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Após 25 anos, parentes das vítimas de chacina de Vigário Geral ainda enfrentam dificuldades 

Vigário Geral
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Raquel Júnia
29/08/2018 - 13:47
Rio de Janeiro

A fala é de Iracilda Toledo. Já faz 25 anos, mas é impossível para ela esquecer todos os detalhes. O marido que saiu para comprar os cigarros e perdeu a vida era o ferroviário Adalberto de Souza, uma das 21 vítimas da Chacina de Vigário Geral.

 

Em 29 de agosto de 2003, policiais encapuzados mataram quem encontraram pela frente na favela da zona norte do Rio.

 

Dona Iracilda, hoje com 61 anos, é presidente da Associação dos Familiares das Vítimas da Chacina. Ela reclama que 25 anos depois, muitos parentes vivem com dificuldades porque a pensão que recebiam do estado, que assumiu a culpa pelo crime, está sendo paga apenas até a data em que as vítimas da chacina completariam 65 anos.

 

No mês que vem, os três salários mínimos que sustentam Dona Iracilda devem parar de ser pagos, realidade que já atingiu outras famílias.

 

O pagamento das pensões foi definido pela Lei 3.421, de 16 de junho de 2000, à época, segundo Iracilda, os parentes acreditaram que o pagamento seria vitalício e depois foram tendo aos poucos a infeliz surpresa.

 

Se vivo, o ferroviário Adalberto completaria aniversário de 65 anos neste mês. Iracilda pretende questionar a perda da pensão na justiça.

 

Dez anos depois de Vigário Geral, Maria Dalva Correa, hoje com 64 anos, não esperava que a tragédia se repetisse tão perto dela.

 

Maria Dalva perdeu o filho Thiago da Costa Silva, no crime que ficou conhecido como Chacina do Borel, também na zona norte do Rio. Ele era mecânico e tinha 19 anos.

 

Desde então, a luta é o que a mantém viva, criou com outras mães o movimento Posso me Identificar e faz parte também da Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência.

 

Para ela, o Estado não aprendeu as lições deixadas pelas chacinas de Vigário, do Borel e de tantas outras.

 

A indenização e a pensão para a família de Dalva foram confirmadas pela Justiça apenas em 2012, 9 anos depois da chacina.

 

Mas até o momento, apenas a nora e a neta recebem uma pensão baseada no salário que Thiago recebia em 2003, portanto, em um valor defasado que não ultrapassa os R$ 200.

 

As indenizações, que devem ser recebidas por Dalva, o marido, o outro filho dela, a nora e a neta, ainda não foram pagas.

 

* Título atualizado às 14:57 para corrigir nformação. Em lugar de chacina da Candelária, o texto faz referência à chacina de Vigário Geral. 

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