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Mariana: Rio Doce e afluentes ainda têm cor caramelo devido à presença de rejeitos

Tragédia de Mariana
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Sumaia Villela
07/11/2017 - 10:59
Brasília

Nos cerca de 110 quilômetros de curso d'água mais atingidos pela lama da Mineradora Samarco, o rejeito ainda é encontrado. A luta para limpar a água dos rios fica ainda mais difícil agora, no período chuvoso, quando a erosão aumenta e o rejeito cai na água, dando uma cor caramelo aos rios. Em muitas propriedades, agricultores que tiveram terenos soterrados já voltaram a plantar em cima do rejeito, como Rafael Arcanjo, de Gesteira, que refez o pasto do gado de leite.

 

Sonora: “Joguei uma terra e plantei por cima. Já fizeram análise, diz que não é tóxico. Vamos ver pra frente o que vai acontecer. Não tenho muita certeza”.

 

A água do rio, no entanto, ainda não é usada pela família de Rafael. Antes, era onde o gado matava a sede. Por isso, a água para consumo humano precisa ser dividida com os animais, segundo Adelina Aparecida Coelho Rola, esposa de Rafael.

 

Sonora: “O meu irmão me dá água dele para casa. De noite, eu lavo roupa, lavo casa de noite, e, durante o dia, eu deixo para os bois. Só lavo o que eu preciso. Porque não tem outra água.”

 

A Samarco garante que o rejeito continha apenas minério de ferro e areia. A Fundação Renova diz que os metais pesados encontrados por pesquisadores têm origem no histórico de degradação da Bacia do Rio Doce. É o que afirma Juliana Bedoya, líder de Manejo de Rejeito da Renova.


Sonora: “Quando a onda de lama veio ela se misturou com sedimento que estava no fundo do rio. Temos histórico de degradação do rio ao longo dos anos, com presença de garimpo ilegal, utilização de metais pesados, a própria utilização de agrotóxico de forma indiscriminada, é por isso que a gente tem tanta cautela em tratar dessas questões.”.


A funcionária da Renova argumenta que a qualidade da água já está reestabelecida, mas avisa que não existem informações sobre o impacto de longo prazo do consumo de água e de alimentos plantados no rejeito. Para impedir que esse material continue indo para os afluentes do Rio Doce, a Fundação Renova, financiada pela Samarco, precisa fazer obras que evitem a erosão. O objetivo final é fazer o reflorestamento da mata que fica nas margens dos rios.

 

A Operação Áugias, do Ibama, fiscaliza as ações para identificar se a plantação já pode começar. O último relatório, de outubro, conclui que, em mais da metade dos 113 afluentes, ainda não é possível fazer o plantio. O superintendente do Ibama em Minas Gerais, Marcelo Belisário Campos, afirma que houve avanços em relação à última fiscalização, mas, em 20 afluentes, o caso é grave.

 

Sonora: “Ou as intervenções não foram adequadas – por exemplo, um rio que dava volta você construiu ele reto, foi feito um canal. Ou mesmo um afluente que não sofreu intervenção.”

 

A Renova afirmou que seguirá as recomendações do Ibama. No outro extremo, existem consequências no Espírito Santo, a aproximadamente 670 quilômetros de Mariana. Na foz do Rio Doce e em parte da costa, a pesca está proibida pela Justiça, e os peixes estão contaminados com metais pesados. O presidente da Associação dos Pescadores do distrito de Regência, Leônidas Carlos, afirma que a situação é desesperadora, inclusive com aumento de alcoolismo entre os pescadores.

 

Sonora: “Hoje você chega numa praia dessa que está no meio do rio, onde tem uma 'profundidadezinha' tem 20 palmos de lama de fundo. Onde tem aquela lama tem o peixe que fica na lama. A tainha, o caçari, a corvina, o camarão, o siri. Esses peixes todos estão contaminados.”

 

O Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) monitora o pescado da região. No ano passado, os pesquisadores encontraram metais pesados na água e nos peixes. E, neste ano, o último relatório, ainda não publicado, mostra que a concentração de cádmio e cromo ainda está alta, embora a contaminação por outros metais tenha baixado. Quanto à água, a Renova sustenta que os níveis já estão semelhantes ao de antes da tragédia. Até que isso seja resolvido, os pescadores dizem que ficam sonhando com os dias em que o peixe estava à mesa da comunidade.

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