Ariel Nobre precisa dizer que ama e chama o Brasil a uma reconciliação

Podcast TRANSformando as Artes conversa com artistas transgêneros

Publicado em 07/06/2024 - 07:15 Por Akemi Nitahara - Radioagência Nacional - Rio de Janeiro

Brasília (DF) 17/05/2024 - Nova série | Podcast - Transformando as Artes - texteira_transformando
Arte EBC
Arte EBC

O podcast Transformando as Artes a entrevista nesse episódio o artista e comunicador Ariel Nobre. O Brasil é o país que contabiliza o maior número de assassinatos de pessoas transgêneros por transfobia no mundo. Em 2022, foram 131 casos. Quando se amplia para pessoas LBGTQIAPN+, a soma chega a 242 homicídios, com uma morte a cada 34 horas por motivos de ódio. Além de 14 suicídios registrados naquele ano. Prestes a entrar para essa estatística, o artista e comunicador Ariel Nobre quis deixar suas últimas palavras e escreveu: preciso dizer que te amo.

Com essa frase, escrita compulsivamente, Ariel sobreviveu ao suicídio e contou a história no filme curta metragem Preciso dizer que te amo. Exibido em mais de 30 festivais de cinema no Brasil e no exterior, sendo premiado em alguns deles, virou campanha de prevenção ao suicídio de homens trans. Tudo só saiu do papel graças a um edital inclusivo. E é por inclusão das pessoas trans em todos os aspectos da vida em sociedade que Ariel luta e faz arte.

"Eu vejo dois caminhos possíveis. Um que eu já estou vendo há mais tempo, que é por políticas públicas. E isso não é pouca coisa, porque como é pública, obriga o Brasil a ter conversas difíceis com o Brasil. A gente está adiando essa conversa e quando a gente adia essa conversa, a gente está adiando vidas, dignidade, abraços, educação, sabe? A gente está adiando a reconciliação que o Brasil merece."

Ariel defende que as pessoas trans saiam da situação de personagem e atuem na produção artística e na comunicação. E conta que o mercado de arte é excludente  e isso afeta mais as pessoas que estão à margem, que é o caso das pessoas trans.

"Então, eu vejo, por exemplo, cada vez mais o interesse de ser transafirmativo. Isso é uma vitória, porque não foi sempre assim. E as pessoas lutaram, a gente lutou por isso, o movimento social lutou por isso. Por outro lado, não aconteceu o mais importante, que é a gente ter nossa autonomia de representação. Então, a gente não tem ainda, de uma forma massiva, artistas trans consagrados, artistas trans em espaços de produção assim, né, legitimados de uma forma mais massiva. Isso é muito ruim, porque a gente está sendo retratado com os olhos de pessoas que não têm as mesmas vivências que a gente e a ideia de o que são pessoas trans estão sendo construídas por outras pessoas, que não a gente mesmo."

TRANSformando as artes

Este é o quarto episódio da série que terá sete entrevistas, uma por semana, publicadas sempre às sextas-feiras, com artistas transgêneros, que vão desde precursoras do transformismo até revelações da atual cena artista musical e do audiovisual. 

Além de muita arte, as entrevistas revelam os sentimentos, lutas e conquistas que essa parte da população ainda enfrenta no país que mais mata pessoas trans no mundo. 

Algumas entrevistas já foram publicadas pela Agência Brasil, como parte das comemorações do Dia da Visibilidade Trans, em 29 de janeiro . Agora, trazemos a proposta revista e ampliada para os ouvintes da Radioagência Nacional, que terão a oportunidade de conferir as conversas completas em áudio, além do bônus com artistas que não integraram a série original da Agência Brasil

 

PODCAST TRANSFORMANDO AS ARTES

SOBE SOM PRECISO ME ENCONTRAR – LINIKER🎶
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar

