Rendimento é fator-chave para efeitos do calor e da vulnerabilidade

É o que mostra estudo de pesquisadores europeus

Publicado em 28/08/2024 - 11:15 Por RTP* - Madri

O calor mata na Europa e a população com menores rendimentos é quem mais sofre. A relação entre os dois fatores tem sido debatido por especialistas, especialmente na Espanha, onde foi analisado como o calor extremo afetou 17 distritos em Madri. O estudo mostra que pessoas de grupos de rendimento abaixo da média têm mais probabilidade de morrer diante de altas temperaturas do que outras com maior capacidade econômica.

“É senso comum”, afirma Julio Díaz Jiménez, pesquisador do Instituto de Saúde Carlos III, de Madri, e coautor da análise. Ele lembra que o clima quente, potencializado pela poluição de carbono, matou quase 50 mil pessoas em toda a Europa, em 2023.

“Precisamos fazer soar o alarme de que isso é extremamente urgente”, afirma Yamina Saheb, autora principal do mais recente relatório do IPCC, Painel Intergovernamental dedicado à mitigação das Alterações Climáticas.

“Precisamos decidir se esta é a última vez que teremos pessoas morrendo por causa do calor em países europeus”, acrescenta.

Díaz Jiménez, ao analisar o impacto das altas temperaturas que atingiram 17 distritos da capital espanhola, revela que as ondas de calor tiveram impacto na mortalidade em apenas três áreas — aquelas onde o rendimento familiar estava abaixo da média.

“Uma onda de calor não é a mesma quando se está num quarto partilhado com outras três pessoas e sem ar condicionado, comparativamente a quem está num condomínio com acesso a piscina e ar condicionado” argumenta Díaz Jiménez, citado na publicação The Guardian.

Ampliando para todo o território espanhol “vimos a mesma coisa”, afirma. E deixa claro: “Quando se trata de calor e vulnerabilidade, o fator-chave é o nível do rendimento”.

No início deste ano, a organização Save the Children alertou que uma em cada três crianças na Espanha não conseguia se refrescar em casa. A instituição de defesa da criança afirmou que essa precariedade apresenta influência “extremamente prejudicial” na saúde mental e física de mais de 2 milhões de crianças.

As pessoas pobres vivem, na maioria das vezes, em casas de menor qualidade, lotadas com familiares, e com falhas graves de ventilação. O rendimento baixo deixa essa faixa da população mais propensa a sofrer condições que podem ser exacerbadas pelo calor extremo.

Muitos desses trabalhadores têm atividades ligadas à agricultura e construção, onde estão normalmente expostos a altas temperaturas.

A relação entre estresse derivado do calor e a pobreza também tem sido debatido na Universidade norte-americana de Maryland, que documentou como bairros de baixo rendimento no país tinham maior probabilidade de serem mais quentes do que seus equivalentes menos pobres

A Europa está aquecendo a um ritmo muito mais rápido do que outras partes do mundo. O ano de 2023 foi classificado como o mais quente registrado até agora e 2024 vai na mesma direção. 

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