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Internacional

Relatório Earth4All mostra que bomba populacional não vai explodir

Projeção fica abaixo das estimativas da ONU
Carla Quirino - Repórter da RTP
Publicado em 27/03/2023 - 13:07
Lisboa
População caminha no centro de Duque de Caxias, primeiro município do Rio de Janeiro a flexibilizar o uso de máscara.
© Tomaz Silva/Agência Brasil
RTP - Rádio e Televisão de Portugal

A população mundial atingirá 8,8 bilhões de pessoas antes da metade do século, mas depois cairá para perto de 7 bilhões em 2100 se as tendências atuais se mantiverem. Essa é a estimativa do último relatório do coletivo Earth4All - uma das principais instituições econômicas e de ciência ambiental - encomendado pela organização Clube de Roma e divulgado nesta segunda-feira (27).

A projeção de como a população global mudará está muito abaixo das estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU). Os números podem cair ainda mais rapidamente se houver investimento na redução da pobreza e da desigualdade, defende o estudo.

Depois do pico de crescimento atéa metade do século 21, com a população mundial chegando a 8,8 bilhões de pessoas, a queda que se seguirá pode ser de 2 bilhões a 3 bilhões até o fim do século.

O relatório da Earth4All foi criado para identificar as políticas que trazem maior bem para a maioria das pessoas. O estudo também sugere que se os líderes mundiais investirem num “salto gigante” para reduzir a pobreza e a desigualdade, evitarão a temida “explosão populacional”.

“Mesmo que os números não sejam tão assustadores quanto algumas previsões mais antigas, isso não significa que não tenhamos problemas”, diz Beniamino Callegari, da Kristiania University College, em Oslo, na Noruega, um dos autores do relatório, citado na edição online do jornal britânico The Guardian.

Meio ambiente

O documento alerta que a queda nas taxas de natalidade, por si só, não resolverá os problemas ambientais do planeta.

Uma população mundial em queda ajudará a aliviar os problemas ambientais, mas, por si só, não impedirá de atingir os pontos de inflexão, cujo risco de desestabilizar os sistemas de suporte à vida da Terra são claros, afirma David Collste, membro da equipe da Universidade de Estocolmo, na Suécia.

“A população não é a única parte”, diz Collste. Há que se levar em conta o consumo excessivo de recursos de uma minoria rica. “É o que as pessoas fazem, como fazem e quanto fazem", lembram os pesquisadores.

“Isso nos dá evidências para acreditar que a bomba populacional não vai explodir, mas ainda enfrentamos desafios significativos do ponto de vista ambiental. Precisamos de grande esforço para enfrentar o atual paradigma de desenvolvimento de superconsumo e superprodução, que são problemas maiores do que a população.”

Por outro lado, a redução de pessoas em idade ativa deverá dificultar o financiamento de cuidados de saúde e reformas. “A transição não será fácil, porque significa a existência de grande parte da população mais envelhecida”, lembra Callegari.

Cenários 

De acordo com as estimativas da ONU, a população mundial ultrapassou a barreira dos 8 bilhões no fim do ano passado. Na estimativa até 2100, não são considerados os fatores que determinam quantos filhos as pessoas têm ou quanto tempo vivem.

Além de variáveis como o nível de educação das mulheres e o acesso à contracepção, o modelo apresentado é mais complexo e inclui fatores ambientais, econômicos e sociais, como a produção de alimentos, o rendimento, os impostos, a energia e as desigualdade – e os ciclos de retorno entre esses fatores. Também incorpora os impactos esperados do aquecimento global.

A projeção da Earth4All, embora diferente de outras já apresentadas, está “dentro do alcance dos nossos cenários caso o progresso na educação feminina global ocorra mais rápido”, com melhor acesso aos métodos de contracepção, diz o relatório.

Para que o cenário de redução demográfica ocorra mais rápido, a iniciativa do Clube de Roma pede um esforço global para melhorar o bem-estar de todos no planeta.

Os pontos-chave apontados envolvem reduzir a pobreza, investindo milhões de dólares em empregos verdes; suspender dívidas; reduzir a desigualdade aumentando os impostos sobre os mais ricos; melhorar a igualdade de gênero, garantindo que mais mulheres recebam educação melhor; promoção de dietas mais saudáveis e ecológicas; implementar mais e melhores redes elétricas a partir de fontes renováveis.

A pesquisa foi realizada pelo coletivo Earth4All das principais instituições económicas e de ciência ambiental, incluindo o Potsdam Institute for Climate Impact Research, o Stockholm Resilience Center e a BI Norwegian Business School.

A análise do coletivo Earth4All, encomendada pelo Clube de Roma, dá seguimento ao projeto de mais de 50 anos, conhecido por Limits to Growth.

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