Mulheres sanfoneiras: com o coração da música nordestina nas mãos

Publicado em 08/06/2024 - 09:15 Por Joana Côrtes - repórter da Rádio Nacional - São Paulo

Quem vocês ouvem aí é o som de Terezinha do Acordeon, uma das mais antigas sanfoneiras em atividade no país. Pernambucana de Salgueiro, ela tem 74 anos, 60 só de fole xamegado da sanfona.

No ciclo que celebra Santo Antônio, São João e São Pedro, o trio de forrobodó – com sanfona, triângulo e zabumba - não pode faltar, é tradição!

Carregando mais de dez quilos da sua sanfona de 120 baixos pela estrada afora, com a agenda lotada de shows para os festejos de junho, Terezinha é a prova que o Brasil tem muita sanfoneira que puxa o fole e não cochila no forró pelos arraiás juninos.

Quando Terezinha do Acordeon ainda atendia por Terezinha Bezerra Chaves, seu nome de batismo no sertão pernambucano, sanfona não era considerada coisa pra menina. A história de amor e resistência com o instrumento começou cedo: com 7 conheceu Luiz Gonzaga, aos 12 ganhou a primeira sanfoninha de 64 baixos. Depois largou o fole por 14 anos, enquanto ficou casada. Quando se separou não quis saber mais de nada, a não ser de tocar a melhor companhia desde criança: a sanfona.

“Acho que a sanfona é o coração da música nordestina. Todos os ritmos que Gonzaga criou têm sanfona. Eu acho a sanfona o instrumento mais importante da música nordestina. Pra mim, significa muito. É um pequeno instrumento que fez coisas fantásticas por mim. Porque eu nunca tive a pretensão de ser artista. As coisas foram acontecendo comigo naturalmente. Não tinha mulher tocando na época, eu apareci tocando forró, tocando sanfona... hoje eu digo que sanfona me proporcionou coisas que eu nunca esperei”.

A sanfona de Terezinha não é fraca não, viu. Já tocou com Anastácia, Elba Ramalho, Dominguinhos, Mestre Genaro, Camarão e Renato Borgueti. O fole de sanfoneiras do naipe de Terezinha, Sebastiana do Piauí e Lucineide do Acordeon abre caminho na roça para as novas gerações.

É o caso da sanfoneira Bella Rayane, que descobriu os encantos da sanfoninha quando ainda era criança, pelas mãos do pai, Donizete Zambumbeiro.

Bella Rayane é do sertão da Paraíba, de uma cidade chamada Cajazeiras. Hoje, com 25 anos, ela é sanfoneira das boas. Professora de acordeom, formada pela Universidade Federal da Paraíba, Bella explica o que significa a sanfona para o povo nordestino. Puxe o fole, sanfoneira!

“Pra mim, a sanfona tem um papel não só de acalanto, de resistência, de lembrança, de toda história do forró, mas também de muita força. E ver mulheres segurando um instrumento tão simbólico e tão pesado, que há muito tempo ficou na figura masculina, né?”

E haja sanfoneiras pelos arraiás do Brasil adentro ao longo do mês de junho, viu?

Em Caruaru, Recife, Aracaju, Campina Grande. A certeza é que não tem forró sem sanfona, nem alegria junina sem essas mulheres que honram a tradição e permanecem puxando o fole da música brasileira, com muito amor pelos arraiás brasileiros.

Edição: Roberta Lopes / Fran de Paula

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