Em pouco mais de um ano de pandemia, quase 400 mil pessoas morreram por covid-19 no Brasil. A maioria das vítimas, 76%, tinha mais de 60 anos. Entre elas e os outros 24% das vítimas mais jovens, muitos eram pais, mães ou tutores de crianças e adolescentes com menos de 18 anos. São os órfãos da covid.
Não existe um número oficial de quantas são as crianças que estão enfrentando, não apenas o luto, mas também a insegurança de quem perdeu coisas básicas como roupa, comida, teto e carinho.
A ausência de dados não impede a solidariedade. Em Jundiaí, região metropolitana de São Paulo, mães se reuniram para ajudar órfãos da covid-19. O projeto começou sem pretensões. Três amigas se comoveram com o caso de um jovem da cidade que perdeu o pai, a mãe e o avô em função da doença. Elas criaram um grupo de whatsapp para organizar uma ajuda de longo prazo para o órfão.
A psicóloga e mãe de três filhas, Renata de Lucca Zezza, conta que elas resolveram abrir o grupo para outras pessoas e viram a rede de apoio se multiplicar. Assim nasceu o “Mães que Acolhem”, que hoje reúne mais de 350 mulheres e homens de todas as idades e com diferentes formações dispostos a ajudar. Renata explica que a habilidade e tempo que cada pessoa pode oferecer se transformam em ações concretas.
A manicure Adriana Del Rio Zafalon, de 42 anos, e suas netas estão recebendo ajuda do grupo. Há um mês, Adriana perdeu a filha, de 26 anos, para a covid. Mayara partiu e deixou três filhas. A mais velha de dez anos, a mais nova com apenas nove meses. O pai das meninas abandonou a família logo depois do funeral de Mayara. Foi nesse cenário que Adriana procurou o Mães que Acolhem. O apoio está chegando de várias formas, inclusive a ajuda para pagar o aluguel de um apartamento maior para Adriana morar com o marido, as netas e outros dos 2 filhos que ainda vivem com o casal. Adriana sabe que o vazio da perda não vai sumir, mas o apoio tem ajudado a família a não ficar ainda mais desestruturada.
O grupo mães que acolhem vem recebendo contatos de voluntários de outros estados. Agora, elas querem ajudar a montar grupos semelhantes pelo país afora. Quem tiver interesse em ajudar a multiplicar essas redes de apoio pode entrar em contato nas redes sociais pelo endereço @maes_que_acolhem. Renata diz que pode até demorar a responder porque tem tido muita demanda, mas que a resposta vai chegar.