Na Trilha da História: Saiba mais sobre o levante conhecido como Revolta da Vacina
Olá! Eu sou a Isabela Azevedo e está começando o Na Trilha da História! Hoje, nós vamos bater um papo sobre a Revolta da Vacina. Esse levante popular ocorreu em 1904, no Rio de Janeiro, quando o governo decidiu implementar a vacinação obrigatória contra a Varíola. Antes disso, já havia sido feito o combate aos mosquitos que transmitiam a febre amarela e aos ratos que provocavam a peste bubônica. Houve quebra-quebra na cidade, confronto com a polícia e muita gente saiu ferida. Quem vai nos ajudar a entender essa revolta é a historiadora Ana Luce Girão, doutora em História das Ciências pela Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz.
Pra começar, é preciso imaginar a situação sanitária do Rio de Janeiro, então capital do país, durante o século XIX e início do século XX.
Sonora: "Você tinha uma imigração muito grande, uma chegada muito grande de escravos e não tinha infraestrutura para receber... E não tinha saneamento básico. Os dejetos, o esgoto, eles eram lançados no mar ou na rua. E fora que os restos dos bichos, as carcaças dos bichos ficavam na rua, ficavam na praia... Era uma cidade bastante insalubre nesse sentido".
É nesse contexto de caos sanitário que o paulista Rodrigues Alves chega à presidência da República.
Sonora: "Em 1902, Rodrigues Alves se elege como presidente da República com a grande promessa de remodelar a capital federal, que era o Rio de Janeiro, e junto disso vem o combate às doenças. Naquele momento, o foco era o combate à Febre Amarela, à Peste Bubônica e à Varíola."
Para liderar o combate a essas doenças, foi convidado o médico sanitarista Oswaldo Cruz, que havia estudado no Instituto Pasteur, em Paris, com importantes especialistas da área. Em busca dos focos dos mosquitos transmissores da febre amarela e dos ratos que provocavam a peste bubônica, os agentes entravam nas casas mesmo sem permissão dos moradores. Também era assim no caso da vacinação contra a varíola. Os cariocas chegavam a recorrer à Justiça para impedir a invasão dos agentes de saúde.
Sonora: "Às vezes, eles entravam com habeas corpus. As pessoas tentavam se defender não só da visita do agente vacinador, mas também da visita daquele agente que poderia condenar aquela casa como insalubre e aí mandar derrubar. E muitas vezes esses agentes sanitários eram orientados a agir durante a noite para chegar antes do habeas corpus".
Sem contar que em 1904 não era bem visto uma mulher mostrar qualquer parte do corpo a outro homem que não fosse o marido.
Sonora: "E havia também a questão moral por que a vacina era dada no braço ou na perna e as mulheres eram obrigadas a mostrar essas partes do corpo ao agente vacinador".
Para garantir a eliminação das doenças, o governo ainda apostou em outras estratégias no mínimo polêmicas. No caso da peste bubônica, por exemplo, anunciou o pagamento de 300 réis por roedor morto, transformando os cariocas em verdadeiros caçadores de ratos! Imagina o que que aconteceu.
Sonora: "O que começou a acontecer é que as pessoas começaram a criar ratos para vender. Tinha gente de Niterói que criava ratos e vinha vender no Rio de Janeiro! Então essa medida gerou uma polêmica enorme, gerou uma quantidade de charges nos jornais porque foi uma medida muito radical e muito polêmica".
Mas a Revolta da população não foi provocada apenas pela forma como o governo resolveu combater as epidemias da época. O presidente Rodrigues Alves ordenou uma reforma urbana do centro do Rio de Janeiro. Bom para as elites, mas uma péssima notícia para a população mais pobre.
Sonora: "Mas era também uma revolta popular contra o processo de remodelação urbana da cidade que expulsava a população mais pobre do centro da cidade e ela era obrigada a ir ou para a favela ou para áreas mais longínquas..."
A indignação contra a vacina obrigatória, a remodelação da cidade e o consequente empobrecimento das famílias desalojadas foram o estopim do levante popular, inflamado por políticos de oposição ao governo de Rodrigues Alves e apoiado por jovens militares. O conflito explodiu nas ruas do Rio em novembro de 1904.
Sonora: "A população se armava a partir do que ela conseguia encontrar na rua, de pedra, de pedaço de pau, de pedaço de ferro. Então havia grandes confrontos com a polícia, havia tiroteios... A população montou barricadas, bloqueou ruas..."
A História ensina governantes e a sociedade a não repetir erros do passado. Atualmente, as campanhas de vacinação são amplamente divulgadas e explicadas à população. Mas a historiadora Ana Luce lembra que entre os erros cometidos pelo governo daquela época, há também acertos.
Sonora: "Você ter um desenvolvimento científico nessa área que permitisse criar instituições que iam naquele momento implementar uma grande agenda de pesquisa nessa área biomédica no país e a gente colhe os frutos desse acerto até hoje."
E o Na Trilha da História fica por aqui! Esta foi uma versão reduzida do programa desta semana. O episódio completo tem uma hora traz a entrevista na íntegra da Historiadora Ana Luce Girão, além de músicas relacionadas à Revolta da Vacina. Para ouvir, acesse: radios.ebc.com.br/natrilhadahistoria. Até semana que vem!
Na Trilha da História: Programete de rádio sobre História do Brasil e do Mundo. Toda semana, a apresentadora Isabela Azevedo recebe um(a) entrevistado(a) para falar sobre um período ou personagem histórico. Os episódios destacam as curiosidades raramente ensinadas em sala de aula.