SBPC premia pesquisa que criou larvicida contra Aedes usando óleo de sucupira
Um estudo que levou ao desenvolvimento de um larvicida contra o mosquito Aedes aegypti foi um dos seis agraciados do 14º Prêmio de Destaque do Ano na Iniciação Científica, entregue pela Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC) hoje (18), em Belo Horizonte.
Em busca de um produto que auxiliasse no combate ao vetor de doenças como a dengue, a zika e a chikungunya, o pesquisador Ícaro Sarquis, da Universidade Federal do Amapá (Ufap), apostou no óleo da semente de sucupira, uma árvore do Cerrado que atinge entre 8 e 16 metros de altura.
O efeito do óleo de sucupira sobre as larvas do Aedes aegypti já era conhecido pela ciência. No entanto, seu uso para controle do mosquito era inviável já que o produto não é solúvel em água. Este obstáculo foi superado com a técnica desenvolvida por Sarquis, que isolou uma substância do óleo e a partir dela desenvolveu um produto nanoestruturado, isto é, composto por pequenas partículas. “O tamanho dessas partículas faz toda a diferença, porque faz com que o efeito seja maior e com que a substância permaneça mais tempo seja em água, em óleo, em medicamento, etc.”
Além de ser natural e sustentável, o produto tem como vantagem a liberação da substância de forma controlada. “Ele permanece na água por muito mais tempo do que os produtos que estão no mercado. Ele é diferente de outros larvicidas, cuja ação dura pouco”, explica Sarquis. O produto já está patenteado e a próxima etapa é encontrar parceiros na indústria que tenham interesse em levar a inovação ao mercado.
Outros cinco pesquisas também foram reconhecidas com o prêmio, entregue durante a 69ª Reunião Anual da SBPC, que ocorre no campus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na capital mineira. Na categoria Ciências da Vida, além de Sarquis, foi premiada a pesquisadora Ana Luiza Martins Karl, do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), que desenvolveu uma modelagem molecular computacional de inibidores para a acetilcolinesterase, uma enzima cuja disfunção está associada ao mal de Alzheimer e outras enfermidades.
Na categoria Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes, Laura Olguins de Moura, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi premiada por um trabalho com o uso de digitalização tridimensional, usada geralmente em jogos digitais e em cinema. A pesquisadora apresentou uma inovação ao aplicar esta tecnologia para a documentação e preservação de bens materiais instalados em espaços públicos, criando um acervo virtual que pode ser usado, por exemplo, em caso de depredação do patrimônio ou para reprodução de modelos 3D em museus.
A pesquisadora Eliana Lins Morandi, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), também foi premiada na mesma categoria por um estudo sobre a segregação territorial e racial.
Gabrielle Pierangeli, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC), recebeu o prêmio na categoria Ciências Exatas, da Terra e Engenharias por avaliar o efeito da inoculação de determinados fungos e bactérias no desenvolvimento de mudas de cana-de-açúcar. Também nesta categoria, Daniel Schwalbe Koda, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), desenvolveu estudo sobre materiais bidimensionais, se aprofundando em um ramo da ciência que vem ajudando a encontrar novas aplicações em dispositivos eletrônicos e na nanotecnologia.
Premiação
O 14º Prêmio de Destaque do Ano na Iniciação Científica recebeu ao todo 450 trabalhos, envolvendo 154 instituições de pesquisa. Os vencedores receberão R$ 7 mil em dinheiro e bolsas de mestrado ou doutorado.
Até sábado (22), cerca de 10 mil pessoas participam diariamente de debates sobre políticas públicas e sobre os avanços das diversas áreas do conhecimento na UFMG. A reunião da SBPC é considerada o maior evento científico do Hemisfério Sul.
Criada em 1948, a SBPC dedica-se à defesa do avanço científico e tecnológico e do desenvolvimento educacional e cultural do Brasil. Atualmente, a entidade tem 127 sociedades científicas associadas, de todas as áreas do conhecimento.