Na Trilha da História: Os conceitos filosóficos do amor ao longo do tempo

Na Trilha da História

Publicado em 02/09/2017 - 12:03 Por Apresentação Isabela Azevedo - Brasília

Olá! Eu sou a Isabela Azevedo e está começando mais um Na Trilha da História! Hoje, nossa entrevistada é a filósofa e professora da escola Nova Acrópole de Brasília, Lúcia Helena Galvão.
E nosso assunto é um tema que desperta e sempre despertou muitas reflexões: o amor.


Sonora: “Oitenta por cento das civilizações conhecidas, na sua literatura, falam do amor. Entre oitenta por cento a 85% dessas civilizações falam de um amor semelhante ao amor romântico, não necessariamente associado ao casamento. Aliás, essa associação de casamento e amor é mais ou menos do século 18. Casamento, então, era uma outra coisa, tinha outras associações e necessidades.”

 

E quais pensadores se dedicaram a refletir sobre o amor?

 

Sonora: "Uma das referências mais conhecidas é a de Platão, no Banquete. Uma obra inteira falando do amor de forma muito especial. Depois, você entrando na Idade Média, terá os místicos e vai ouvir falar de amor com Santo Agostinho, São Tomás de Aquino. Místicos que falam do amor ao divino. Até na Índia, constantemente, na tradição Krishna Ísh, quando se fala de Krishna, que é uma representação de Vishnu, ela está muito ligada à ideia do amor. É como se fosse aquele ser divino para amar e ser amado. Então, vamos ver, em cada canto, uma versão do amor, claro que em diferentes níveis.”

 

Grandes filósofos gregos como Sócrates e Plantão, que viveram no século 5 a.C., mostraram que o amor vai muito além da beleza. É um sentimento relacionado às virtudes dos seres humanos.

 

Sonora: “E uma das coisas que o Platão ressalta muito, pelos lábios de Sócrates, é uma coisa chamada de Caminho de Eros. Ele diz que é muito certo que, em um determinado momento, o homem olhe para coisas belas e as deseje, as queira. Mas, depois de um tempo, você percebe que nada fica belo por muito tempo. Aquela rosa bela e esplêndida, amanhã, vai estar murcha. Então, o homem começa a se aproximar um pouco mais e perceber que, dentro do ser humano, existem coisas que duram mais que a aparência. Por exemplo, se você é justo, íntegro, fraterno, pode manter isso por toda a vida. Mas a aparência é impossível manter por toda a vida.”

 

Para Platão, o amor é algo muito mais puro e profundo. É a forma de homens e mulheres se conectarem com o divino. Essa ideia foi se perdendo ao longo dos séculos e milênios. Hoje, é muito comum ouvir que o amor platônico é aquele amor impossível. Mas isso nada tem a ver como a forma como o filósofo definia esse sentimento.

 

Sonora: “Costumo dizer aos meus alunos que se Platão deve se revirar mo túmulo, se ainda restar algo no túmulo. Porque, na verdade, ele não tem absolutamente nada a ver com isso. Quando você fala que o amor platônico é o amor por alguém que você não toca, porque houve algum impedimento, nós reiteramos nessa expressão os valores atuais, porque nós só sabemos amar aquilo que tocamos. Sabe aquele ditado popular: 'longe dos olhos, longe do coração'?. Aquilo que está muito distante ao sentimento, aquilo se apaga. As pessoas têm muito medo, por exemplo, de um parceiro estar do outro lado do mundo e o amor se acabar. Porque hoje tudo é muito sustentado pelos sentidos, tudo o que eu toco, tudo o que eu provo, que eu vejo é capaz de canalizar o meu amor. Abstrações não.”

 

Mas então o que é o amor segundo Platão?

 

Sonora: "O amor platônico é o amor pela justiça, pela bondade, pela fraternidade. Eu não toco a justiça, a bondade, a fraternidade. Então, ele é um amor por uma coisa que você não toca, porque ela não tem cor. Mas ele diz: se você não ama essas coisas você não ama o ser humano. Você usa o outro ser humano. É uma coisa utilitária. Sabe por que eu amo alguém? Porque eu amo a bondade, a generosidade, e isso me preparou para amar outro ser humano que não eu mesmo. Porque uma pessoa que não tem amor por essas coisas sutis, por valores, ele não ama o outro. O outro é algo passageiro e superficial. Existe um autor romano chamado Cícero, que diz o seguinte: se amas e te tornas mais generoso, mais altruísta e mais atento aos problemas humanos, realmente amas. Se amas e te tornas mais egoísta, mais isolado e voltado apenas a teus interesses, não amas. Nem ama ninguém que assim o faça. Se você ama alguém realmente através daquela pessoa você ama mais a humanidade inteira, se torna melhor, mais íntegro, mais justo, coerente. Porque o verdadeiro amor, um ser humano é carnal para ele, mas ele não se limita àquele ser humano. O amor se expande a todas as direções. Então, ele qualifica aquele ser humano. Por isso, Platão falava que o amor primeiro sobe, vai até os valores, vai até as virtudes, depois ele desce até o ser humano. Se ele é uma relação horizontal que vai ao outro ser humano, ele se torna uma relação de troca.”

 

Essa foi a versão reduzida do Na Trilha da História. O episódio completo tem 55 minutos e traz, além da entrevista, na íntegra, com a filósofa Lúcia Helena Galvão, músicas que têm tudo a ver com o amor. Para ouvir, acesse: radios.ebc.com.br/natrilhadahistoria. E se você quiser enviar uma sugestão de tema para o programa, nosso e-mail é culturaearte@ebc.com.br. Até semana que vem pessoal!

 

 

Na Trilha da História: Apresenta temas da história do Brasil e do mundo de forma descontraída, privilegiando a participação de pesquisadores e testemunhas de importantes acontecimentos. Os episódios são marcados por curiosidades raramente ensinadas em sala de aula. É publicado semanalmente. Acesse aqui as edições anteriores.

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