Acordo pode encerrar década de disputa sobre atividades nucleares no Irã
Uma semana decisiva. Assim o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, qualificou os dias que antecedem 24 de novembro. Na próxima segunda-feira, termina o prazo estabelecido no ano passado para a construção de um acordo que põe fim à década de disputa sobre as atividades nucleares iranianas. As negociações entre o Irã e seis poderes mundiais – os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas - ONU (Estados Unidos, França, Reino Unido, China e Rússia), mais a Alemanha – começaram hoje (18) em Viena, com a participação da ex-chefe de política externa da União Europeia, Catherine Ashton.
Ao chegar à capital austríaca, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, disse que um acordo ainda é possível mesmo com o prazo apertado, mas que as demandas excessivas do Ocidente podem atrapalhar. “Eu estou certo de que estamos aqui para encontrar uma solução que respeite os direitos da nação iraniana e que elimine as preocupações da comunidade internacional. Se houver desejo da outra parte de resolver a questão nós sairemos com um acordo, mas se por causa de excessivas demandas da outra parte não alcançarmos um resultado, o mundo vai entender que buscamos uma solução, um compromisso e um acordo, mas que não renunciaremos aos nossos direitos e não abriremos mão do bem-estar nacional”, disse Zarif.
As negociações se estenderão ao longo da semana. O acordo histórico visa a reconfigurar o programa nuclear iraniano para garantir que o país não seja capaz de enriquecer urânio em quantidade suficiente para construir uma bomba atômica em curto prazo. O governo do Irã nega objetivos militares e enfatiza que o enriquecimento de urânio não tem outros fins a não ser a produção de energia nuclear.
A capacidade de enriquecimento de urânio que será autorizada ao Irã é o primeiro ponto de discórdia. O país conta hoje com cerca de 19 mil centrífugas, 10 mil em funcionamento (centrífugas são equipamentos fundamentais para o processo de enriquecimento do urânio). Os Estados Unidos, em um primeiro momento, propuseram a redução para 4.500 centrífugas, número considerado abusivo pelo governo iraniano. Outra questão polêmica é o quão rápido as sanções impostas ao Irã nos últimos anos podem ser retiradas. O governo iraniano quer o fim imediato do embargo da União Europeia ao petróleo do país e das sanções impostas pelos membros do Conselho de Segurança da ONU. Nações como os Estados Unidos, por exemplo, oferecem a suspensão temporária, já que a eliminação definitiva das sanções depende da aprovação do Congresso.
A contenda envolvendo o programa nuclear iraniano começou em 2002, quando as potências suspeitaram que o Irã estava enriquecendo urânio em segredo. As atividades foram reveladas no saguão da usina de Natanz, na região central do Irã, e passaram a sofrer rígida inspeção da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea).
Em 2009, a crise se aprofundou, quando foi descoberta a construção de uma segunda fábrica de enriquecimento de urânio, dentro de uma montanha, nas proximidades da cidade de Qom. A descoberta desencadeou uma série de sanções contra o país, entre elas o banimento das importações do petróleo iraniano pela União Europeia, o que atingiu fortemente a economia do Irã. Em novembro do ano passado, um acordo temporário foi assinado, congelando as atividades nucleares e as sanções, mas ele expira na próxima segunda-feira.
A celebração de um acordo definitivo não só encerraria a polêmica em torno das atividades nucleares iranianas como também abriria caminho para possíveis cooperações do Irã com o Ocidente, nos conflitos com o Estado Islâmico no Iraque e na Síria.