesouro (estatal) e uma viatura da empresa Petróleos da Venezuela foram incendiados na localidade de Lechería, estado de Anzoátegui. As manifestações começaram a quase 90 dias no país, motivadas pela falta de segurança pública e problemas de abastecimento e alta inflação.