CAI A BG🎶

EPISÓDIO 4: ARIEL NOBRE

ARIEL: Eu vejo dois caminhos possíveis. Um que eu já estou vendo há mais tempo, que é por políticas públicas. E isso não é pouca coisa, porque como é pública, obriga o Brasil a ter conversas difíceis com o Brasil. A gente está adiando essa conversa e quando a gente adia essa conversa, a gente está adiando vidas, dignidade, abraços, educação, sabe? A gente está adiando a reconciliação que o Brasil merece. As famílias merecem destruir a narrativa da destruição da família. E o Brasil está com medo dessa conversa e vai doer mesmo. Porque quanto mais oportunidade que as pessoas trans de contar as nossas histórias, a partir da nossa perspectiva, vai ser mais difícil expulsar a gente de casa.

SOBE SOM PRECISO ME ENCONTRAR – LINIKER🎶  
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que eu me encontrar

CAI A BG

MARI: O Brasil é o país que contabiliza o maior número de assassinatos de pessoas transgêneros por transfobia no mundo. Em 2022, foram 131 casos. Quando se amplia para pessoas LBGTQIAPN+, a soma chega a 242 homicídios, com uma morte a cada 34 horas por motivos de ódio. Além de 14 suicídios registrados naquele ano. Prestes a entrar para essa estatística, o artista e comunicador Ariel Nobre quis deixar suas últimas palavras e escreveu: preciso dizer que te amo.

MARI: Com essa frase, escrita compulsivamente, Ariel sobreviveu ao suicídio e contou a história no filme curta metragem Preciso dizer que te amo. Exibido em mais de 30 festivais de cinema no Brasil e no exterior, sendo premiado em alguns deles, virou campanha de prevenção ao suicídio de homens trans. Tudo só saiu do papel graças a um edital inclusivo. E é por inclusão das pessoas trans em todos os aspectos da vida em sociedade que Ariel luta e faz arte.

MARI: Olá, eu sou Mariana Tokarnia, repórter da Agência Brasil, e este é o quarto episódio do podcast Transformando as Artes, que traz entrevistas com artistas transgêneros e não binários. Confira a conversa com Ariel, que também é publicitário e fundador do observatório da diversidade na propaganda.

SOBE SOM🎶  

MARIANA: Queria que você falasse um pouquinho como é que começou o cinema na sua vida, como é que você vai entrando no audiovisual e o que é o cinema para você?

ARIEL: Nossa, sobre arte, que ótimo. Primeiro, assim, eu me considero artista muito profundamente, então eu não tenho nem conflito. Porque algumas pessoas entram em conflito, assim, ‘nossa, você me vem com uma vibe meio corporativa’, assim. Mas a última vez que eu fui reconhecido, que eu entrei na lista Papel & Caneta, que é de comunicação, foi que eu escrevi 14 cartas à mão pra 14 líderes do mercado de comunicação, falando que o Brasil é o país que mais mata pessoas trans do mundo há 14 anos consecutivos. Então, eu estou, assim, nessa posição executiva e me tornei executivo porque eu sou artista. Não vejo essa linha. Onde eu estou, eu sou artista. E eu só sobrevivi hoje porque eu sou artista. Porque a arte, a poesia é o meu jeito de comunicação. Assim, eu preciso entrar no coração das pessoas. E eu faço isso de forma radical e através de poesia. Mas com certeza eu estou vivo hoje por conta da minha capacidade de produzir poesia. Dito isso, assim, mais audiovisual é o Eu preciso dizer que te amo. Eu fui, assim, em 2018, mas é um projeto desde 2015, que, assim, eu sobrevivi ao suicídio porque no último segundo eu lembrei de registrar o que seriam as minhas últimas palavras. E desde então eu escrevo Preciso Dizer Que Te Amo de forma cotidiana e escrever Preciso Dizer Que Te Amo se transformou em uma campanha de prevenção de suicídio de homens trans. E, principalmente nessa primeira parte, perto de 2015, eu escrevi muitas vezes. Talvez uns digam que é meio patológico, mas eu vejo muito... Era uma forma de produzir saúde. E tinha uma coisa de ser público, né? Uma coisa assim... Essa é a mensagem que eu tenho pra dizer pra mim mesmo em público. E aí essa jornada... Teve um momento que eu quis contar essa história de uma forma maior. E aí eu contei com o Preciso Dizer Que Te Amo. E desde então eu acho que mais de cineasta eu sou artista e contador de histórias, porque depois do Preciso Dizer Que Te Amo, que teve uma carreira legal no cinema, eu não senti necessidade de contar uma outra história daquele formato. Eu até produzo coisas audiovisual, 14 cartas virou um vídeo eu lendo essa carta. Também fiz outra, chama-se 5 cartas, que o Sesc Santana me contratou num momento muito ruim da pandemia. Eles quiseram que eu escrevesse cartas pra pessoas do bairro, pra onde eu morava. E aí eu escrevi 5 cartas pra 5 entidades, que era a vizinha, a igreja, o restaurante, o amigo, a avó. Então eu escrevi pra uma senhora, minha amiga mais velha do bairro, escrevi pra igreja do bairro, restaurante que eu ia.

