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Internacional

Fotos de desertor são "provas contundentes de crime contra humanidade" na Síria

Da Agência Lusa
Publicado em 16/12/2015 - 11:46
Beirute
epa04414407 Syrian refugees wait at the Syrian-Turkish border near Sanliurfa, Turkey, 24 September 2014. The Islamic State assault against dozens of Kurdish villages in northern Syria could create a mass exodus, with up to 400,000 seeking refuge in neighbouring Turkey, a United Nations official warned. According to Turkish authorities, 138,000 Kurdish Syrians have poured into the country since late last week. It is unclear if the entire population of the region will ultimately end up fleeing, UN refugee agency (UNHCR) spokeswoman Melissa Fleming said.  EPA/SEDAT SUNA
© EPA/SEDAT SUNA/Proibida reprodução

As fotos de milhares de pessoas torturadas até a morte em prisões sírias, divulgadas por um desertor, foram consideradas pela organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) “prova contundente” de crimes contra a humanidade. A conclusão da investigação conduzida pela HRW foi divulgada hoje (16).

Ao longo de nove meses, a organização de defesa dos direitos humanos investigou 28.707 das mais de 53 mil fotografias retiradas clandestinamente da Síria pelo fotógrafo da polícia militar que desertou em julho de 2013 e recebeu o codinome de Caesar, para preservar sua identidade.

As fotos mostram corpos de cerca de 6 mil detidos sírios, muitos com sinais de tortura e de fome que, supostamente, morreram em centros de detenção ou em hospitais militares. “Verificamos meticulosamente dezenas de histórias e estamos confiantes de que as fotografias de Caesar apresentam provas autênticas e contundentes de crimes contra a humanidade na Síria”, afirmou o vice-diretor da HRW para o Médio Oriente, Nadim Houry.

A HRW identificou 27 vítimas e entrevistou 33 familiares, 37 ex-detidos e quatro ex-guardas de centros de detenção ou hospitais militares que desertaram. Uma das vítimas, Ahmad al-Musalmani, de 14 anos, morreu na prisão depois de ter sido detido em 2012 porque seu celular continha uma música contra o regime.

O tio de Ahmad, Dahi al-Musalmani, passou anos tentando localizar o sobrinho e gastou mais de US$ 14 mil dólares em subornos para negociar sua libertação. O tio só soube do destino de Ahmad quando o identificou em fotografias de Caesar. “Fui diretamente à pasta dos serviços de informações da Força Aérea e encontrei-o”, disse à HRW. “Foi um choque", concluiu.

A organização apelou aos países envolvidos em negociações de paz para a Síria que deem prioridade à libertação dos milhares de prisioneiros. “Aqueles que estão empenhados em um processo de paz devem garantir que estes crimes acabam e que as pessoas que supervisionaram este sistema são responsabilizadas pelos seus crimes”, acrescentou.

A Rússia e o Irã, principais aliados do presidente sírio, Bashar al-Assad, têm uma "responsabilidade particular” de garantir o acesso imediato de observadores internacionais aos centros de detenção no país, defendeu a Human Rights Watch.

“O Governo registrou estas mortes, processando dezenas de cadáveres de cada vez, e nada fez para investigar as causas de morte ou para prevenir que outras pessoas sob sua custódia morressem”, disse Houry.