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Direitos Humanos

Confira o segundo capítulo da série sobre ocupações em São Paulo

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Fernanda Cruz
10/09/2015 - 05:00
São Paulo

Confira o segundo capítulo (de um total de três) da série especial "Vida de ocupação". Neste áudio, conheça a Ocupação Prestes Maia, na cidade de São Paulo. Acesse também a versão na Agência Brasil e no Portal EBC.

 

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A segunda maior ocupação vertical da América Latina fica no centro da cidade de São Paulo: a ocupação Prestes Maia. São quase 378 famílias no número 911 da Avenida Prestes Maia. Só Torre de David, na Venezuela, tem mais ocupantes, de acordo com o Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, ONG dedica ao direito à moradia.

 

A localização central do edifício de dois blocos, um com 22 andares e outro com nove, é uma das maiores razões para que o imóvel abandonado há décadas pelos proprietários esteja sempre repleto de ocupantes. A estimativa é que mais de mil pessoas vivam no local.

 

Uma dela é Maria José da Silva, de 47 anos. Antes de se mudar para a ocupação, ela vivia em uma pensão, mas passou por dificuldades financeiras. Maria sofre de problemas renais diz que gosta da oportunidade de se tratar em hospitais da região.

 

Sonora: “Eu fiquei com aquele medo, mas eu fui obrigada a vir, porque os alugueis estavam atrasados e eu não estava conseguindo pagar. Se eu fosse morar longe, não sei como poderia fazer. Faço diálise três vezes na semana, segunda, quarta e sexta. Para morar longe é difícil”

 

No local onde funcionava uma tecelagem, famílias dividem os espaços em pequenos quartinhos. O banheiro e a lavanderia são coletivos. O elevador deixou de funcionar e o prédio sofre com infiltração, que leva bolor e mofo às paredes e enche o subsolo de água.

 

Para morar no local, é preciso pagar uma taxa mensal de 105 reais, que garante o fornecimento de água e energia. O regulamento interno proíbe a ingestão de bebidas alcoólicas, o consumo de drogas, a prostituição e agressões no prédio.

 

Sandra Regina de Oliveira, de 53 anos, aproveitou a localização central de sua nova casa para fazer renda tomando conta de crianças. As mães deixam seus filhos para ela cuidar na ocupação.

 

Sonora: “Dá para sobreviver, guardar um dinheiro para um dia eu poder pagar o meu apartamento. Morando aqui, estou juntando dinheiro, em outros lugares eu não juntava.”

 

Uma das maiores preocupações dos Bombeiros, descrita em ofício anexado ao processo de reintegração de posse do imóvel, é o iminente risco de incêndio. A reportagem constatou que não há extintores em nenhum dos andares. Existem muitos fios elétricos expostos e botijões confinados sem ventilação.

 

Construído na década de 60, o edifício foi abandonado no início dos anos 80. A primeira ocupação ocorreu em 2002, mas cinco anos depois os moradores foram removidos.

 

Proprietário do imóvel, Jorge Nacle Hamuche, da empresa Axel Empreendimentos Imobiliários, contou que, após a desocupação, o imóvel ficou um ano e meio vazio, até que em 2010 houve nova ocupação. Desde então, os moradores enfrentaram 20 tentativas de reintegração de posse. A próxima está marcada para 26 de setembro.

 

Líder do Movimento de Moradia da Luta por Justiça, Ivanete de Araújo participa de ocupações desde 1996 e perdeu as contas de quantas reintegrações violentas já enfrentou.


Sonora: “Os policiais não olham quem está dentro do prédio. Simplesmente nos tiram de forma agressiva, jogam bomba, batem, jogam gás, bala de borracha. É dessa forma que eles agem contra as famílias sem-teto"

 

No caso da ocupação Prestes Maia, a reportagem apurou que o proprietário do imóvel não paga o IPTU desde 1986. A dívida atualizada supera 9 milhões de reais. Hamuche reconhece parte da dívida com a prefeitura: 6 milhões, valor que ele garante que será pago caso o imóvel seja desocupado.

 

Sonora: “Eu espero que [os ocupantes] tenham a honestidade de sair pacificamente [no próximo dia 26], porque já são quase 20 anos de moradia grátis”

 

O proprietário explica que a prefeitura entrou com processo de desapropriação e que já depositou o correspondente a 40% do valor a ser pago pelo imóvel em juízo. A prefeitura avaliou o prédio em 22 milhões de reais.

 

Um estudo encomendado pelos ocupantes da Prestes Maia para verificar a possibilidade de transformar o prédio em moradia popular, concluiu que a estrutura e a alvenaria do imóvel estão em boas condições. Mas há reparos a serem feitos e seria necessário um investimento de mais de 14 milhões de reais. Esse recurso seria suficiente para 300 apartamentos com área privativa de 38 metros quadrados.

 

Série especial “Vida em ocupação” - Capítulo dois: Ocupação Prestes Maia

Reportagem: Fernanda Cruz
Sonorização: Priscila Resende
Edição: Lilian Beraldo e Beatriz Pasqualino
Coordenação: André Muniz, Lilian Beraldo e Juliana Cézar Nunes

Esta é uma produção da Agência Brasil, em parceria com a Radioagência Nacional.

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