MARI: O que que tinham nessas cinco cartas que você escreveu?

ARIEL: Tinha coisas que eu queria dizer talvez pessoalmente e não conseguia. Todas as cartas eu escrevi mesmo e mandei pra cada pessoa. Então, acho que o fato de você pegar uma caneta, um papel, escrever, pelo menos pra mim, é uma técnica que eu uso pra falar logo o que interessa. Entendeu? Eu não fico, ‘oi, você está, kkkk’, não, eu falo logo como eu me sinto, eu falo logo o que eu quero dizer. Eu acho que eu acesso mais o meu coração e logo o coração da outra pessoa. Então foram coisas que estavam no meu coração pra cada um.

MARI: Eu assisti o Preciso Dizer que Amo. É muito lindo, muito forte, né? Eu não sabia que era realmente a sua história.

ARIEL: Sim, eu tava sem cabelo, mas agora tenho um pouco.

MARI: É um filme muito potente, né? E uma temática muito forte, que como você disse, até nas 14 cartas, né? A gente é o país que mais mata pessoas LGBT no mundo, né? Sendo as pessoas trans as maiores vítimas. E o suicídio é uma forma de matar, né?

ARIAL: Sim, com as nossas próprias mãos.

MARI: Ariel, e como é que você vê hoje a presença e o incentivo para pessoas trans nas artes?

ARIEL: O jeito que o mercado da arte existe, ele já é excludente por si só. E isso afeta mais as pessoas que estão mais à margem, que é o caso das pessoas trans. Então, virou o ruim com o muito ruim, entende? Então, isso cria um abismo das pessoas que são artistas e as pessoas que são objetos de arte, sabe? As pessoas que desenham e as pessoas que estão ali para ser desenhadas. As pessoas que retratam, as pessoas que são retratadas. Então, o Brasil tem esse interesse em todas as indústrias da narrativa, quer arte, propaganda, jornalismo, tem essa divisão de quem fala e de quem é falado, de quem retrata e quem é retratado, quem é documentarista e quem é personagem. E o que acontece é um ciclo, que a gente, mudando a forma como a cisgeneridades as pessoas nos olham, os interesses estão mudando. Então, eu vejo, por exemplo, cada vez mais o interesse de ser transafirmativo. Isso é uma vitória, porque não foi sempre assim. E as pessoas lutaram, a gente lutou por isso, o movimento social lutou por isso. Por outro lado, não aconteceu o mais importante, que é a gente ter nossa autonomia de representação. Então, a gente não tem ainda, de uma forma massiva, artistas trans consagrados, artistas trans em espaços de produção assim, né, legitimados de uma forma mais massiva. Isso é muito ruim, porque a gente está sendo retratado com os olhos de pessoas que não têm as mesmas vivências que a gente e a ideia de o que são pessoas trans estão sendo construídas por outras pessoas, que não a gente mesmo. Isso quer dizer que a gente está educando as próximas gerações a pensar que nós não somos capazes sequer de representar a gente mesmo, sequer contar a nossa própria história. Quando eu falo isso, é uma maneira de começar, e é uma maneira de constranger, porque ou a gente entende que isso é um problema, ou a gente está achando que pessoas cis são melhores pessoas trans. Artisticamente, comunicacionalmente, cognitivamente. Então, ou a gente entende que existe um problema, né? Tipo assim, ‘será que pessoas trans gostam de ir para o telemarketing e pessoas cis gostam do marketing? Será que mulheres trans gostam de se prostituir e mulheres cis gostam de ser líderes nas agências, nas galerias, né, são curadoras?’ Não, né? Não, né? É a mesma coisa de a gente pensar numa questão racial. Ah, isso, pessoas brancas gostam de ser médicos, pessoas negras gostam de ser lixeiro. Não, não. Tem alguma coisa errada, que é a gente tem menos oportunidade. Na questão da arte isso é grave, porque a nossa subjetividade, ela não é validada, ela não é mostrada, ela não é vista. Então, é como se... Ah, a gente não sabe fazer poesia. Porra, mesmo? Sabe...

