Um levantamento sobre as mortes ocorridas durante operações policiais na região metropolitana do Rio de Janeiro mostra que 41% delas configuram como chacinas, quando três ou mais pessoas são vitimadas em uma mesma ocasião. Entre 2007 e 2021, as operações com múltiplos mortos foram apenas 3% das quase 18 mil realizadas. Mas ainda assim isso representa uma ocorrência a cada nove dias. Além disso, 2374 pessoas morreram nas 593 ações que terminaram em chacinas.
O levantamento é do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense e está sendo divulgado exatamente um ano após a chacina do Jacarezinho, a mais letal da história do Rio de Janeiro, que deixou 28 mortos.
A comunidade na Zona Norte carioca, que é considerada um dos locais com forte atuação do crime organizado no Rio, se destaca no ranking de mortalidade. Em média, a cada 10 operações realizadas na região, 7 pessoas pessoas foram vitimadas.
De acordo com o pesquisador Daniel Hirata, os números mostram como as chacinas em operações policiais não são episódios isolados e o caso do Jacarezinho é representativo do cenário geral.
Considerando as operações que resultaram em chacinas, aquelas coordenadas pela Policia Militar tiveram em média 4 mortos. E o número sobe para 4,8 no caso das que tiveram agentes da Polícia Civil a frente. O levantamento mostra ainda que as chances de ocorrerem chacinas aumentam em seis vezes, quando a ação conta com a presença conjunta de agentes do Batalhão de Operações Especiais da PM e da Coordenadoria de Recursos Especiais da Civil.
O Grupo de estudos defende que é preciso monitorar melhor as forças policiais em momentos de confronto, além de repensar o modelo de policiamento repressivo adotado em regiões com a presença de grupos criminosos organizados.
Uma lei aprovada há um ano, pela Assembleia Legislativa, determinou que os agentes de segurança do estado passem a usar câmeras nos uniformes, o que será implementado a partir do dia 16 de maio. Mas, por enquanto, apenas nos batalhões convencionais, de maneira gradativa.
Quanto à chacina do Jacarezinho, o Ministério Público encerrou esta semana a força tarefa que investigou a conduta dos agentes. Quatro policiais foram acusados de executar 3 suspeitos já feridos e que não ofereciam resistência à prisão, e dez procedimentos de investigação referentes a outras mortes foram arquivados.
Em nota a Polícia Militar citou a aquisição das câmeras de segurança, como medida que está sendo tomada e reforçou a redução de 30% nos homicídios decorrentes de intervenção no primeiro trimestre de 2022, na comparação com o mesmo período do ano passado.
A Policia Civil também destacou a queda nos números, mas alegou que as "mortes são em decorrência de confrontos e que a reação da Polícia depende da conduta do criminoso.