Relatório da Pastoral da Terra aponta aumento de conflitos e mortes no campo
Trinta e seis pessoas foram assassinadas no campo no ano passado. Duas a mais que em 2013. Os dados integram o Caderno de Conflitos no Campo Brasil 2014, lançado nesta segunda-feira, em Brasília, pela CPT, Comissão Pastoral da Terra.
O Sul e o Sudeste foram as regiões com maior índice de crescimento de conflitos com temas como água, manifestações e trabalho escravo (leia mais na Agência Brasil). Ainda assim, a região Norte é a que registrou mais assassinatos: nove no Pará e cinco em Rondônia.
Para o professor da Universidade Federal Fluminense, doutor Carlos Walter Porto Gonçalves, os conflitos por terra ainda são subestimados pelos grandes grupos de comunicação, e a divulgação dos números que aparecem no Caderno de Conflitos acaba sendo menor.
Sonora: "Ela (a mídia) não cobre não é porque não haja problemas. É o olhar que essa própria mídia tem os problemas, então acaba não pautando. Parece que o fato do agronegócio dar dinheiro absolve toda a violência que vem junto. E não só a violência contra as pessoas, os camponeses, os indígenas, os quilombolas, os ribeirinhos... É também a violência contra a natureza, contra a água, contra a vida."
O Caderno de Conflitos no Campo completa 30 anos em 2015 e, segundo a CPT, foram registrados nestas edições 1.307 conflitos agrários com assassinatos. Destes, apenas 108 foram a julgamento e somente 28 mandantes foram condenados.
O presidente da comissão, Dom Enemésio Lázzaris, conclama camponeses e povos tradicionais a se mobilizarem para cobrar mais atuação da Justiça nesses casos.
Sonora: "Se a gente não se mobilizar, não se movimentar, não se fortalecer para cobrar um pouco mais do Judiciário, a última assinatura é deles! Eles têm um poder monárquico, mandam mais do que o rei!"
A violência contra povos indígenas foi bastante lembrada durante o lançamento dos dados. O caderno aponta que no Mato Grosso do Sul, por exemplo, foram registrados mais de 40 casos de violência contra povos indígenas motivada por conflitos de terra. O indígena Guarani Kaiowá Anastácio Peralta ressalta que a luta pela terra tem custado muitas vidas do povo dele.
Sonora: "Já teve muitas lideranças assassinadas, não só homens, mas mulheres como a Xurita Lopes. Então assim, os grandes latifundiários não tem respeito com o ser humano que existia aqui há milhares de anos."
Apesar dos vários registros de violência contra populações tradicionais, o maior número de assassinatos ocorreu entre sem-terras, assentados e posseiros em 2014. O número de tentativas de assassinato também aumentou no ano passado: 273% a mais que em 2013.
Em 30 anos de publicação, a CPT registrou cerca de 30 mil conflitos, envolvendo 20 milhões de pessoas.