MARI: Você falou que Preciso dizer que te amo é fruto de um edital que era voltado para pessoas trans.

ARIEL: Na verdade, ele não é voltado para as pessoas trans. Era para a cidade de São Paulo, foi uma das últimas coisas do governo Haddad, na prefeitura aqui de São Paulo e tinha cotas para pessoas trans. Que eu saiba, que eu me lembre, foi a primeira vez que eu vi cotas para as pessoas trans em editais. Eu lembro disso e eu lembro de pensar, assim, e passar um filme na minha cabeça de quando eu fiz minha transição, não que seja um portal que você passe, mas quando eu mudei de nome e tava o processo, na época, a gente escrevia no Facebook, eu escrevia muito como eu tava me sentindo e todas aquelas confusões internas e externas. Se hoje ainda é mato, né? Era matagal, assim, principalmente para homens trans e tal. Então, quando eu estava externando, assim, os meus sentimentos e tal, eu atraí muitos olhares, atraí muitos jornalistas, eu atraí publicitários, eu atraí artistas. E eu lembro que eu compartilhei minha história muitas vezes, mas depois, assim, de um ano, eu vi que eu tava com os mesmos problemas. Eu contei, contei minha história, algumas pessoas ganharam prêmio de jornalismo, ganharam prêmio e eu não, eu continuei tendo os mesmos problemas. E foi aí que eu pensei, eu não tenho um real, não sei como vai ser a minha vida, o meu viver, tô no limite da sobrevivência, mas eu preciso entender que a minha história tem valor, porque essas pessoas estão contando a minha história e elas estão ganhando prêmios. Então eu entendi que eu precisava contar a minha história e eu precisava lucrar com a minha história. E a partir daí eu parei tudo que eu estava fazendo para esse edital. E nesse processo também de contar a história, eu entendi que a minha história passava por outras histórias. Por mais que a minha história seja protagonista, ali, né, a minha história, nem digo eu, mas a minha história, precisa que tenha um apanhado também de outras histórias. Tem aquelas pessoas porque eu entendi que eu precisava da nossa comunidade, assim, e a Aretha, o Deniell e o Iago, que estão no filme, eu lembro que eu chamei pessoas que eu gosto e pessoas que o critério era, só por existir, estavam me ajudando. Pessoas só por estarem ali, vivas, no corre delas, aquilo ali estava me ajudando. Não sei nem explicar. O fato deles fazem o que eles fazem, elas e eles e elos, isso me traz um conforto profundo para mim, sabe? Pensar que tem outras pessoas tendo problemas parecidos e batalhas parecidas, cotidianas, que eu tenho.

MARI: Até pegando esse gancho, né? Quem são as suas referências?

