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Internacional

Há regiões na Índia onde vai ser impossível sobreviver, mostra estudo

RTP (emissora pública de televisão de Portugal)
Publicado em 04/07/2019 - 10:00
Nova Delhi
India, calor, aquecimento. REUTERS/P. Ravikumar
© REUTERS/P. Ravikumar/Direitos Reservados

Algumas áreas da Índia poderão ficar inabitáveis dentro de alguns anos, dizem investigadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Os cientistas prevêem que, num cenário de aumento das temperaturas médias globais de 4,5 graus, regiões da Índia não serão seguras para a sobrevivência humana.

As ondas de calor tornaram-se realidade incontestável na vida dos indianos. Em 2018, 5 mil pessoas morreram vítimas das 484 ondas de calor oficiais por todo o país, que ocorrem entre março e julho. A cidade de Churu, próxima de Nova Deli, registou o recorde de temperatura – 50,6 graus.

Investigadores do MIT estudaram a questão da capacidade de sobrevivência no Sul da Ásia, analisando dois cenários apresentados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.

O primeiro cenário considera um aumento das temperaturas médias globais de 4,5 graus até 2100. O segundo, mais otimista, prevê um aumento de 2,22 graus até o fim do século. Os dois valores são superiores ao objetivo estabelecido no Acordo de Paris – menos de 2 graus.

No cenário mais otimista, nenhuma parte do Sul da Ásia ultrapassaria os limites da capacidade de sobrevivência até 2100. No caso do primeiro cenário, as emissões globais de dióxido de carbono permanecerão elevadas.

Se as temperaturas globais subirem 4,5 graus, algumas áreas do noroeste da Índia e de Bangladesh serão inabitáveis. Outras regiões do país estarão próximas do limite da inabitabilidade, assim como outros países do Sul da Ásia. É o caso de partes do Sri Lanka e do Paquistão.

A capacidade de sobrevivência ou habitabilidade é determinada com base na "wet bulb temperature", um tipo de termômetro que considera a umidade e a temperatura exterior. 

Os seres humanos só podem sobreviver dentro de um determinado leque de temperaturas. Quando elas são excessivas, as pessoas podem baixar a temperatura do corpo pela transpiração.

Para os investigadores do MIT, mesmo que o mundo reduza as emissões de dióxido de carbono, algumas regiões da Índia ficarão tão quentes, que a capacidade de sobrevivência humana será questionada.

Mais pobres

As zonas da Índia em risco de sobrevivência são também algumas das mais vulneráveis, devido a economias pobres, fortemente dependentes da agricultura e da pesca, e devido à significativa densidade populacional, com mais de 4 milhões de habitantes.

Para essas pessoas, os efeitos da crise climática, como as temperaturas extremas, são particularmente sentidos.

Com a subida da temperatura e a seca, as terras tornam-se inférteis, diminuindo a produção alimentar. A poluição marítima afeta também os peixes, que podem ser contaminados e, por sua vez, se consumidos, poderão levar ao aparecimento de novas doenças. 

O preço dos alimentos aumenta, fazendo com que o acesso a eles se torne mais difícil, podendo levar à fome milhões de pessoas. Por outro lado, a competição pelos recursos pode intensificar-se, aumentando a probabilidade de conflitos.

Inevitavelmente, os locais afetados terão de fechar escolas, comprometendo a educação e o futuro emprego de milhares de pessoas.

Crise humanitária

A Índia é o segundo país mais populoso do mundo, com cerca de 1,3 bilhão de habitantes. Bangladesh, outro país que será potencialmente afetado, tem cerca de 163 milhões. 

Com a previsão da comunidade científica sobre o agravamento das ondas de calor, cresce também o medo de uma crise humanitária, resultando na deslocação forçada de milhões de pessoas e a capacidade de vários países de acolher os futuros refugiados climáticos. 

A Índia ou Bangladesh não são os únicos fortemente afetados pela crise climática. Outros, como o Tuvalu, as Maldivas e as Seychelles estão em risco de desaparecer devido à subida do nível do mar e seus efeitos nos recursos naturais. Prevê-se que as ilhas se tornem inabitáveis nos próximos 50 a 100 anos – possivelmente mais cedo que partes da Índia.