Primeira-ministra da Nova Zelândia renuncia ao cargo
A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, anunciou hoje (19), em Wellington, que "não tinha mais nada no tanque" para continuar liderando o país. Ela disse que deixará o posto no mais tardar no início de fevereiro e não buscaria a reeleição.
Ardern, contendo as lágrimas, disse que foram cinco anos e meio difíceis como primeira-ministra e que ela era apenas humana e precisava se afastar.
"Neste verão, eu esperava encontrar uma maneira de me preparar não apenas para mais um ano, mas para mais um mandato - porque é isso que este ano exige. Não fui capaz de fazer isso", disse Arden, de 42 anos, em uma entrevista coletiva.
"Sei que haverá muita discussão após esta decisão sobre qual foi a chamada razão 'real'... O único ângulo interessante que você encontrará é que, depois de seis anos de alguns grandes desafios, eu sou humana", afirmou. "Os políticos são humanos. Nós damos tudo o que podemos, pelo tempo que pudermos, e então chega a hora. E para mim, está na hora" explicou.
Eleição no domingo
A eleição para indicar um novo líder do governista Partido Trabalhista será no domingo. O escolhido será primeiro-ministro até as próximas eleições gerais. O mandato de Ardern como líder será concluído até 7 de fevereiro e uma eleição geral será realizada no dia 14 de outubro. Ardern disse que acredita que os trabalhistas ganharão as próximas eleições.
O vice-primeiro ministro neozelandês, Grant Robertson, que também atua como ministro das Finanças, revelou que não buscará se candidatar como o próximo líder trabalhista.
O sucessor de Ardern como líder do partido e primeiro-ministro enfrenta um teste severo em uma eleição geral, com o apoio do Partido Trabalhista caindo e com a expectativa de que o país entre em recessão no próximo trimestre.
Uma pesquisa 1News-Kantar - divulgada em dezembro - mostrou os trabalhistas com apoio de 33%, contra 40% no início de 2022. Isso significa que, mesmo com o tradicional parceiro da coalizão, o Partido Verde, com 9% de apoio, os trabalhistas não conseguiram manter a maioria no parlamento.
Observadores apontam vários ministros de Ardern com possibilidades para o posto de líder e premiê, incluindo o ex-ministro da covid e atual titular da Educação e Polícia, Chris Hipkins, e a atual ministra da Justiça, Kiri Allan.
Ardern frisou que não estava renunciando porque o trabalho é difícil, mas porque acredita que outros podem fazer um trabalho melhor.
Ela disse a sua filha Neve que estava ansiosa para estar lá quando ela começou a estudar este ano e afirmou ao seu parceiro de longa data Clarke Gayford que estava na hora de se casarem.
Ardern surgiu no cenário mundial em 2017 quando se tornou a mulher mais jovem do mundo a assumir o posto de chefe de governo aos 37 anos de idade.
Direitos das mulheres
Montando uma onda de "Jacinda-mania", ela fez uma campanha apaixonada pelos direitos das mulheres e pelo fim da pobreza infantil e da desigualdade econômica no país.
Oito meses depois de se tornar primeira-ministra, ela foi a segunda líder eleita a dar à luz enquanto estava no cargo, depois de Benazir Bhutto, do Paquistão. Muitos viram Ardern como parte da onda de líderes femininas progressistas, incluindo a primeira-ministra finlandesa Sanna Marin.
Seu estilo de liderança empática foi cimentado por sua resposta aos tiroteios em massa em duas mesquitas em Christchurch, em 2019, que mataram 51 pessoas e feriram 40.
"Seu chamado universal à unidade humana com compaixão me fez chorar de alegria naquela época, e me faz chorar agora", disse Farid Ahmed, sobrevivente e marido de uma vítima de um ataque de Christchurch.
"Sua bondade, sabedoria e esforços por um mundo pacífico têm sido um exemplo notável para os líderes mundiais", disse ele. "Entendo que ela precisa de descanso, e desejo-lhe tudo de bom em sua vida," acrescentou.
Ardern rapidamente rotulou os ataques de "terrorismo" e usou um hijab quando se encontrou com a comunidade muçulmana um dia após o ataque, dizendo que todo o país estava "unido no desgosto". Ela prometeu e entregou uma grande reforma na lei de armas dentro de um mês.
Ardern ganhou aplausos em todo o espectro político por ter lidado com a pandemia da covid-19, que viu o país enfrentar algumas das medidas mais rigorosas do mundo, mas que também resultou em um dos menores índices de mortalidade.
Mas sua popularidade diminuiu no ano passado, pois a inflação subiu para os maiores patamares em quase três décadas, o banco central aumentou agressivamente a taxa de juros e a criminalidade cresceu.
O país tem se tornado cada vez mais dividido politicamente sobre questões como a reforma da infraestrutura hídrica proposta pelo governo e a introdução de um programa de emissões agrícolas. Ardern e os trabalhistas viram seu apoio nas pesquisas de opinião sofrer.
Comentaristas políticos dizem que a saída de Ardern reforçará o Partido Nacional conservador da oposição, mas também poderá dar aos trabalhistas uma chance de se refrescarem e se reposicionarem antes das eleições.
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