Paulo Sérgio Pinheiro fala sobre armas químicas na Síria na TV Brasil
O brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da Comissão Internacional de Investigação das Nações Unidas para Crimes na Síria (ONU), conversa nesta segunda-feira (7) com o jornalista Moisés Rabinovici no programa Um Olhar sobre o Mundo que vai ao ar às 21h45 pela TV Brasil.
Durante o programa, eles vão debater a situação do país envolvido em uma guerra há sete anos, onde lutam forças governamentais lideradas pelo presidente Bashar Al Assad, diferentes grupos rebeldes, mercenários, forças de países vizinhos e de grandes potências. Pinheiro, que é doutor em Ciência Política pela Universidade de Paris, foi professor na Universidade de São Paulo (USP), em universidades americanas e francesas. Foi ministro da Secretaria de Direitos Humanos do governo Fernando Henrique Cardoso e um dos seis criadores da Comissão da Verdade, nos governos Lula e Dilma Rousseff. É reconhecido internacionalmente como uma autoridade em direitos humanos e nessa condição foi indicado pela ONU para observar a guerra da Síria.
O representante da ONU disse que a última intervenção conjunta dos Estados Unidos, na França e no Reino Unido sobre um depósito de armas químicas e um centro de pesquisa na Síria, em retaliação pelos ataques com gás feitos pelas forças sírias contra os rebeldes, não mudou nada no conflito.
Segundo o professor, não há clareza sobre a autoria dos ataques com gás e existe também a hipótese de que os autores possam ter sido grupos rebeldes. O fato é que as atrocidades continuam a atingir de todos os lados a população civil. Ele destacou que, tanto por parte do governo como dos grupos de rebeldes, a sociedade civil é vista como inimigo. "A guerra é dentro das cidades, com total desprezo às regras de engajamento da Convenção de Genebra. Não há mãos limpas na Síria", relatou. O professor reafirmou que a comissão que preside não investiga quem são os autores dos ataques, mas seus efeitos junto a população civil.
Pinheiro classificou como horrendos os ataques com agentes químicos, mas destacou que as armas convencionais fazem o maior número de vítimas na Síria. "São ataques horrendos. Contra as leis da guerra". Ainda assim, disse, existem imagens que normalmente passam por ele por força de sua atuação e que são "ainda mais dilacerantes" envolvendo mulheres, idosos e crianças atingidos pela guerra na Síria.
Na conversa com Rabinovici, o representante da ONU salientou que com relação ao conflito sírio existe atualmente até uma certa banalização de sentimentos pela opinião pública mundial. Lembrou que ali acontecem crimes contra a população civil, inclusive estupros por alguns grupos rebeldes como forma de retaliação e violência sexual usada como arma de guerra. Para ele, tem que ser cuidadoso ao examinar as imagens que chegam à comissão que preside porque há muitas distorções e uma verdadeira guerra de comunicação sobre os fatos que ocorrem na Síria.
Pinheiro tem mandato frente à Comissão Internacional de Investigação das Nações Unidas para Crimes na Síria até março de 2019. Para ele, o que ocorre naquele país não é um conflito internacional. "É um conflito internacionalizado. Não existe perspectiva de uma solução próxima para aquela guerra. Não há solução militar para a crise síria. O único caminho possível para a paz é reunir todas as partes envolvidas em um diálogo político construtivo", disse.