Integração com América Latina não é anti-imperialismo, diz Marco Aurélio Garcia
O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, disse hoje (10) que o investimento do Brasil na busca pela integração econômica, política, social e cultural da América Latina está determinado no Artigo 4º da Constituição Federal e nada tem a ver com “posturas anti-imperialistas do passado”.
Durante o seminário Rumos da Política Externa Brasileira, na Câmara dos Deputados, Garcia destacou que o Brasil e a América Latina têm de construir relações sólidas e consolidadas com os Estados Unidos e a União Europeia, que devem se manter como importantes para o equilíbrio econômico mundial, com seus enormes potenciais econômico, científico e tecnológico.
“Distinto do que afirmam alguns analistas, nem os mecanismos de integração sul-americana, nem o Brics [grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] ou nossa política de aproximação com a África e com os países árabes implicam postura de confronto com as grandes potências, menos ainda estão incluídas em um sentimento antiamericano”, disse ele. “A pretendida analogia com os processos terceiro-mundistas do passado é historicamente impertinente. O mundo não está mais dividido em dois mundos”, ressaltou.
Garcia disse ainda que o Brasil não é uma “agência de certificação internacional em matéria de democracia e direitos humanos” e que o país sabe o quanto é necessário avançar em seu próprio processo democrático e reduzir os déficits que ainda tem em seu território na preservação dos direitos humanos, apesar dos esforços já feitos. “Não pregaremos para países pequenos ao mesmo tempo em que silenciamos sobre violações por parte das grandes potências”.
O assessor especial se contrapôs às críticas feitas pelo comentarista de política internacional Demétrio Magnoli que, também convidado para falar no seminário, disse que a política externa brasileira é orientada por um “objetivo doutrinário e ideológico” de produzir um mundo multipolar. Na opinião de Magnoli, os interesses nacionais estão sendo substituídos por esse objetivo.
“Essa orientação da política externa brasileira, que é a ideia de que alianças estratégicas Sul-Sul devem reconfigurar a ordem mundial em detrimento dos centros tradicionais no Norte geopolítico, ou seja, dos Estados Unidos e seus aliados europeus, se expressa tanto no campo da diplomacia comercial quanto no campo estratégico. Tanto em um quanto em outro, os interesses nacionais brasileiros são substituídos por uma visão ideológica de como deve se configurar o sistema internacional”, disse.
Segundo Magnoli, um objetivo permanente de política externa é o desenvolvimento nacional, que nos últimos anos ficou de lado com a recusa brasileira de inserção em fluxos comerciais que não fossem a conclusão das negociações da Rodada Doha, “rechaçando” a ideia de acordos bilaterais de comércio. Magnoli também disse que o Brasil adota posturas diferenciadas em temas internacionais, de acordo com a proximidade política. Como exemplos, citou a condenação aos ataques de Israel à Faixa de Gaza e o “silêncio completo” sobre as denúncias de tortura a manifestantes na Venezuela e a atuação russa no Leste da Ucrânia, que se soma ao episódio da anexação da Crimeia.