Fotos de desertor são "provas contundentes de crime contra humanidade" na Síria

Publicado em 16/12/2015 - 11:46 Por Da Agência Lusa - Beirute

As fotos de milhares de pessoas torturadas até a morte em prisões sírias, divulgadas por um desertor, foram consideradas pela organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) “prova contundente” de crimes contra a humanidade. A conclusão da investigação conduzida pela HRW foi divulgada hoje (16).

Ao longo de nove meses, a organização de defesa dos direitos humanos investigou 28.707 das mais de 53 mil fotografias retiradas clandestinamente da Síria pelo fotógrafo da polícia militar que desertou em julho de 2013 e recebeu o codinome de Caesar, para preservar sua identidade.

As fotos mostram corpos de cerca de 6 mil detidos sírios, muitos com sinais de tortura e de fome que, supostamente, morreram em centros de detenção ou em hospitais militares. “Verificamos meticulosamente dezenas de histórias e estamos confiantes de que as fotografias de Caesar apresentam provas autênticas e contundentes de crimes contra a humanidade na Síria”, afirmou o vice-diretor da HRW para o Médio Oriente, Nadim Houry.

A HRW identificou 27 vítimas e entrevistou 33 familiares, 37 ex-detidos e quatro ex-guardas de centros de detenção ou hospitais militares que desertaram. Uma das vítimas, Ahmad al-Musalmani, de 14 anos, morreu na prisão depois de ter sido detido em 2012 porque seu celular continha uma música contra o regime.

O tio de Ahmad, Dahi al-Musalmani, passou anos tentando localizar o sobrinho e gastou mais de US$ 14 mil dólares em subornos para negociar sua libertação. O tio só soube do destino de Ahmad quando o identificou em fotografias de Caesar. “Fui diretamente à pasta dos serviços de informações da Força Aérea e encontrei-o”, disse à HRW. “Foi um choque", concluiu.

A organização apelou aos países envolvidos em negociações de paz para a Síria que deem prioridade à libertação dos milhares de prisioneiros. “Aqueles que estão empenhados em um processo de paz devem garantir que estes crimes acabam e que as pessoas que supervisionaram este sistema são responsabilizadas pelos seus crimes”, acrescentou.

A Rússia e o Irã, principais aliados do presidente sírio, Bashar al-Assad, têm uma "responsabilidade particular” de garantir o acesso imediato de observadores internacionais aos centros de detenção no país, defendeu a Human Rights Watch.

“O Governo registrou estas mortes, processando dezenas de cadáveres de cada vez, e nada fez para investigar as causas de morte ou para prevenir que outras pessoas sob sua custódia morressem”, disse Houry.

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