ARIEL: Olha, eu gosto muito da Aretha. Sabe que ela não é trans, mas Eu preciso dizer que eu te amo eu sou muito inspirado nela, é na Kusama. Sabe a artista japonesa? Ela é famossérrima, é que é difícil falar o primeiro nome. Yayoi Kusama. Ela tem uma coisa da repetição, assim, sabe? Que eu passei também com Preciso dizer que te amo, né. Ela tem uma coisa da repetição assim, sabe, é obsessiva sabe, de ‘vou ficar aqui fazendo bolinha até ficar mais calmo’, sabe, assim. E o Preciso Dizer Que Te Amo tinha a sua urgência, tinha uma coisa assim, eu senti que eu não tinha nem outra opção sabe, e ao mesmo tempo era confortável, porque não sei, pra mim era um grande insight, assim, do tipo ‘eu tenho um propósito na minha vida, que é escrever preciso dizer que te amo até eu morrer’, e isso é muito poderoso. Era uma forma de reconciliar com o mundo, com as pessoas, era uma ponte, era um jeito que eu falo de me costurar a vida. A Kusama, eu olho assim e falo, não, ‘essa é a artistona e eu não tenho nada’ e a Kusama veio e é uma ref, assim, pra mim. E de pessoas trans, a Aretha é uma ref, porque a Aretha teve todo um processo pra hoje viver do que ela gosta, sabe, e eu acho isso muito admirável. Ela é uma pessoa que eu estou sempre olhando, assim, vendo o que ela está fazendo, porque ela é uma artistona e uma artista também que tem muitas referências, assim, que é atriz, mas também é performer, é produtora de conteúdo, ela é bem multiartista. Eu acho isso muito legal. Tem uma artista também que eu tô muito impressionada com ela, que chama Marta Minujim, que ela tá na Pinacoteca, a Argentina, sabe? E esse cara que é trans também, que é de Recife, chama Fernando Lins. Conheci recentemente e eu fiquei muito impressionado com ele, sabe? Até na capa da revista Cult, daí você olha e vê que ele é bom mesmo. Tem uma imagem que eu tava numa exposição dele, que é de uma garotinha. Quando eu vi, ninguém me falou nada. Eu falei isso, que é muito triste. Isso é horrível. Isso aqui é horrível. E aí, batata! Devem ter obrigado ele estar com essa saia e coisa, claro que eu acertei e isso é um sinal de um artista incrível assim, ele agora, na verdade pra mim ele é um dos maiores artistas hoje, trans, incrível o artista plástico, ele pra mim the best, gosto muito do jeito sentimental, assim não gosto de muitos parágrafos, sabe, eu gosto de coisas mais diretas.

MARI: Perfeito. Já tinha visto as obras dele. Acho que ele teve, até expôs aqui na Feira de Arte do Rio.

ARIEL: Ele é muito bom. Pra mim, ele é um dos maiores artistas do Brasil. 

MARI: Ariel, como que a gente pode fazer, enquanto país, pra incentivar mais arte? É porque é um problema tão generalizado, né? A gente é um país que valoriza tão pouco a arte, né? Qualquer que seja.

ARIEL: Sim.

MARI: Desde escola, enfim, né? Porque como você disse, é uma coisa muito importante na sua vida, e na vida de todo mundo, assim, um pouco. Então, como que a gente pode fazer pra incentivar mais, incentivar talvez a presença de mais pessoas trans, que seja por edital, enfim, não sei se esse é um dos caminhos, mas como que você acha, né, que a gente pode expandir, assim, né, incentivar a arte? 

