Confira a segunda reportagem (de um total de quatro) do especial "Chacinas em São Paulo: A guerra urbana silenciosa", produzida e publicada originalmente pela Agência Brasil. Nesta versão radiofônica, elaborada em parceria com a Radioagência Nacional, ouça o capítulo "O perfil das vítimas: jovens, negros e pobres".
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Por volta das 11 horas da noite do dia 18 de abril deste ano, três pessoas armadas entraram na sede da torcida organizada do Corinthians, na zona oeste de São Paulo. Doze torcedores ainda estavam no local. Quatro deles conseguiram fugir, mas os demais foram obrigados a se ajoelhar e a deitar no chão. Todos foram executados. Tinham entre 19 e 38 anos.
O perfil dessas pessoas assassinadas não foge ao padrão. A maioria das vítimas das chacinas ocorridas em São Paulo é jovem e mora na periferia. A informação é do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) e da Defensoria Pública de São Paulo. É o que destaca Rildo Marques, presidente do Conselho.
Sonora: “Parace que existe um certo estereótipo já definido por um pensamento altamente preconceituoso como se potencialmente fossem pessoas usuárias de drogas, assaltantes. Isso tem chamado muito a atenção: a padronização da vítima”.
Em entrevista à Agência Brasil, o parente de um dos torcedores executados, que pediu para não ser identificado por medo de retaliação, disse que o jovem era estudante, trabalhador, e “a única coisa que ele gostava de fazer era torcer para um time de futebol”. O jovem não tinha passagem pela polícia.
Débora Maria da Silva, que perdeu o filho na onda violenta de maio de 2006 no estado paulista e ajudou a fundar o movimento Mães de Maio, diz que as vítimas das chacinas ou da violência policial são pessoas como seu filho.
Sonora: “Meu filho era pobre, preto e periférico. A gente vê que eles sabem que estão matando aqueles que não tem acesso à Justiça. Eu acho que essa segurança pública não nos representa e passou da hora de o governo federal fazer uma intervenção no estado de São Paulo, porque estão morrendo brasileiros”.
Segundo a defensora pública Daniela Skromov de Albuquerque, as vítimas ou os parentes das vítimas são pessoas “traumatizadas com as ações do Estado”.
Sonora: “São pessoas já massacradas pela vida periférica que levam. E mais massacradas ainda pelo poder letal. É completamente enlouquecedor você passar uma vida ouvindo que a polícia serve para proteger, brinca de polícia e bandido, paga os impostos e, de repente, o imposto que você paga financiou a bala que matou o seu filho. Ou as balas, porque são várias”
Enquanto isso, o parente de um dos jovens assassinados na sede do Corinthians, aguarda justiça. Ele não aceita a única coisa que a polícia disse a ele sobre o crime: que a vítima estava no local errado na hora errada.
Ficha técnica
Reportagem: Elaine Patricia Cruz
Sonorização: Priscila Resende
Edição: Beatriz Pasqualino e Lilian Beraldo
Coordenação: Lilian Beraldo, Juliana Cezar Nunes e André Muniz
Esta é uma produção da Agência Brasil em parceria com a Radioagência Nacional.