Desaparecidos: mais de 82 mil brasileiros são procurados pela família
[Fala de Débora dos Santos] “A gente sabe que nossos filhos estão em algum lugar, seja vivo ou morto. A gente busca. E todos nós queremos uma resposta”.
Desde o dia 11 de julho de 2013, Débora dos Santos procura essa resposta. Ela quer reencontrar o filho Caio Alves Inácio Bispo dos Santos, que desapareceu há mais de sete anos na região da Baixada Santista, litoral de São Paulo.
Hoje ela mora na capital do estado e a busca pelo filho continua. Entre os obstáculos, Débora enfrenta até mesmo a falta de empatia.
Entre as razões para o desaparecimento de pessoas normalmente estão os transtornos mentais ou situações de vulnerabilidade social. O dado mais recente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que, somente no ano de 2018, pelo menos 82.094 brasileiros desapareceram.
O filho de Leonardo da Cruz desapareceu em junho de 2016, após um surto de esquizofrenia.
Em diversos países, os órgãos responsáveis por organizar as buscas estão de portas fechadas devido à pandemia do coronavírus. Então, a procura pelo paradeiro de entes queridos exige ainda mais esforço de cada familiar.
É uma tarefa tão desgastante, que a responsável pelo programa de pessoas desaparecidas do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Larissa Leite, disse que é comum amigos e parentes de desaparecidos apresentarem angústia, depressão, pânico, hipertensão e diabetes.
Além do envolvimento emocional, o desaparecimento de pessoas tem consequências burocráticas, como as relacionadas a contratos, guarda de filhos e posse de bens. Sem respostas, os familiares ficam sem ter como resolver essas questões.
Larissa afirma que o Brasil tem se esforçado nas buscas, com a criação de delegacias especializadas e de bancos de dados. Mas a representante da Cruz Vermelha Internacional critica a falta de coordenação entre as diferentes esferas de governo.
Com a ajuda do Ministério Público, Leonardo Cruz encontrou o filho Robson Roberto. Ele tinha morrido pouco mais de um mês depois de desaparecer e havia sido sepultado como indigente. Depois de quase dois anos de buscas, os pais ainda precisaram esperar mais um ano para recuperar os restos mortais do filho.
O domingo, 30 de agosto, marcou o Dia Internacional dos Desaparecidos e uma parceria entre o Comitê Internacional da Cruz Vermelha e a organização Playing For Change lançou um videoclipe no YouTube. Quinze artistas latino-americanos participaram da gravação. A música, “Hasta La Raíz” - “Até a Raiz”, em espanhol -, homenageia as famílias e chama a atenção para a importância de esclarecer o que ocorreu com milhares de pessoas desaparecidas.
* Produção: Graziele Bezerra e Michelle Moreira