ARIEL: Eu sinto que condenam a gente para o inferno só por a gente ser quem a gente é. Isso tem consequências na Terra, né. Quando você condena pessoas para o inferno eterno, por elas serem quem elas são, você tira o direito à alma e você, no fundo, limita as pessoas, né, na vida. Isso muda as atitudes na Terra. A gente tem muita perspectiva, você pensa a longo prazo e tirar as pessoas trans do inferno simbólicos é crucial. Eu acho que a arte pode fazer isso. Políticas públicas na parte de arte, de cultura e comunicação é crucial para a gente ter autonomia de representação e a gente contar as nossas histórias a partir da nossa perspectiva. E também acredito em políticas privadas também, as empresas que são parte crucial da nossa sociedade, ter políticas de contratação e de desenvolvimento de carreiras. O que o Brasil colocou de dinheiro no Ministério da Cultura é 20 vezes menor do que o Brasil gastou em propaganda. É um quarto da educação. Qual a conclusão? A propaganda educa o que é ser homem, o que é mulher e o que realmente importa, né. Você fala assim, compre isso. A propaganda educa o Brasil sobre o que realmente importa. E a família da margarina, ela é, eu falo que só muda o cliente, ou a direção de arte em relação à Sagrada Família. Dentro da propaganda tem a arte. Acho que a propaganda e a arte podem ajudar o Brasil a gostar de trans, sabe? Pode fazer acelerar essas conversas. E eu acho que isso vai ficar mais rápido se tiver pessoas trans em cargos de decisão. Em todos os espaços. Por isso é importante tanto políticas públicas e políticas privadas.

MARI: Perfeito, era até uma curiosidade. Você recebeu alguma resposta dos 14 líderes para quem você mandou as cartas?

ARIEL: Eu recebi poucas. A que eu mais gostei foi do CEO de uma agência que chama Publicity. Eles têm um programa que se chama Entre, que é para mulheres na criação. Depois da minha carta, 10% desse programa afirmativo vai pra mulheres trans. Todo ano vai ter de 3 a 5 mulheres trans treinadas pra ser diretoras de criação. Claro que a gente queria 200, mas eu achei muito bom. 

MARI: Com certeza. E Ariel, pra gente terminar, tem algum poema seu que você queira compartilhar?

ARIEL: Eu quero encerrar com uma frase que eu gosto muito, eu ando pensando, tô fazendo os processos para fazer minha mastectomia e ando pensando sobre muito o que é ser homem, como ser homem nesse mundão e uma frase que eu repito muito para mim mesmo é ‘mais do que ser homem, é transformar o que é ser homem’ e é isso que eu quero dizer pra mim mesmo na sua frente.

MARI: Por favor, por favor, transforme.

ARIEL: É muita gente.

MARI: Ariel, muito obrigada um prazer te conhecer, um prazer conversar contigo, obrigada mesmo.

ARIEL: É nóis.

MARI: Tchau, tchau.

SOBE SOM LUA DESERTA FILIPE CATTO🎶  
Lua deserta
Chuva dourada
Lua deserta
O nascimento de Vênus

CAI A BG🎶  

CRÉDITOS:
Você acompanhou neste quarto episódio do Podcast Transformando as Artes a entrevista com o artista e comunicador Ariel Nobre. Uma produção da Radioagência Nacional em parceria com a Agência Brasil. O curta do Ariel está disponível no YouTube, é só procurar pelo filme "Preciso Dizer que te Amo”.

A reportagem, entrevistas e narração foram minhas, Mariana Tokarnia.
Adaptação, edição, roteiro e montagem de Akemi Nitahara
Revisão, coordenação de processos e implementação na Web de Beatriz Arcoverde
Gravação de Virgílio dos Santos
Versão em Libras da equipe de tradução da EBC

Utilizamos as músicas Preciso me encontrar, de Candeia, na voz de Liniker acompanhada de Ilú Obá De Min, e Lua Deserta, de Filipe Catto.

A produção também está disponível nas plataformas de áudio e com interpretação de Libras no Youtube.  No próximo episódio, trazemos a conversa com a quadrinista e ilustradora Alice Pereira.

SOBE SOM FILIPE CATTO🎶  

ENCERRAMENTO DA TRILHA DOS CRÉDITOS 🎶

Sobe som 🎶  

 
Reportagem, entrevista e narração Mariana Tokarnia
Adaptação, edição, roteiro e montagem  Akemi Nitahara
Revisão, coordenação de processos e implementação web Beatriz Arcoverde
Gravação  Virgílio dos Santos
Versão em Libras Equipe de tradução da EBC
   

 

Edição: Beatriz Arcoverde - Editora Web

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